Bartolomeu Campos de Queirós ganhou, por unanimidade do júri, o IV Prêmio Iberoamericano SM de Literatura Infantil e Juvenil, que lhe será entregue em dezembro próximo, durante a Feira do Livro de Guadalajara no México!
Segue, abaixo, o texto que a Marisa Lajolo gentilmente cedeu e com o qual, como membro do Júri, o apresentou à imprensa (mexicana), durante a proclamação dos resultados.
Bartolomeu Campos de Queirós - Bartô como tão carinhosamente é chamado pelos amigos- nasceu há sessenta e quatro anos, numa cidadezinha de Minas Gerais: cidadezinha qualquer, sem mar e sem praias, porém com um mar de montanhas a seu redor. Hoje, Bartô vive em Belo Horizonte.
Sua estréia na literatura deu-se em 1974, com a obra O peixe e o pássaro . Já este seu primeiro livro ganhou de imediato um dos mais importantes prêmios brasileiros para livros infantis: o Selo de Ouro outorgado pela Fundação Nacional Livro Infantil e Juvenil, a seção brasileira do IBBY.Este seu livro já fala dos espaços largos, da beleza da vida , do miúdo e do cotidiano de que continua, até hoje, a ocupar-se sua literatura
Em seus mais de 30 anos de dedicação à literatura, Bartô publicou quase meia centena de livros: alguns estão traduzidos para outras línguas, e muitos ganharam prêmios importantes, dentro e fora do Brasil.
Alguns títulos dos livros de Bartolomeu já assinalam o caráter exigente, profundamente plástico e sensorial de toda sua obra: Entretantos, Antes e depois, Até passarinho passa, Para ler em silencio, A rosa dos ventos . Outros títulos sublinham a intensa musicalidade de sua literatura. Fruto de exigente trabalho com a linguagem, muitas vezes a obra de Bartolomeu se aproxima dos ritmos da poesia: trocadilhos e repetições envolvem os leitores: De não em não, O guarda chuva do guarda, Formiga amiga, Pé de sapo e sapato de pato.
Há mais ou menos dez anos, quando a literatura infantil começou a fazer-se presente na universidade brasileira, a obra de Bartolomeu inspirou não poucos mestrados e doutorados . Investigando na produção do escritor mineiro temas como o lúdico, o misterioso, o maravilhoso, ou o sentido do sagrado , os trabalhos universitários testemunham a altíssima qualidade da literatura de Bartô, qualidade que este IV Premio Interamericano SM acaba de ratificar .
Em uma tradição tão rica como a em que se inscreve a literatura infantil brasileira – temos duas escritoras premiadas com o Hans Christian Andersen- o prêmio agora atribuído a Bartolomeu tem uma imensa importância : sublinha, por um lado, a identidade latino-americana da cultura brasileira: como um dos poucos países de nuestra América nos quais o espanhol não é a língua oficial, algumas vezes a ultima flor do Lácio que nos exprime nos separa de nossos irmãos de continente.
Por outro lado, o reconhecimento de nossa ibero-americanidade – proclamada e firmada pelo prestigioso prêmio que ora se confere ao autor de Sete Luas e de Ciganos - é uma importante porta para que todos os autores ibero-americanos, e com eles os leitores, viajem do português para o espanhol e vice-versa e assim a literatura contribua cada vez mais para a percepção da beleza das identidades mestiças e em trânsito, como são todas as identidades ibero-americanas.
Marisa Lajolo