Meus caros!
O Vice-Versa completa 4 anos neste mês de agosto. Apresentamos as entrevistas da escritora Maria Amalia Camargo e da ilustradora e escritora May Shuravel, ambas associadas da regional paulista da AEILIJ.
Obrigada, meninas. Parabéns!
Um beijo, pessoal!!!
Regina Sormani
Maria Amalia Camargo
May Shuravel (ilustração de Maria Eugênia)
Respostas de Maria Amalia
1 - O que você lia, quando criança? Tinha livros em casa? Frequentava alguma biblioteca?
Lia muito gibi, em especial da Turma da Mônica. Ah! E muitas histórias sobre animais, de um livrão chamado Maravilhas e Mistérios do Mundo Animal. E lia a relia os livros da Fernanda Lopes de Almeida e da Ruth Rocha. Mas apesar de adorar o “Sítio do Pica-pau Amarelo” na televisão tinha muita preguiça de ler Monteiro Lobato. Aliás, só comecei a lê-lo pra valer depois de adulta, quando decidi escrever para crianças. Sempre tivemos muitos livros em casa. De faltar lugar para guardá-los. Acho que por conta disso nunca fui uma frequentadora assídua de bibliotecas porque era possível achar de tudo naquelas estantes: culinária, botânica, história, religião, enciclopédias de todas as épocas...
Bem, na verdade eu frequentava a biblioteca da escola às sextas-feiras e um dos empréstimos que mais me marcou foi uma adaptação da Ana Maria Machado para o Sonho de uma Noite de Verão.
2 - Quando foi que você se deu conta de que poderia escrever livros para as crianças? Antes disso, pensou em escolher outra atividade profissional?
Quando eu estagiava no serviço educativo do Museu de Arte Contemporânea da USP escrevia para crianças e professores sobre as obras e os artistas do acervo. E ali também eu convivia com alunos de 5 a 12 anos que chegavam para as visitas escolares. Desde então, fiquei com essa vontade: fazer ficção para crianças. Mas faltava coragem de dar o primeiro passo: escrever. Só depois de seis anos e muitas indefinições profissionais é que resolvi colocar as ideias no papel e descobri, finalmente, com o que eu queria trabalhar.
Antes de prestar vestibular para Letras minha grande vontade era ser artista plástica. Depois cenógrafa, fotógrafa, pesquisadora de arte... Aí, entrei em Letras e pensei em virar publicitária. Fiquei desanimada durante a faculdade porque não conseguia me decidir e resolvi que eu precisaria de menos sonhos e de um diploma. Um ano depois de ter me formado em Letras, pensei seriamente em usar meu diploma como jogo americano na mesa de jantar e fazer faculdade de Biologia.
3 -Qual o primeiro texto seu que foi aprovado e publicado por uma editora? Você ainda lembra qual foi a sensação de pegar o livro prontinho, pela primeira vez? Agora, com tantos belos livros já publicados, mudou alguma coisa?
Foi o Laranja-pera, couve manteiga, publicado em 2006 pela editora Girafinha. Fiquei encantada quando vi as ilustrações originais do André Neves. Cada PDF que a editora mandava para eu acompanhar era uma surpresa. Então, o que mais me marcou quando peguei o livro pela primeira vez em mãos, não foi tanto o visual, mas o cheiro!
4 - Tuas histórias, sempre muito engraçadas, são cheias de brincadeiras com palavras e com expressões populares, como no teu último livro, "salada de letrinhas". Você parte de algum tipo de pesquisa para escrever, ou apenas solta a franga e manda bala? Escrever é fácil? E ser escritora é fácil?
O que eu mais gosto, além de escrever, é pesquisar. Sempre abro o dicionário tentando descobrir uma palavra ou uma expressão nova. Gosto também de prestar atenção no que as pessoas falam. Tenho vários cadernos de anotações cheios dessas pesquisas. É quase impossível começar a escrever do zero, soltando a franga. Bem que eu gostaria...
Uma das grandes dificuldades que eu encontrei quando comecei a escrever para crianças foi abandonar a linguagem acadêmica que demorei anos para aprender na faculdade e adaptar o discurso escrito para o público infantojuvenil. Escrever não é nada fácil porque existem mil jeitos de se contar uma história. E não dá pra ser de uma maneira pomposa nem simplória. A dificuldade está em achar o equilíbrio.
Ser escritora neste país não é nada fácil. Pior ainda ser escritora de literatura infantojuvenil. Além de ganharmos mal, nossa literatura ainda é vista como um gênero menor – ou como um não-gênero. E, fala a verdade, May: ganhamos mal – quando temos a sorte de receber alguma coisa – e “ser escritor” ainda é uma profissão vista como hobby. A única coisa que consola é trabalhar com aquilo que a gente gosta!
Respostas de May
1 - E você, May, o que lia quando era criança? E o que lia para seus filhos quando eram pequenos?
Quando ainda era minha mãe quem lia pra mim, lembro de poucos: “Juca e Chico”, de W. Busch, tradução de Olavo Bilac, o meu preferido! “The adventures of Mr. Toad”, uma adaptação de “The wind in the willows”, de Kenneth Grahame, feita pelos Studio Disney(estão aqui do meu lado, por isso “lembro” bem,rs.) Um outro que eu adorava era “os pimpolhos”, uma história sobre um casal de irmãos, que eu acreditava seriamente ser algum tipo de profecia sobre o que aconteceria em breve com meu irmão e comigo, e não sei se a profecia se cumpriu porque não lembro nadinha da história. E Andersen, e Irmãos Grimm, e Mother Goose, e Histórias da Carochinha, livros muito antigos, que tinham sido de minha mãe. E depois veio Monteiro Lobato, claro. E aí eu já sabia ler, não precisava mais esperar a hora de dormir pra ouvir histórias, maravilha!
Naquele tempo, nada de literatura infantil na sala de aula. Nenhuma adoção, nenhum incentivo pra se visitar a pequena biblioteca, muitos nem sabiam onde era. Felizmente, meus pais se encarregaram de abrir as portas desse mundo pra mim...
2 - Como se deu a passagem da Arquitetura para a Literatura infanto-juvenil?
Bem, a Arquitetura eu nem vi, rs. Escolhi estudar na FAUUSP, já sabendo que jamais me tornaria arquiteta. Era uma ótima escola pra quem queria estudar mas, ainda não sabia o queria ser quando crescesse, e de lá saíram muitos fotógrafos, escritores, bailarinos, ilustradores, músicos, sociólogos, cozinheiros, etc. O mais conhecido crítico gastronômico de Sampa estudou lá,rs. Até mesmo alguns arquitetos e urbanistas se formaram pela FAU... Meu trabalho de graduação foi sobre ilustração. Bem ruinzinho, aliás. Ninguém teorizava sobre o assunto, na época. Nada de bibliografia, além de alguns livros sobre estética comparada, e ninguém para orientar. Acho que só fui aprovada por falta de professor com conhecimento do assunto. Depois de formada, passei a dar aulas de desenho e comunicação visual, e desenhava, e pintava, e lia muito. E sonhava em ilustrar, mas textos adultos, aquilo que eu lia. Dei sorte, conheci o editor Massao Ohno, que publicava heroicamente livros de poesia, e ilustrados. Trabalhei com ele por um bom tempo. Quando surgiu o primeiro convite pra ilustrar livro para crianças, quase recusei, de medo. Não conhecia crianças, nem livros para crianças, além dos lidos na infância. Mas acabei aceitando, e deu certo, e gostei da brincadeira.
3 - Se você pudesse escolher algum autor ou alguma obra – de qualquer época - para ilustrar, qual seria? E se você pudesse escolher um artista para ilustrar um texto seu, quem seria?Quando você começou ilustrar a escrever suas próprias histórias? E o que é mais divertido - e menos difícil: escrever ou ilustrar?
Vou escolher entre os mortos, que não podem reclamar: gostaria de ilustrar algum poema do Federico Garcia Lorca. Ou da Elizabeth Bishop. Ou do Alphonsus de Guimarães. Ou um conto do Dalton Trevisan. Para ilustrar texto meu, quero Edward Gorey. Ou Edmond Dulac. Ou...difícil, ein? Tanta gente maravilhosa... Quem sabe um ilustre ilustrador de primeira viagem, pra ter uma surpresa!
Comecei a escrever depois que tive meus filhos. Inventava histórias pra eles todas as noites, todos os dias ilustrava histórias dos outros, para as editoras. Daí...
Eu não acho nada muito divertido, tenho grande dificuldade pra fazer as duas coisas, sofro, me descabelo, fico com medo de não conseguir um resultado decente. Mas é bom, é muito bom. Com toda a angústia que acompanha o processo, é bom.
4 - Existe alguma fórmula mágica para aproximar a criança da leitura?
Algum encontro em escola ou alguma oficina com o público infantil te marcou de forma especial?
Acho que a maneira mais simples é fazer o que meus pais fizeram comigo: contar histórias, colocar livros nas mãos das crianças. O que, na verdade, não é nada simples num país como o nosso. Em quantas casas brasileiras existem pais alfabetizados, mais que isso, leitores, mais que isso, com tempo disponível e condições de ter um livro nas mãos para apresentar para as crianças? O acesso ao livro ainda é muito limitado, mesmo com as compras de governo. As bibliotecas são poucas, e os professores, em sua grande maioria, também não tiveram a oportunidade de se aproximar da literatura. Não são leitores. Como é que alguém que não lê, que não teve o privilégio de ser contagiado pela literatura, vai conseguir formar leitores? E a tarefa está nas mãos deles... Quando é que vai se começar a investir seriamente na formação desses professores? Quando é que essa profissão vai ser valorizada, em todos os aspectos?
Quanto aos encontros com o público infantil, já fiz muitos, e todos foram especiais, cada um à sua maneira. Até mesmo quando são mal planejados (o que, felizmente, é raro), quando as crianças nem ao menos conhecem algum livro que a gente escreveu, nem sabem o nome do autor e o que ele foi fazer ali, é só começar a ler uma história, e tudo dá certo, e tudo vira mágica...mesmo que só por um instante.
Postado por Regina Sormani às 18:28
2 comentários:
José María Souza Costa16 de agosto de 2012 13:12
Vimlhe deixar este convitePassei por aqui, para lê o seu blogue.
Admirável. Harmonioso. Eu também estou montando um. Não tem as Cores e as Nuances do Vosso. Mas, confesso que é uma página, assim, meia que eclética. Hum... bem simples, quase Simplória. E outra vez lhe afirmo. Uma página autentica e independente. Estou lhe convidando a Visitar-me, e se possível Seguirmos juntos por Eles. Certamente estarei lá esperando por você, com o meu chapeuzinho em mãos ou na cabeça.
Insisto que vá Visitar-me, afinal, o que vale são os elos dos sorrisos.
www.josemariacosta.com
José Edward Guedes16 de setembro de 2012 03:32
Nilza é sempre aquele show, tanto em verso como prosa!