Terça-feira, 31 de Março de 2009
Tânia Martinelli
Telma Guimarães
Tânia Martinelli pergunta para Telma Guimarães:
1- “Rita está crescendo” é seu primeiro livro juvenil. Você estava começando sua carreira literária e já de cara estreou com um livro que fez, e ainda faz, tanto sucesso. Hoje há muitos livros falando das transformações na adolescência, mas em 1989, ano da 1ª edição, isso não era muito comum, certo? Acredita que tenha escrito o livro por sentir falta de uma literatura mais envolvente para o adolescente?
Na verdade “Rita está crescendo” é o meu próprio diário, as coisas que eu pensava, fazia, quais eram as minhas “neuroses” de adolescente. Meus filhos estavam entrando na adolescência e percebi que as dúvidas e as encucações eram as mesmas daquela época. Então reli meus diários e depois de dar umas boas risadas, reescrevi de forma mais moderna. Claro que só isso não bastava. E aí entra a criatividade do autor, com uns “molhinhos”, umas graças, enfim.
2- Como divide seu trabalho entre tantas publicações diversas: livros de literatura, didáticos, dicionários, livros em inglês e espanhol, além das palestras que costuma fazer?
Bem, Tânia, como Inglês é a minha segunda língua (fui professora de Inglês e aluna de intercâmbio nos Estados Unidos), acho uma delícia escrever nesse idioma. Normalmente faço as duas coisas no mesmo dia, Português e Inglês. É um exercício bom pra caramba, pois enquanto trabalho, estou em dia com a Língua Inglesa e ainda, de quebra, aprendo expressões novas, gírias, phrasal verbs. Compro muitos livros em Inglês e com isso, aproveito para ver o que há de novo por aí afora.
3- Você foi professora durante muitos anos. Acredita que o contato com os adolescentes foi um ponto importante ao se tornar uma autora para esse público?
E como! O “Redações perigosas”, por exemplo, nasceu na sala de aula. Uma pena eu ter pedido a exoneração de meu cargo, mas eu não conseguia mais conciliar as duas coisas: livros e alunos. Além do mais, o salário era terrível. Infelizmente, nada mudou até hoje.
4- Bote a boca no trombone: o que mais a incomoda na profissão?
• Pedido de livro para doação (tudo bem que a minha casa tem jeito de Casa da Mãe Joana, mas as pessoas pensam que ganhamos rios de dinheiro e rios de livros e daí vem o abuso). Normalmente eu faço doações, sim, mas para as entidades, ONGs que precisam mesmo.
• Escola que ao receber um livro para análise, encaminha-o para a biblioteca devidamente carimbado. Depois manda cartinha aos pais dizendo que “comprou livros para o acervo...”
• Escola que resolve “aproveitar” a sua visita e insiste que fale com os alunos que “nunca te viram, nunca te leram” e nem sabem o que você está fazendo ali.
• A demora na leitura de originais. Não só com os meus textos, não. Mas a lentidão na leitura de autores novos, criativos. Tem tanta gente boa sem oportunidade!
• Chamar livro infantil de “livrinho”.
Telma Guimarães pergunta para Tânia Martinelli:
1- Eu e minha neta Júlia amamos o “Pontos na barriga”. Quando você pensou no texto já sabia começo, meio e fim ou as idéias foram surgindo durante o andamento da história?
Eu tinha a ideia principal na minha cabeça: escrever a história de um menino que perguntava demais e ao mesmo tempo brincar com os sinais de pontuação. Mas não sabia como a história terminaria ao certo. Ela foi acontecendo. Em muitos livros meus é assim: tenho uma sinopse na minha cabeça (e no papel também), mas muita coisa vai surgindo no meio do caminho.
2- Alguma ilustração a deixou descontente? Se afirmativo, havia pensado num outro traço? Costuma indicar ilustradores?
Já aconteceu, sim. Por exemplo, antes de o “Pontos na barriga” ter a ilustração que tem, a editora havia escolhido um outro ilustrador e me enviado alguns esboços para eu avaliar. Não gostei do traço, tinha pensado o Filipe de um jeito mais solto, mais moderninho e ele estava tão, tão formal! Então, pedi para que trocassem. E aí eu gostei. Num outro livro aconteceu de o ilustrador não fazer a personagem (e mais alguns detalhes) do modo como estava descrito no texto. Mas ainda bem que deu tempo de consertar. Às vezes, indico algum ilustrador, mas geralmente é a editora quem indica.
3- Que tipo de pesquisa fez para escrever “A rua é meu quintal”? Alguma coisa mudou em você depois que escreveu a história?
A rua é meu quintal nasceu da minha experiência de professora numa escola da periferia de Americana, cidade onde moro. Alguns alunos faltavam muito às aulas para ficarem na rua pedindo esmolas. Conheci professores que tentavam ajudar, conheci pais que não davam a mínima se o filho faltava ou não, convivi cara-a-cara com essa realidade e não foi fácil. Escrever esse livro foi um jeito de eu colocar para fora minha indignação por ver tantas injustiças e também um jeito de mostrar que as coisas podem ser diferentes se você lutar para isso.
4- Escreve a mão ou utiliza o computador o tempo todo? Anota muito? A Tânia que a gente não conhece é.....
Sem dúvida, o computador. Só sei trabalhar assim. Mas fico com papel e caneta do lado anotando coisas: títulos dos capítulos, cenas, personagens ou mesmo alguma ideia que tenho que guardar para mais tarde. Um monte de rabiscos que depois de terminada a história vão direto para a lata do lixo.
A Tânia às vezes é bem introspectiva, na dela, fica pensando, pensando... buscando um sentido. Não é de puxar papo nas salas de espera de médicos, na fila do supermercado ou em qualquer outra. Fica achando que tem ainda tanta coisa para alcançar, que se esquece de ver aquilo tudo que já alcançou. Apesar disso, agradece sempre a cada conquista. Mas que fica sempre querendo mais... ah, isso fica.
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