quarta-feira, 9 de setembro de 2009

SP: Vice-Versa de Agosto de 2009

Domingo, 2 de Agosto de 2009

JP Veiga

Hardy Guedes


Hardy Guedes entrevista JP Veiga

1) Caro JP! Quando conheci você, na lista de discussão da AEI-LIJ, achei que a ilustração, unicamente, era a sua praia. Depois, fiquei sabendo que você também escreve. Qual das duas artes aconteceu primeiro na sua vida e em qual delas você se sente mais à vontade?

Pois é, sou um desenhista que escreve - comecei desenhando, pintando e ilustrando. Vendi meu primeiro trabalho aos 5 anos (meu tio adorou um desenho e queria porque queria o danado!!! e eu não dei, eu "vendi!") Sempre desenhei, fiz Arquitetura e Licenciatura de Desenho e Plástica, mas nunca exerci nada disso - tive e tenho atelier de desenho. Sempre escrevi poesia e, quando fui socio de uma Editora de livros de pano, me aventurei na escrita para crianças. Acabou dando certo. Hoje escrevo e desenho, é só a ocasião pedir! Escrevo também para os chamados "adultos", como sou Diretor de Arte, escrevo discursos, roteiros, contos, romances, escrevo de tudo um pouco.

2) Quando você vai ilustrar um livro, certamente lê a história para se inteirar do tema. Depois desse primeiro passo, como surge a inspiração para desenvolver o seu trabalho? Você viaja por imagens de sua infância, por outras referências ou procura algum caminho totalmente inexplorado?

Eu leio e leio e leio e deixo de lado - aí pego papéis, monto um livrinho e vou rabiscando em cada página as idéias - rabiscando sem compromisso que não o de colocar ali as idéias; quando todo ele está pronto - definido em rabiscos e anotações, decido a técnica e começo a ilustrar. As imagens sempre são, o que costumo dizer: resultado de muita observação. Qualquer criação é a saída de uma informação que entrou. Por isso, ler é a coisa mais importante para um ilustrador - Você fantasia e vive a história que lê, aí pode viver e fantasiar a história que vai ilustrar!

3) O que você considera fundamental no trabalho de um bom ilustrador? Que “estrela” deve nortear todo aquele que quiser seguir por esse caminho?

Bem... posso dar apenas a opinião de quem leu de bula de remédios a O capital, de Luluzinha a Gil Brás de Santilhana. Li e leio de tudo, sem escolher, sem prestar a atenção ao que dizem os criticos, de uma forma atabalhoada e doida, e lá atrás, saí desenhando... Desenhei no necrotério, no parque, em todos os lugares onde ando, eu desenho - levo meu kit aquarela e, como quem fotografa, eu desenho. Acho que isso, viver a coisa, é o segredo de se seguir esse caminho. Agora, estudar, artes, técnicas, modelo vivo, escultura, gravura, todos os tipos de arte, estudar muito, isso, é mais que o caminho, é, parafraseando o doido do Raul Seixas, pelas palavras do Paulo Coelho: estudar é o inicio, o fim e os meios!

4) Finalmente, como é de praxe, fica um espaço livre para você dizer tudo o que vai na alma: as broncas, as frustrações, sem deixar de reservar um cantinho para as esperanças, os sonhos e os projetos novos.

Eu preferia falar sobre sonhos.
Eu sonho em ter de novo uma editora. Poder publicar em todo Brasil, fazer livros de ótima qualidade a preços baixos; de forma a que mais crianças possam ter acesso à boa escrita e bom desenho. De maneira que, não se precise torcer para entrar num pacote de compra do governo para sobreviver. Eu sonho em poder, talvez, juntar amigos daqui da nossa turma e fazer uma editora que valorize o autor e o ilustrador de uma maneira única! e com isso a produção ser a melhor possível. Eu sonho em poder trabalhar de novo recebendo textos, ilustrações, preparando livros. Eu sonho mesmo...


JP Veiga entrevista Hardy Guedes


1) - O que te levou ao universo infantil? A trabalhar para crianças?

De certa forma, nada me levou ao universo infantil. Ele permaneceu em mim, especialmente porque tive uma infância feliz, divertida, cheia de brincadeiras vividas, inventadas... A vida, a necessidade de sobreviver e se sustentar, a pressão para tornar-se adulto não-raro adormece a criança dentro de todos nós. Redescobrir ou despertar a nossa eterna criança interior talvez seja uma das coisas mais necessárias, para se melhorar o mundo. Penso que só materializei essa “redescoberta” quando nasceram as minhas filhas. O meu lado compositor me levou a compor canções para elas e, um pouco depois, a escrever.

2) - Como é isso de compor uma música ou escrever uma história? Quando você tem uma idéia, o que você tem junto a essa idéia - fazer um livro ou compor uma música?

Compor, para mim, é um dos atos mais espontâneos, eu creio. É que desde criança, ouvia muito a Rádio Nacional e sempre me fixava mais no compositor (especialmente nas letras), do que na música e no intérprete. Acho que sempre tive uma ligação forte com a PALAVRA. Por incrível que pareça, quando toquei pela primeira vez as cordas de um violão, eu disse pra mim mesmo que seria compositor. Durante muito tempo, me dediquei exclusivamente à música, embora eu nunca tenha estudado. Passei a escrever mais tarde. Acho que a diferença entre a música e o conto reside no fato de uma canção ter um formato mais compacto, mais direto, onde é preciso dizer-se muito com poucas palavras. No conto, não é preciso se economizar tanto nas palavras, mas deve-se, também, viajar no espaço das folhas, acrescentando caminhos, oferecendo atalhos; mantendo-se, sempre, um ritmo, como na música, para a leitura ser agradável. A temática, normalmente, está atrelada à necessidade que tenho de dar opinião sobre tudo e de extravasar o que sinto. Quando tenho uma idéia, por incrível que pareça, ela já chega pré-determinada: isso vai ser canção, isso vai ser livro.

3) - Como é trabalhar sendo Editor, Músico, Escritor, Empresário... Como é essa coisa de estar em todas as posições, conhecer todos os lados de um livro, de uma música, de uma gravação, impressão! Como fica você no meio disso?

Eu encaro bem tudo isso. Acho até interessante, porque não faço uma coisa só o dia inteiro. Embora eu seja uma pessoa sossegada exteriormente, intimamente sou muito agitado. Estou sempre pensando em algo novo e sempre em busca de novidades que me encantem. A minha idéia, ao me atirar no mercado editorial, foi a de sempre criar produtos que possam levar as informações culturais que julgo importante para as crianças e para as escolas. Mas com pouco capital é complicado. Acredito que o grande problema do Brasil é cultural. O dia em que as escolas transmitirem mais CULTURA e menos conteúdos programáticos, a educação estará salva. Principalmente se destacarem a CULTURA BRASILEIRA, para que possamos formar um caráter nacional e nos transformarmos, verdadeiramente, numa NAÇÃO. Sem abrir mão, é claro, da troca de informações com as culturas dos demais países, porquanto é enriquecedora. Mas é preciso haver uma triagem.

4) - Sei que, a todos nós que trabalhamos no meio editorial (seja escrito ou tocado) a pirataria afeta diretamente... O que você vê como saída? Bem, essa era pra ser a pergunta boca no trombone, mas não resisti em saber suas idéias a esse respeito! Pode falar o que quiser!!!

Analiso a pirataria em duas frentes:

1) No caso dos livros, à exceção dos sites que podem disponibilizar os livros “de grátis” ou cobrando, não vejo representatividade nas xerox. O custo das cópias coloridas é muito caro e não vale a pena pra ninguém.

2) No caso dos CDs e DVDs, a culpa é dos altos impostos, da legislação, que não abre o mercado para a regionalização e das próprias gravadoras. Há 25 anos, tento encontrar um deputado federal ou senador que apresente uma proposta tornando obrigatória a execução de músicas gravadas em cada estado, nas rádios do próprio estado. Penso em 25%. Isso além de gerar mais trabalho e renda em cada região do Brasil, se complementado pelo incentivo à criação de cooperativas, iria tornar os músicos empresários de si mesmos. Cada um fiscalizando a sua região e combatendo a pirataria com força e com um número razoável de “fiscais”. Mas as grandes gravadoras não têm interesse em dividir o mercado legalmente. Pelo jeito, devem lucrar com a pirataria, pois é assim que preferem trabalhar.

A idéia da cooperativa vale também para os autores.

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