O Vice-Versa em sua missão de aproximar os associados da AEI-LIJ, traz, neste mês, as escritoras:
Sandra Pina (Rio) e Marilza Conceição (Paraná).
Apreciem esse gostoso bate-papo.
Sandra Pina
Marilza Conceição
Marilza Conceição pergunta para Sandra Pina:
1 - Sandra, quem nasceu primeiro a escritora ou a contadora de histórias?
Eu costumo dizer que um escritor é um contador de histórias, a diferença é que a gente conta histórias por escrito. (rs) Na verdade, acho que a escritora nasceu porque a Sandra já gostava de contar uma história desde que era criança... Afinal, não é disso que é feita a nossa vida? Das histórias que a gente vai acumulando na memória e recontando?
No fundo, no fundo, a escritora só veio depois, porque eu precisava primeiro aprender a escrever...
2 - Já aconteceu de alguma situação real, ter vindo parar numa de suas histórias?
Acho que em toda história que eu escrevo tem alguma cena que eu presenciei, ou me contaram, ou li a respeito... Mas nunca exatamente do jeito que aconteceu. Ou seja, eu preciso desse arsenal de memória para poder recriar. Na verdade, o que a gente chama de "real" é o que serve de inspiração, é o gatilho que faz nascer toda uma trama, o perfil de um personagem, ou um cenário. Mas, veja bem, é inspiração. Nunca coloquei uma cena "real" na íntegra (se fizesse isso, estaria fazendo um texto jornalístico), entretanto um escritor precisa de referenciais para criar uma história. Mesmo aquelas histórias que se passam num universo completamente fantástico.
3 - Você acha que os escritores de Literatura Infanto Juvenil devem abordar os problemas sociais, políticos e econômicos, realidade que nos afeta no dia a dia? E acredita que a literatura pautada na realidade, pode excluir o lado lúdico da história?
Não vejo nenhum tema que não deva ser abordado pela literatura, seja ela infantil, juvenil ou adultil. O que nós, que escrevemos para crianças e jovens precisamos atentar é para a forma. Me refiro à teoria da comunicação, onde você tem o emissor, o receptor e a mensagem. Se a mensagem não for intelegível para o receptor, ela não será compreendida. Quando escrevemos para crianças e adolescentes, precisamos ter o cuidado de ser compreendidos. E isso não significa, de modo algum, fazer um texto "infantilizado" ou "didatizante". Significa entrar no universo do leitor e falar/escrever de uma forma que ele compreenda, respeitando suas referências. É que nem bula de remédio:algumas são escritas de um modo que um leigo jamais entenderá a que se destina o remédio.
Eu acredito que a literatura tem uma função de fazer o ser humano entender melhor o mundo que o cerca, por isso não creio que existam questões que não devam ser abordadas por livros para crianças.
Quanto ao lúdico... ele nunca deve ficar de fora. Acho que existe lugar para o lúdico tanto na literatura que escolhe a "realidade" como cenário/enredo, quanto em qualquer outra literatura. Aliás, pensando bem... será que existe literatura sem ludicidade??
4 - Se você tivesse uma máquina do tempo, que escritor(a) do passado você desejaria encontrar?
Bem... pergunta difícil essa... Sinceramente eu não sei se gostaria de encontrar com algum escritor do passado. Tudo o que eu quero saber sobre eles está lá, nas linhas que escreveram, nas entrelinhas do que ficou por escrever, nas pausas, nos parágrafos.
Muitas vezes pode ser decepcionante conhecer o ser humano por detrás do mito.
Acho que se tivesse uma máquina do tempo, preferiria ser transportada para um café no Quartier Latin, em Paris, para observar os encontros e as conversas "informais" dos intelectuais franceses, talvez.... ou assistir as peças de Shakespeare encenadas na Inglaterra vitoriana.
Sandra Pina pergunta para Marilza Conceição.
1. Em que momento da sua vida você percebeu que queria ser uma escritora? Que livro plantou essa sementinha na sua alma?
Desde pequena admiro a literatura e principalmente as poesias infanto juvenis.
Tive a sorte de estudar na escola em que a professora responsável pela biblioteca estimulava os alunos a conhecerem os livros. E a professora regente da classe, ensaiava apresentações de teatro com toda a turma.
Mas também reconheço em mim, premente, a vontade de ler e descobrir novas histórias.
Eu já estava encantada!
Preferia as aulas de Língua Portuguesa e costumava escrever textos ricos em detalhes, com ilustrações semelhantes à pintura Naïf, onde somente mais tarde me reconheci.
A atitude leitora foi mola propulsora da atitude escritora e desde então escrevo.
O escritor escreve!
2. O mestre Lobato disse aquela famosa frase: "quero escrever livros onde as crianças possam morar"... Em que lugar-livro você gostaria de morar? Qual é o seu cantinho imaginário da literatura preferido?
Gostaria que minha morada fosse no lugar-livro de Lewis Carroll, como personagem de Alice no País das Maravilhas. Identifiquei-me tanto com a história quando a li, que entendi perfeitamente as buscas e angústias de Alice. Então me tornei Alice. Percorria o longo quintal da minha casa, com horta e pomar, falando com flores, árvores e meu gato Miti-Miti.
O sótão era um cantinho mágico das histórias, onde lia os livros de literatura que emprestava da biblioteca. Meu cantinho imaginário da literatura preferido é debaixo da árvore onde aparece o gato sorridente da história de Alice.
É claro que também estive envolvida com todas as “Reinações de Narizinho”.
Meu quintal tinha um pouco de Sítio do Pica-pau Amarelo.
Eu “dava aulas” para os pés de couve, que nunca me respondiam nada, mas se mostravam atenciosos. E para as irrequietas galinhas, que se recusavam a ouvir minha leitura, por mais encantadora que fosse a história. Sempre achei-as desatentas demais para a poesia.
Aquela casa, lugar querido em que morei na minha infância, com seus cheiros e cores, existe hoje apenas na memória. Há anos o terreno foi vendido e em seu lugar construíram quatro torres de prédios que miram o centro da cidade. Na frente passa uma avenida que liga dois bairros.
3. Na hora de começar uma história nova, o que vem primeiro: personagem? narrador? enredo? cenário? tudo junto? nenhuma das possibilidades anteriores?
Na hora de começar história nova vem o personagem, determinado, assoprando em meus ouvidos o que quer que eu digite para que ele conte, denuncie, resolva comigo ou com os leitores. Segue-se o cenário onde acontece o enredo e o narrador organizando a contação.
4. Se você pudesse ser um personagem da literatura, quem seria?
Melhor fazer um sorteio no universo dos contos de fadas para me colocarem como personagem de uma das histórias de que mais gosto.
Poderia ser facilmente Alice com seus espantos corriqueiros, preparando-se para os novos, ou Emília, com sua curiosidade e invencionice.
Poderia ainda ser Chapeuzinho Vermelho, com sua independência, ou Maria irmã de João com sua coragem.
Ou ainda o Pequeno Príncipe, responsável por aquilo que cativa, mas também aceitaria com toda a pompa e circunstância, ser a Branca de Neve e todas as outras princesas, morando num castelo encantado, dançando em bailes, vencendo as adversidades para o encontro do amor e terminando a história, feliz para sempre.
2 comentários:
manuel marques31 de outubro de 2009 15:56
Um autêntico serviço público,parabéns.
Abraço.
ONG ALERTA2 de novembro de 2009 16:26
Sempre é bom fazer algo que possa ajudar a quem precisa, isso é um dom, somos todos personagens de uma vida, paz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário