A IMAGINAÇÃO POVOA O MUNDO
O mundo é povoado pelos seres da imaginação. Muitos nasceram ao redor de fogueiras, outros têm origem caseira; a maiêutica familiar.
A mãe é responsável pelo imenso acervo da imaginação.
Para proteger seus pimpolhos e para que as crianças se tornassem obedientes, elas criaram seres fantásticos que evitaram que seus filhos corressem perigos pelas ruas, terrenos baldios e matos avulsos.
O bicho papão, que recebe diversos nomes de acordo com a região, sempre assustou as criancinhas. A Cuca, na cantiga doce e suave de ninar, é o velho que põe crianças num saco e as come. Assusta. Também é a cuca um jacaré com cabeleira, uma bruxa. Cuidado com a Cuca!
Crianças desapareciam lá em Alagoas, e se espalhou por várias regiões a disseminação do medo do papa-figo.
Mas não são apenas os seres , também as superstições educadoras representam a incrível pedagogia materna que sem querer tanto enriquece a mente da criança.
Chinelo virado atrai morte na família, e pior, pode ser a mãe. Passar por debaixo da escada nem pensar (E pode realmente ser perigoso).
Nem todas as superstições foram inventadas pelas mulheres de casa. A coruja piando no telhado anunciando a morte de alguém da família provavelmente terá sido inventada por algum homem assustado que um dia relacionou a coincidência do seu canto com a morte de algum parente.
Quase todos os seres e as superstições de origem caseira surgiram para educar ou para disciplinar, para proteger, para salvar as criança de um mundo terrível, habitado por criaturas que devoram, que comem os pequenos. E elas estão lá fora, vagando noite adentro.
Algumas lendas urbanas talvez tenham essa função, talvez apenas assustem, como a loira do banheiro, lenda nascida no bojo da escola.
Temos outro mundo dentro do mundo, um mundo povoado e enriquecido pelos habitantes fantásticos.
MARCIANO VASQUES
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