Queridos aeilijianos,
Agradeço a participação das ilustradoras Marília Pirillo e
Sandra Ronca (AEI-LIJ RJ) no Vice-Versa de junho.
Grande abraço a todos,
Regina Sormani
Sandra Ronca
Marilia Pirillo
MARILIA PIRILLO ENTREVISTA SANDRA RONCA
1. Você nasceu em uma família de artistas, seu pai e sua mãe são pintores e você cresceu convivendo com a arte. No entanto sua primeira opção profissional não foi artes, né? Por que você acha que isso aconteceu? Como seus pais influenciam no seu trabalho hoje?
Acho que estava tão perto de mim que eu não percebia. Fazia os trabalhos com argila, desenhava, pintava por prazer. Meu pai olhava e dizia: "Tá muito infantil.” A ficha não caiu. Não pensei que pudesse trabalhar com ilustração, muito menos com o traço infantil ou mesmo divertido. Este eu adorava. Na adolescência escolher uma profissão, a faculdade, era difícil pra maioria. Poderia ser tanta coisa! Também optei por Comunicação Social, Publicidade e Propaganda. Comecei a trabalhar cedo, paralelo à faculdade, com o público. Só bem depois, de mansinho, fui vislumbrar a ilustração como profissão. Olhando pra trás, vejo que ela algumas vezes passou por mim, acenou e eu não vi. (Tonta!) Ao mesmo tempo, vejo que esse contato com um público tão diversificado foi um aprendizado de vida. Sobre os pais, além do contato com a natureza que também vai se mostrar importante, estávamos sempre em museus ou galerias. Acho que daí criei o hábito. Eles curtem, se orgulham a cada conquista. Bom foi perceber meu pai surpreso ao ver meu portfolio. Me lembro bem do dia. Ele me mostra ou dá livros de arte. Fica contente se pode dar algum palpite ou ajuda. Quanto à minha mãe, sempre foi a escudeira dele e trabalhavam juntos. Está emocionada e ansiosa agora, com uma história nossa em comum, “Dia de vacina.”, que será lançada no Salão da FNLIJ.
Pra não me estender nessa, uma curiosidade que me surpreendeu: Numa entrevista para a escola, meu filho descobriu que meu avô, que não conheci, tinha sido ilustrador. Eu não sabia, achava que toda a família da parte do meu pai tinha vindo da fotografia.
2. Como você começou na ilustração de literatura infantil?
Como falei, de mansinho. Primeiro cogitando e depois o principal: trabalhando a auto estima. Morria de vergonha de mostrar um trabalho meu. Por acaso, procurando casa pra comprar em 2002, conheci o Zé Zuca, que pelo visto, todo mundo conhece. Percebi que trabalhava com crianças e, num gesto intuitivo, perguntei se poderia lhe enviar o link para meu site. O corretor ficou até meio desconfiado. Recebi uma resposta linda, que lastimo ter sido perdida com a troca de computadores. De um parágrafo enorme, gravei esta frase “A magia do teu traço é bem viajante”. Aquilo me tocou demais e era o que eu precisava pra ir à luta. Ouvir um elogio da família ou amigo, não é a mesma coisa. Ele não tinha compromisso comigo e nem precisava responder ao e-mail. Mas o processo ainda foi longo. Em 2005, eu comecei a descobrir o mundo que havia na ilustração, aqui e lá fora e as listas de ilustradores. Fui aperfeiçoando meu trabalho, meu portfolio e o fundamental, a auto estima. Em 2007, comecei a ilustrar didáticos e, o primeiro livro pela Cortez Editora. Foi também um voto de confiança. Daí, fui em frente.
3. Vejo você sempre pesquisando e buscando aprender mais sobre ilustração.
Quais as suas fontes de inspiração para o trabalho e quais são suas técnicas preferidas para trabalhar?
É verdade. Brinco que demorei tanto e agora quero tirar o atraso. Quero fazer e aprender tanta coisa! Sou apaixonada pela Aquarela e os efeitos que ela produz. Principalmente as manchas, místicas e sedutoras, que são únicas e nunca se repetem. E aí, sou encantada por Edmund Dulac e Warwick Goble. E este em especial, pelos caminhos visuais que produz. Adoro as Aquarelas do Cárcamo. Gosto muito da técnica mista também, pelas múltiplas possibilidades de efeitos. Aí, eu citaria Svjetlan Junakovic. Ao mesmo tempo, gosto do traço leve e divertido de Quentin Blake. Enfim, quando vejo uma imagem que me encanta respiro fundo e deixo que ela se acomode lá no céu da cachola. Se a escolha da técnica ficar comigo, deixo o texto e a intuição mostrarem o caminho. Se você fala de outras fontes de inspiração, acho que tudo: A começar pela natureza (já tive uma ótima idéia andando na beira do mar), pessoas, animais, filmes, pinturas, música. Aliás, quando preciso entrar no clima pra pintar e não estou muito inspirada, costumo colocar uma música e às vezes, até acender um incenso. E se der vontade, ainda danço um pouquinho...
4. Além de ilustrar você escreveu o livro "Coitada da Raposa", publicado pela Cortez Editora. Você exercita continuamente a escrita literária ou este livro foi uma exceção? Existem novos projetos de livros a caminho????
Sim. As histórias me surgem em momentos variados. Já aconteceu no ônibus, no chuveiro, almoçando, caminhando... Preciso tomar nota logo para não perdê-las, o que nem sempre é possível. Já aconteceu de acender a luz, no meio da noite, pra escrever ou pelo menos tomar nota. Escrevo algumas crônicas também, mas tenho me dedicado mais ao segmento infantil. O universo infantil é mágico, infinito e me renova! Comecei a me organizar melhor depois de 2004, quando percebi que ali tinha coisa legal e já sondava a ilustração de livros. A história da raposa, por exemplo, é de 2004. Saiu da gaveta, em 2008, quando fiz um curso de Projeto de Livro e usei este texto. Tenho vários projetos. Agora estou conseguindo me dedicar mais a eles. Dois deles faço questão de publicar de qualquer forma, são especiais.
SANDRA RONCA ENTREVISTA MARILIA PIRILLO
1. Você, desde formada, navegava em águas similares, mas como foi que efetivamente começou a trabalhar na ilustração infantil?
Na verdade Sandra, eu acho que sempre soube que queria trabalhar com ilustração de livros. Desde pequena eu ficava encantada com as imagens., tentava copiar e entender como alguém conseguia desenhar daquele jeito! Com certeza não era com os mesmos lápis de cor e aquarelas de pastilha que eu usava! Rsrsrsr Mas o ser humano é enrolado, né? Na hora de optar por uma faculdade eu fiz Vestibular para Artes Plásticas, na federal, e para Publicidade e Propaganda, na PUC. Passei nas duas e, doida, resolvi cursar ambas. Claro que não deu certo. Depois de um ano, exausta e sem poder me dedicar profundamente a nenhuma, eu coloquei na balança e a preocupação com a grana pesou mais. Decidi cursar Publicidade à noite, fazer estágio durante o dia e “trancar” as Artes. Passei a trabalhar com editoração, projeto gráfico, tevê, design, programação visual, me formei... E as “artes” lá, trancadas. Acabei perdendo a vaga na federal. No entanto em todos os meus empregos (e eu tive vários!) a ilustração aparecia de um jeito ou de outro até que casei com um animador/ilustrador e passamos a ganhar a vida com ilustração publicitária. Acontece que vez ou outra um livro infantil “caia do céu” na minha mesa. Esses trabalhos não pagavam tão bem como os publicitários, mas eram os que mais me davam prazer. Aos poucos e com muito medo, fui deixando os livros tomarem o seu devido lugar na minha vida, até poder dar o grande passo de me dedicar só a eles – o que não faz muito tempo!
2. O texto veio mais tarde?
Na adolescência me tornei uma leitora voraz. E também nesta época, como toda a adolescente apaixonada e sofredora, comecei a escrever as primeiras linhas - nos diários, nos cadernos, na máquina de escrever que ganhei do meu pai, no jornal da escola... Na faculdade tentei a redação publicitária que me influenciou mas não me ganhou. Comecei a procurar oficinas de escrita literária, sem grande compromisso nem objetivos concretos, só pelo prazer de ler e exercitar. Quando cheguei no Rio achei (e me achei) na oficina da Anna Claudia Ramos onde por dois anos realmente mergulhei nas delícias e sofrimentos da escrita. Hoje continuo freqüentando oficinas, mas como estou ilustrando muito, sobra pouco tempo para escrever.
3. Ao lançar texto e imagem, o habitual é o texto chegar na frente? Ou o contrario também acontece?
O habitual é o texto chegar na frente, mas também acontece do texto nascer de uma imagem - que me inspira uma idéia que pode virar um texto... Por trabalhar com os dois, ao criar um livro (texto e imagem) as coisas se misturam, se embolam e se desenrolam juntas.
4. Existe algum tipo de trabalho que tenha dado um medinho; você encarou o desafio e depois viu que valeu a pena? Conta pra gente.
Vou confessar: até hoje TODOS os trabalhos me dão medinho! Eu sempre duvido que vou conseguir fazer! Verdade! E durante o trabalho muitas vezes duvido da minha competência e se vou conseguir terminá-lo! Nem Freud explica! Rsrsrsr
Há bem pouco tempo passei por uma situação difícil: recebi a incubência de ilustrar um livro de lendas indianas. Hare baba! Eu sabia nada vezes nada de cultura indiana! Nem a tal novela eu vi!!! E assim começou meu sofrimento. Pesquisas e mais pesquisas, toneladas de informações e de imagens de referência e a dificuldade de encontrar uma linha de trabalho, algo que fizesse sentido pra mim, me impedindo de fazer qualquer esboço! Enfim foi um parto à fórceps! O livro deve ser lançamento da Salesianas para a Bienal. Se funcionou ou não vocês me dizem depois, tá?