ROSAS VERMELHAS
Os enamorados vivem duas vezes. O tempo funde-se nos seres enamorados, misturando passado, presente e futuro. Como em um jogo de videogame, ganham uma vida extra. Uma é a vida normal, a da rotina, a do mundo material. A outra é uma vida bônus, um acréscimo, uma ampliação da consciência universal em cada um de nós, uma luz que denuncia as cores do mundo tornando o céu mais azul, anunciando o entardecer como uma aquarela de tons arroxeados beijando o morno do alaranjado solar e os pássaros que cantam em harmonia com sua coreografia de balé no palco azul do mundo – asas esticadas, bico levantado e pés alinhados -. Nosso olhar se torna seletivo e as flores se sobressaem as ervas daninhas. Nossos sentidos todos ficam transtornados, exacerbados e involuntariamente mapeiam as belezas que antes despercebidas se escondiam quando passávamos. Quando amamos, levitamos, e mesmo assim, enxergamos o que está rasteiro e o que está no alto. Passamos de mero figurante a personagem principal de um filme em 3D. O amor nos torna uma pessoa melhor, mais saudável, mais caridosa, mais tolerante e acessível. O amor nos transforma naquiloque é o nosso melhor. Nesse outro ser que inala pausadamente o perfume das rosas e expira boas intenções.
De todos os amores na vida, nenhum é tão traiçoeiro e adorável ao mesmo tempo como o amor romântico. De todas as flores, a rosa. De todos os perfumes, o da rosa. De todas as cores, o vermelho da rosa. De todos os veludos, o das pétalas de uma rosa. Os enamorados se transformam em botões de rosas que se encontram, seus espinhos caem por terra, suas folhas tornam-se braços que se procuram; a pele tem perfume rosado; o rosto se avermelha em tímidos suspiros, corados de amor. Acidente ou destino? Conquista ou bênção? Os caminhos para se chegar ao amor verdadeiro nunca foram totalmente desvendados. Sabe-se, apenas, que quem sofre de amor romântico e é retribuído tem o sofrimento mais doce dos mundos e nunca quer sarar. A dor da saudade é uma dor amiga. A dor das lembranças quando longe é uma ansiedade com a certeza que o encontro fará com que o mundo pare para os dois. Afastar-se de um amor que une dois universos e os transforma em um céu bordado de estrelas, desenhando uma vida de único sentido, é impossível. Felizes são os que encontram seu par cedo na vida. Muitos procuram a vida toda e não percebem quando ele passa fantasiado, escondido sob olhares que buscam o chão, envergonhados por traírem o maior dos segredos... Um amor verdadeiro pode se esconder em um jardim repleto de coloridas flores, impedindo que você o identifique, até que ele murche de solidão. Fique atento. Permita-se amar. Observe as rosas. A rosa simboliza o amor dos casais enamorados, a perfeição que Deus criou, o encontro, as almas que se atraem ignorando fronteiras, distâncias, idade, sexo, classe social, cultura e idioma. O reconhecimento pela íris que ilumina a ponto de cegar seu par, que nada mais enxerga além da pessoa amada. Se as paixões são estrelas, lindas, fortes, piscantes e limitadas, o amor é o cometa que rasga o nosso céu e nos mostra o desconhecido em nós mesmos. Estrelas se apagam. Os cometas são eternos porque mesmo quando não mais os vemos, deixam nossa história marcada para sempre. Mesmo quando idos, continuam a passar em nossa frente, como flashbacks involuntários, e não tenho dúvidas de que na hora de partirmos, não são as paixões que nos receberão do outro lado, somente os amores genuínos, do amor cristão ao amor romântico. A coroa de flores representa nossa despedida da vida, da vida de solteiro, da vida de estudante: flores do campo, lírios, alfazemas, pequenas margaridas, tulipas, rosas brancas, amarelas ou cor-de-rosa... Mas cada pessoa tem a sua rosa vermelha, aquela pela qual anseia e deseja segurá-la na mão na sua última viagem, a que representa o amor romântico, o encontro do par, o companheiro eterno, o fim da procura.
O Dia dos Namorados não é somente o dia doze de junho. O Dia dos Namorados é todos os dias em que acordamos e, ao pensarmos no nosso par, sorrimos. Porque o amor saudável não dói. O verdadeiro amor é uma benção.
Elvis, o eterno namorado, com sua voz marcante, gravou Let it be me, dizendo exatamente isso. Gostaria que a tecnologia houvesse evoluído ao ponto dessa música tocar enquanto o leitor lesse essa crônica. Já existe algo parecido que em futuro próximo será lançado, o jornal em papel com acesso ao mundo virtual em um computador próximo. Os milênios passam, a tecnologia evolui, mas o amor é o mesmo do começo dos tempos. Os que o encontram e são retribuídos, são mesmo abençoados.
“God bless the day I found you/I want to stay around you/And so I
beg you/Let it be me…”
Tradução livre: Deus abençoe o dia em que te encontrei, eu quero sempre estar perto de ti, então eu te imploro, deixe que seja eu...
Simone Pedersen
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