Um mar de leitores
Nem podia ser diferente. Cidade localizada no litoral fluminense, Paraty deu um nome peculiar ao seu projeto de leitura: Mar de Leitores.
Quantas interpretações possíveis, este “mar de leitores” nos instiga a pensar. O primeiro, e mais imediato, e talvez o mais adequado: muitos leitores. Tantos e tantos que podemos falar em quantidade imensa, do tamanho do mar.
Falar de Paraty, nestes últimos anos, em matéria de leitura e leitores, o que vem à lembrança é a FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) e sua parceirinha, a FLIPINHA. Não é por menos. No entanto, depois que a agitação glamurosa da festa internacional desaparece e a cidade volta a conviver com seus dias calmos, históricos e sossegados, uma outra intencionalidade surge: fazer da cidade, uma cidade de leitores. Aí começa (ou continua) a atuação do pessoal do Mar de Leitores, a turma da ong Casa Azul e seus parceiros da secretaria municipal de educação, técnicos e educadores das escolas.
O projeto caminha para o seu segundo ano de vida, com conquistas interessantes, uma das quais um documento legal da secretaria de educação que garante no currículo de todas as escolas uma hora semanal de atividades específicas de leitura. Outra conquista: uma carta de intenção da secretaria se disponibilizando a manter uma política de reposição de acervo. Ações como essas mobilizam os representantes da Casa Azul, da secretaria de educação e os educadores de todas as escolas do município. Em reuniões mensais, com a presença da secretaria, de representantes da Casa Azul e convidados, as coisas vão acontecendo, tomando rumo, abrindo espaços.
Estive por lá, como convidado, no último dia 10 de novembro, falando para/com os educadores (gestores e coordenadores pedagógicos) que tocam as ações nas escolas. Falei da minha experiência como gestor de escola, de sala de leitura e como membro de equipe criadora de programas de incentivo à leitura, entre os quais, o programa de salas de leitura das escolas municipais de São Paulo e o Prazer em Ler, do Instituto C & A. Conversamos sobre a importância da leitura na sociedade contemporânea, sobre a dupla tarefa do educador, formar-se leitor e formar leitores, sobre acervos, escolhas e persistência.
Voltei para casa com satisfação dobrada: de um lado, por ter colaborado com o projeto, cruzando histórias, trocando certezas; e, de outro lado, por reforçar questões pelas quais venho batalhando há muito, a importância da escola no trajeto da educação para a literatura e a necessidade fundamental de se fazer de cada educador um leitor.
Mar de Leitores, da bela Paraty, renovou em mim a certeza de que as coisas podem ser simples, em matéria de programas de incentivo à leitura, quando se juntam a vontade política, o espaço para a organização, discussão e elaboração de projetos e o envolvimento dos educadores. Taí...
Mar de Leitores certamente é um programa de formação de leitores que tem tudo para transformar a cidade em cidade leitora.
Constitui-se, graciosa e energicamente, um alto valor para o nosso pé de meia literário.
Edson Gabriel Garcia
Educador e Escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário