PÉ DE MEIA LITERÁRIO (3)
Edson Gabriel Garcia
De grão em grão a galinha enche o papo, diz um dos ditados populares mais acertados e mais antigos de que temos notícia. Cai como uma luva para o Programa de Salas de Leitura das Escolas Municipais de Ensino Fundamental de São Paulo. Aos poucos, devagar, mas sem interrupção, trata-se, sem dúvida, do programa de formação de leitores mais longevo em terras brasileiras.
Tive o prazer de participar de sua criação, nos idos do início da década de oitenta, transformando o Programa Escola Biblioteca no Programa de Salas de Leitura. Demos, na época, uma guinada interessante: da leitura de fichas dirigidas para a leitura prazerosa e significativa e do enquadramento burocrático da leitura para o foco amplo do prazer de criar entendimentos. Revitalizamos a formação dos educadores, que passaram a ser “orientadores de leitura”, embrião do que hoje chamamos de mediadores de leitura. Sistematizamos as condições de funcionamento de cada sala de leitura, em todas as escolas, e propusemos um programa contínuo de reposição e atualização do acervo. Leitores gostam de ler, de reler e ler coisas novas.
Passado mais de um quarto de século, o programa continua firme, forte, inteiro, vivo, formando mediadores de leitura e leitores. Sobreviveu a inúmeras administrações e diversas intempéries, do desastrado Jânio Quadros ao economista José Serra, encarando dezenas de alterações, apagões, leis e suspiros invocados. Não há, nem houve, nesse passar dos anos, um administrador que tivesse coragem de por abaixo as salas de leitura das escolas municipais de São Paulo. Alguns até tentaram. Mas a qualidade do trabalho se impôs e os que tentaram tiveram que engolir suas bobagens administrativas.
Mais compacto e decisivo, o programa permite e estimula cada sala de leitura a agregar em seu entorno diversos projetos curriculares próprios da natureza do ler e do escrever, essência da escola, como o Ler e Escrever ou o recente programa de distribuição de livros de literatura Minha Biblioteca.
Esta breve descrição e as poucas anotações, que aqui deixo para os leitores, são indicativas de que o Programa de Salas de Leitura das Escolas Municipais de São Paulo, um trabalho maduro, representado por centenas de mediadores de leitura, milhares de leitores cotidianos e milhares de livros em acervos permanentes, é fundamental na constituição do nosso Pé de Meia Literário.
Para conferir, surpreender-se e... comemorar.
Sampa, novembro de 2009
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