sexta-feira, 30 de agosto de 2013

SP: Quem conta um conto... - Simone Pedersen

A barca


Transborda, 
Sobra pra todos os lados.
Cai, esparrama e invade,
Os cantos mais escondidos,
Miúdos, afastados.
Não cabe em mim
Sai pelos olhos,
Agarrado em meu grito.
O sentir é líquido.

Cansada, a barca parou sobre as marolas suaves sentindo a brisa salgada do mar e suspirou aliviada. A tempestade havia cessado e ela sobrevivera mais uma vez. O mar era como a vida: de repente tudo muda. O vento altera os caminhos e seu sopro conduz aos destinos por ele escolhido. Ela estava cansada de navegar sozinha por tantos mares, sem ter uma companhia para compartilhar suas emoções. O pôr do sol ainda a seduzia, mas cada vez apresentava menos cores.
Sentindo a nostalgia de um dia que nunca houve, recomeçou seu caminho deslizando suavemente pela espuma das ondas indomáveis que às vezes eram carinhosas, outras vezes, inimigas, jogando-a desconcertada para cima e para os lados, deixando-a sem rumo e obrigando-a a unir todas as forças na tentativa de resgatar o que nunca fora seu: o controle da sua jornada.
Sempre que navegava, apreciava as demais que por ela passavam, com o único interesse de observar o que os mares escondem e, às vezes, revelam sem querer. Inesperadamente, algo chamou sua atenção. A barca que surgira na linha do horizonte era diferente de todas que ela já havia visto. Algo a atraía àquela embarcação com uma força inexplicável. Bem que tentou se conter, mudar de rumo ou simplesmente parar. Mas, foi tudo em vão. Como um imenso imã, foi atraída por aquele mistério.
Aos poucos, foi aceitando que os ventos a envolvessem e a levassem naquela direção. Precisava descobrir o que lhe causava tanta inquietude. Ao aproximar-se da barca misteriosa notou que suas cores eram cintilantes e brilhavam quando tocadas pelos raios do Sol. Parecia que havia sido pintada por todas as cores do arco-íris. Ela foi tomada por uma imensa paz, como jamais sentira. E, aos poucos, foi se aproximando da outra que, ao percebê-la, parou de velejar e a esperou, emitindo sinais quando o vento agitava suas velas que soavam como o canto de uma baleia apaixonada. As suas velas batiam freneticamente. Nunca sentira nada que se igualasse à intensidade desse encontro. Sentia-se como se um peixe enorme a empurrasse para mais perto daquela barca cintilante. Precisava, desesperadamente, sentir o seu calor. Percebeu que elas se encaixavam perfeitamente, como duas peças de um intrincado quebra-cabeça. 
A barca cintilante, assustou-se. Elas eram muito diferentes. A primeira era leve, navegava rapidamente por muitos mares, sozinha e sem medos. A segunda tinha uma âncora pesada, que trazia equilíbrio e lhe permitia apreciar o pôr do sol em paz. Mas a âncora também evitava que pudesse velejar rapidamente. E a velocidade da pequena barca assustava! Tentaram enxergar além  de seus cascos. O mar, em respeito àquele momento raro, se acalmou por um minuto. As gaivotas sobrevoaram em total silêncio. O vento que se agitava cessou por completo quando percebeu a intensidade dos olhares. 
Elas sabiam que não seria fácil velejar lado a lado. Uma teria que se acalmar e domar seus instintos selvagens, enquanto a outra teria que se desapegar da âncora e se deixar levar pela força do mar, sem medo. Acreditavam que o destino de suas jornadas seria o mesmo, se elas assim o desejassem. Que o amor que sentiam era mais forte que o imenso mar.
Aos poucos, foram se distanciando na linha do horizonte e quem as visse não mais distinguia qual era a barca cansada e qual era a barca cintilante. Haviam se tornado única, completa e realizada. 

Simone Pedersen é escritora, coordenadora regional da AEILIJ paulista.

A barca é um dos contos do livro de Simone Pedersen, O TANGO DA VIDA, publicado pela Paco Editorial.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

RS: Notícia do Encontro da AEILIJ

Embora a chuva e o frio  persistentes conspirando contra, na noite de 27/08, ocorreu com ótima audiência e participação,  o Encontro programado para associados e convidados da AEILIJ- Regional RS.  

Nosso palestrante – Prof e Dr. Marcelo Spalding – conduziu o tema proposto:

 "As novas tendências para a literatura infantil e juvenil. O que acena o futuro quanto ao livro físico ou digital.

Tema instigante e atual, que foi conduzido com o relato da vasta experiência no campo da tecnologia, apresentação de vídeo de livros digitais, informações relevantes e muita interação com o público.

Interessante e peculiar foi a forma como o palestrante foi desmembrando o tema, destacando palavras e levantando questões vinculadas a cada termo, tais como: tendência, futuro, livro físico e livro digital.

A AEILIJ cumpre assim, mais uma programação de interesse de seus associados, no sentido de trazer, sempre que possível, a  informação e discussão de temas pertinentes a LIJ.

Fica o agradecimento ao palestrante Marcelo Spalding e aos associados e convidados que se fizeram presentes, prestigiando o encontro.

                                                          
Postado por Jacira Fagundes

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

RJ: Lançamento de Anna Claudia Ramos na Argumento

Lançamento dos livros A menina e o golfinho, de Anna Claudia Ramos e O que vinha no Vento, de Silvia Abolafio no domingo, 8 de setembro, na Livraria Argumento  do Leblon.


SP: Técnicas de Ilustração - 08 - Foto e Photoshop

Ilustra realizada para embalagens das Balas MyToffe sabor mousse de maracujá.

Primeiro momento: realizei um layout daquilo descrito pelo cliente, logo após, comprei literalmente o mousse de maracujá e pesquisei o comportamento, textura, ângulos entre outros detalhes,

registrando-tudo com uma máquina fotográfica Nikon D5100. Layout definido e aprovado, partimos então para a colorização que foi feita em camadas usando dois softwares: Painter e Photoshop, no tamanho de 20x20/300dpi

Alexandre Siqueira.



2 comentários:

  1. Sika! Adorei, dá até vontade de experimentar. Hummmmm!
    Bjs da Regina
  2. Obrigado mais um privilégio de poder participar do Blog Paulista.

    Abraços e Bjos

    Sika

sábado, 24 de agosto de 2013

RJ: Simone Bibian no Trilhas da Leitura

A escritora Simone Bibian é convidada especial neste sábado, do Projeto Trilhas da Leitura promovido pela Secretaria de Educação de Niterói. O evento acontece no Parque Palmir Silva no Barreto, de 10 h às 13 h.


sábado, 17 de agosto de 2013

RS: O Tecendo Histórias faz apresentação de Exposição e Minibiblioteca Itinerante na última escola do Projeto

O Projeto Tecendo Histórias, Traçando Ideias encerra, com o Colégio Estadual Paula Soares, a série de instalações da Exposição e Minibiblioteca Itinerante da AEILIJ- Regional RS.

Um belíssimo trabalho de parceria da 1ª CRE e AEILIJ - Regional RS junto a 11 escolas estaduais.

Mas o Projeto não termina aqui.

Em setembro teremos nova exposição na casa de Cultura Mário Quintana.

Aguardem!


Postado por Jacira Fagundes

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

RS: Encontro AEILIJ - Regional

Vem aí um novo encontro da AEILIJ- Regional RS.
Associados, agendem-se.
Compareçam, prestigiando sua associação.

Encontro AEILJ-Regional RS

A AEILIJ – Regional RS realizará, na data de 27 de agosto, das 19 às 21h, um novo Encontro com os associados.
O convite é aberto a associados e convidados.
A Biblioteca Lucília Minssen, parceira da AEILIJ, cedeu a sala Lili Inventa o Mundo para o evento.

Na pauta, relacionados:

 - Assuntos gerais

- Atividades da AEILIJ agendadas para a 59ª Feira do Livro de Porto Alegre- por Hermes Bernardi Jr. e Jacira Fagundes

- "As novas tendências para a literatura infantil e juvenil. O que acena o futuro quanto ao livro físico ou digital.” - Palestra proferida pelo Prof. Dr. Marcelo Spalding


Postado por Jacira Fagundes

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

RJ: Lançamento de Poesia é Fogo, é Terra, é Água, é Ar!

Dia 18 de agosto, na Livraria da Travessa do Leblon, lançamento de
Poesia é Fogo, é Terra, é Água, é Ar! de Sandra Lopes
De presente: contação de histórias com origami.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

SP: Mural - agosto de 2013

NÚMERO 38 - Agosto de 2013

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NOTICIAS DE ASSOCIADOS

Colega associado, de toda parte do Pais e fora,

 se tiver uma noticia para nós,
por favor nos envie para que possamos divulgar.
Jamais se sinta desprezado;
sua noticia pode não estar aqui
porque não sabemos a respeito dela,
nos ajude.

Obrigado.

 

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REGINA SORMANI

"Caros amigos!
Segue convite para o lançamento do meu livro das vampirinhas gêmeas. Será no sábado, dia 17 de agosto, a partir das 15,30 hs na livraria Martins Fontes da Paulista. Haverá contação de história. Apareçam  por lá. Um abração,
Regina Sormani"


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NIREUDA LONGOBARDI

Expo Cordel na Cortez


De 19 a 24 de agosto 
Horário: Segunda a sexta-feira - das 9 às 20h, sábado das 9h às 19h

Exposição de fotos, xilogravuras, livros e cordéis



Exposição de xilogravuras de Nireuda Longobardi, originais dos livros: "Mitos e lendas do Brasil em cordel" (Paulus) texto e xilos de Nireuda; "Patativa do Assaré Porta-voz de um povo" (Paulus) texto de Antonio Iraildo, "A peleja do Boto Cor-de-Rosa com a Sereia Iara" (Suinara) texto de Alexandre Moraes e "Escolha seu dragão" (Cortez) texto de Rosana Rios. 

Originária do nordeste brasileiro, a Literatura de Cordel se expandiu para todo o país como uma das mais genuínas manifestações da cultura brasileira. Sua influência está presente em muitos movimentos artísticos.

Dada a sua riqueza literária, o cordel se constituiu ferramenta pedagógica em diversas instituições de ensino e está cada vez mais em evidência, e pela rica variedade temática, tem nos últimos anos, ultrapassado a fronteira dos folhetos e dos livros.

Seguindo a tradição de promover a nossa cultura popular a dar visibilidade a literatura de cordel, a Livraria Cortez promoverá no mês do folclore, o Expo-Cordel na Cortez. Evento que terá exposição Fotográfica e de Xilogravura, novidades editoriais sobre o tema, Folhetos, lançamentos, além do sarau lítero-musical acompanhado de bebidas e comidas típicas do sertão nordestino.

Atividades: 
Exposição fotográfica sobre Cordel organizada pela pesquisadora Fernanda Ortega

Exposição de Xilogravuras e matrizes que ilustram livros e cordéis organizadas por Nireuda Longobardi

Realização: Livraria Cortez
Apoio Cultural: Cortez Editora , Editora Nova Alexandria e Mostra Chapéu de Palha
Apoio Institucional: ILGB – Instituto Leandro Gomes de Barros

Mais informações: www.livrariacortez.com.br

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NAAVA BASSI

Naava Bassi,, associada da AEILIJ SP está participando da Exposição Encontro com a Fotografia.
Parabéns aos expositores e organizadores do evento. Sucesso!


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DORINA NOWILL

Jovem com deficiência visual, venha participar do Curso Desenvolvendo Talentos, da Fundação Dorina! Aprenda como funciona o mundo corporativo e o que esperam de você como profissional. Inscrições prorrogadas até dia 12 de agosto!

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ANDRÉ DINIZ

"Meu curso de Roteiro para Quadrinhos, na Quanta Escola de Arte, começa com nova turma agora em agosto! Vai ser uma ótima oportunidade da gente se conhecer, trocar ideias e discutir sobre a criação de roteiros, personagens e sobre chegar nas editoras."

CLIQUE AQUI!


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ANNA CLAUDIA RAMOS


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ALINA PERLMAN APRESENTA 

SUA FILHA KATIA PERLMAN QUE ESTREIA COMO ESCRITORA


"Reparto com vocês uma grande alegria – a Katia, minha filhota, está lançando seu primeiro livro!

O texto é lindo e o livro é super caprichado!
Será no dia 22 deste mês, 5a. feira, das 18.30 às 21.30h, na Livraria da Vila da rua Fradique Coutinho 915.
Vou adorar poder abraçar vocês neste dia!"


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BIENAL DO LIVRO - RIO DE JANEIRO

De 29 de Agosto a 8 de Setembro com a presença de inúmeros associados AEILIJ de todo o Brasil.

CLIQUE AQUI! 

  


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REGINA DRUMMOND

"Pessoal, aí vai o convite para o lançamento da Coleção Personalidades Brasileiras, da Ed. Rideel, no dia 29 de agosto, a partir das 18.30h, na Livraria da Vila da Fradique Coutinho. Adorarei encontrar vcs lá! Bjs"




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PARA QUEM GOSTA DE LER RESENHAS

Conheça Nanie Dias; fascinada por resenhas, ela lê os melhores livros com vontade, com gosto, e nos presenteia dia a dia com resenhas belíssimas que nos faz procurar os livros para ler...




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TEM ALGO A DIVULGAR?

Avisa pra gente nos comentários e providenciaremos, obrigado.

SP: Convite de lançamento - Vampirola e Vampireca, vamps levadas da breca

Caros amigos!
Segue convite para o lançamento do meu livro das vampirinhas gêmeas. Será no sábado, dia 17 de agosto, a partir das 15,30 hs na livraria Martins Fontes da Paulista. Haverá contação de história. Apareçam  por lá. Um abração,
Regina Sormani

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

NE: A voz dos autores

Reproduzimos abaixo, a entrevista de Sandra Pina, presidente da AEILIJ, ao Blog da Editora DCL.


Para acessarem o texto original, cliquem aqui.


Por Paula Thomaz

A premissa é perfeita para aquela que um dia seria escritora: ela nasceu em uma família que adorava histórias após as refeições, os mais velhos contavam causos da infância, das crianças e de tudo o que se podia imaginar. Sua mãe lia livros e revistas em quadrinhos todas as tardes para ela e suas irmãs. Ela cresceu, virou jornalista, publicitária e há pouco mais de 10 anos, aventurou-se na escrita de suas próprias histórias. Essa é Sandra Pina que, passada uma década de carreira como escritora, eis que ela se torna representante maior dos escritores e ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil. Na última eleição da Associação dos Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil, ocorrida no mês de junho, ela foi escolhida a presidente da AEILIJ.


Nesta entrevista a autora de mais de 25 livros, entre eles, “Um barco, um avião, uma bolha de sabão”, “E assim surgiu o Maracanã”, publicados pela DCL, fala sobre sua visão do mercado editorial, das questões que envolvem a produção de LIJ, os desafios de sua gestão e que pretende ser “porta-voz de um grande grupo na defesa da profissionalização do nosso ofício. Daqui a dois anos, quando a gestão acabar, os associados da AEILIJ poderão dizer se cumprimos ou não o papel que nos foi designado”. Leia a íntegra:

Editora DCL – Sandra, qual o panorama do mercado editorial especificamente falando deLIJ?
Sandra Pina (SP– Acho que sempre vale lembrar que o mercado editorial de LIJ no Brasil é bastante peculiar. Ao contrário de outros países, onde a livraria é um foco importante, por aqui a produção editorial está mais voltada para a escola. Os grandes compradores dos livros de LIJ são as escolas e o governo (federal, estadual e municipal). O que nos leva a uma situação meio “antagônica”, quero dizer, se, por um lado temos compradores “fieis” e “constantes” (as escolas continuam a usar nossos livros nos currículos, e o governo, em suas diversas instâncias, continua a lançar editais para abastecer bibliotecas e programas de leitura, por outro, não há um investimento em pontos de venda. Qualquer um que chegue numa livraria hoje, encontrará livros coloridos (os chamados livros brinquedo) expostos e, com um pouco de sorte, livros de autores brasileiros espalhados pelas prateleiras, mas não verá nenhum tipo de estratégia de marketing que “convide” o público a conhecer esse ou aquele livro, por exemplo (é claro, salvo no caso dos best sellers que já chegam em terras brasileiras na esteira da fama internacional). Em suma, alguns autores de LIJ podem até ser bem conhecidos dentro do âmbito escolar, mas não conseguem fazer o “crossover” para um público maior, ou mesmo para o público que frequenta livraria.
Sei que existem diversas “questões” envolvendo a exposição de um produto no ponto de venda e, mais que isso, sei que se questiona o hábito do brasileiro de frequentar a livraria. Mas isso também me leva a pensar: se o público não vai até o livro, por que o livro não pode ir até o público? Por que os marketeiros de plantão não constroem uma estratégia que leve o livro infantil a outros pontos de vendas, por exemplo? Por que o mercado editorial de LIJ não pode se expandir até a loja de brinquedos? ou até a banca de jornais? ou ao supermercado? ou à lojinha de conveniência? Acho que sempre vale a pena lembrar o “case” daquele chinelinho tão famoso, né?


DCL – O que representa para você estar à frente da AEILIJ atualmente?
SP – A AEILIJ é uma instituição que vem crescendo lenta e consistentemente ao longo dos seus 14 anos de existência. Pessoalmente, acredito na força na união e, a meu ver, esse é um dos pontos fortes da AEILIJ. Autores da palavra e da imagem trabalham de forma muito isolada e a associação é um espaço onde podem trocar experiências, discutir angústias profissionais, buscar soluções para questões delicadas de mercado, etc. Por outro lado, é também um lugar onde os autores podem ir além, participando de ações solidárias, por exemplo, como as coleções de livros acessíveis que fizemos em parceria com a Fundação Dorina Nowill ou os encontros com leitores na ong Meninos de Luz, aqui no Rio de Janeiro. Enfim, para mim, estar à frente da AEILIJ é uma oportunidade de dar continuidade a esse trabalho, esse sonho, iniciado por um pequeno grupo de meia dúzia há 14 anos, e que hoje congrega mais de 400 autores espalhados pelo Brasil todo.





DCL – O que representará para os autores e ilustradores associados a sua gestão?
SP – Essa é uma boa questão. Acho que só poderá ser completamente respondida depois que a gestão acabar. Mas eu e a Anielizabeth, nossa vice-presidente, não temos a pretensão de descobrir a pólvora ou operar algum milagre. O que queremos é ser representates dos nossos associados nas questões que forem levantadas; porta-voz de um grande grupo na defesa da profissionalização do nosso ofício. Daqui a dois anos, quando a gestão acabar, os associados da AEILIJ poderão dizer se cumprimos ou não o papel que nos foi designado.



DCL – Dá para incluir anseios seus, de escritora, na sua gestão?
SP – Procuro deixar bem separados esses meus dois lados, o de escritora (da minha carreira pessoal) e o de presidente da AEILIJ, embora, eu só esteja ocupando o cargo porque sou uma escritora, e porque tenho uma carreira pessoal, né? Mas existem os anseios profissionais que não estão ligados diretamente ao lado criativo e à carreira (edição de livros, vendas, etc.). Falo de reconhecimento profissional, de sermos (nós, criadores de livros para crianças de jovens) repeitados com relação às nossas criações de texto e de imagens, nas questões contratuais, nas prestações de contas de DAs,  nos convites (muitas vezes absurdos) que recebemos, etc. Creio que esses “anseios” têm sido prioridade em todas as gestões que passaram pela AEILIJ, e seguramente, continuarão sendo prioridade em nossa gestão.


DCL – Qual a receita do sucesso de um livro de LIJ? Ele precisa ter finalidade moral e pedagógica necessariamente?
SP – Ops! Acho que todos os autores de LIJ tentam, de alguma forma, descobrir essa receita! (risos) Mas não acredito na “finalidade moral e pedagógica”, acredito no encantamento. Um leitor percebe quando uma história é escrita para “ensinar” alguma coisa, independente da idade que tenha. Nós adultos achamos que as melhores histórias são aquelas que nos fazem pensar, que nos levam a questionar, a querer mais, não é mesmo? Acho que isso vale também para o leitor criança/adolescente. Se existir uma “moral” ou “pedagogia” na história, que ela seja percebida naturalmente pelo leitor e não esteja “descaradamente” explícita no texto ou na ilustração. Para ensinar existem os livros didáticos. A literatura é para provocar sentidos, questionamentos, ideias, para mexer com o leitor, tirá-lo de sua zona de conforto, independente de ser através do drama, do riso, da fantasia, da poesia, etc.


DCL – Há algum tempo a LIJ era relegada à um papel menor no mercado editorial. Qual o lugar da LIJ no mercado hoje? Ela já alcançou sua maturidade literária e ganhou seu devido lugar na cultura do brasileiro?
SP – Infelizmente ainda há pessoas (inclusive na academia) que ainda pensam a LIJ como uma “literatura menor”, mas essa visão está mudando, mesmo que lentamente. Todos esses programas de incentivo à leitura espalhados pelo país estão mostrando que, se queremos adultos mais conscientes e esclarecidos, essa formação passa pela LIJ, uma vez que é com ela que a criança tem seu primeiro contato com a literatura.
Por outro lado, os números mostram que a LIJ representa atualmente uma importante fatia do mercado editorial brasileiro hoje. Diversas editoras começaram a investir mais seriamente no segmento, por exemplo.
A LIJ brasileira é (e falo isso sem a menor sombra de dúvida) de altíssima qualidade literária. É claro que existem livros com mais qualidade que outros, como em qualquer lugar do mundo ou em qualquer segmento literário, mas, no geral, nossa LIJ não fica devendo a ninguém. Nossos autores de texto estão cada vez mais maduros e criando histórias cada vez melhores, e nossos autores de imagem, em sua maioria, vem alcançando padrão internacional, buscando qualificação técnica, desenvolvendo pesquisas, etc. Acho que ainda temos uma boa estrada a trilhar para alcançar nosso devido lugar e respeito na cultura brasileira, mas creio que estamos no caminho certo.

DCL – Contudo, ainda há desafios para Literatura Infantil e Juvenil? Quais?
SP – Desafios sempre há, e sempre haverá. Além dos desafios individuais de criação, da angústia da folha em branco (risos), há um desafio em especial que vem se colocando à frente dos criadores de LIJ nos dias atuais, que é o tão falado “politicamente correto”. Temos visto nossos textos e imagens sendo “alterados” em nome do politicamente correto; expressões idiomáticas, palavras, imagens são questionadas. Então o desafio que se coloca é o de contornar essa questão. É como se, por escrevermos para crianças e jovens, nossas histórias tivessem que acontecer em “mundos, cenários e com personagens ideais”, sem “defeitos”. Porém, se a literatura tem um papel questionador na sociedade, qual o objetivo de mostrar um mundo perfeito? O que nos faz pensar, o que mexe com os sentidos do ser humano são as imperfeições, não é mesmo? São aquelas situações que nos incomodam, né? Creio que mostrar um “mundo perfeito” na LIJ, seria como criar um bebê numa redoma de vidro, sem deixá-lo criar anti-corpos naturais para combater as bactérias que irão atacá-lo ao longo de sua vida.

sábado, 3 de agosto de 2013

RS: Vice-Versa de agosto de 2013

Duas novas associadas abrem o vice-versa neste 2º semestre - Martina Schreiner e Liza Petiz. Seria entrevista entre duas ilustradoras, não fosse uma delas, também escritora.

Martina  está na estrada já de algum tempo. Designer, projetista, escritora e ilustradora de livros de própria autoria e de outros tantos.

Liza  vem conquistando espaço  no campo da ilustração na literatura infantil e juvenil. Não mais uma promessa, ela vem se reinventando com  muito profissionalismo.

Vejamos o que esta dupla de profissionais tem a nos dizer de seus trabalhos e de suas trajetórias artísticas.


Martina pergunta. Liza responde.


Martina - Ilustrar é um sonho antigo ou uma descoberta recente? Como surgiu, na tua vida, a vontade de ilustrar? E como essa vontade virou realidade?

Liza - Sou filha de um artista plástico e convivi com as Artes Plásticas desde criança, portanto sempre fui apaixonada pela imagem. Decidi trabalhar com arte educação e dividir com as crianças a magia que as imagens despertam em mim. Neste momento comecei a pesquisar a literatura infantil e descobri este universo maravilhoso, passando a usar a ilustração como referência nas minhas aulas. Criar imagens, ilustrações, foi um sonho que comecei a cultivar há dez anos, mas só em 2011 coloquei as minhas ideias em prática e iniciei o meu trabalho como ilustradora.  Meu sonho virou realidade com a publicação do livro Assombros Juvenis, do qual participei junto com outras quatro autoras. Esta oportunidade foi muito importante e me deu segurança para começar uma nova carreira. Atualmente divido meu tempo como professora, coordenadora pedagógica de Educação Infantil e ilustradora.

Martina - O contato com as crianças em sala de aula influencia teu trabalho como ilustradora? Como?

Liza - O contato diário com as crianças me renova sempre, alimenta o meu olhar sobre o cotidiano, o senso de humor e com certeza influencia o meu trabalho como ilustradora. Procuro criar imagens que sejam diretas, simples e coloridas, assim como são os desenhos dos meus alunos. Observar as suas criações espontâneas e recheadas de criatividade é a minha maior inspiração. Algumas vezes troco ideias com as crianças a respeito do que desejo criar, eles me dão dicas e me ajudam a refletir sobre o que é essencial na imagem.

Martina - E no caminho inverso, teu trabalho como ilustradora influencia o trabalho como professora? Como?

Liza - Também interfere e de forma muito positiva, primeiro porque a literatura é  base do meu trabalho. Toda vez que compro um livro novo, levo para a sala de aula e mostro para as crianças. Procuro mostrar a elas o universo variado, em termos de imagem e texto que encontramos hoje; oferecendo referências que fujam aos estereótipos, propagandas e personagens da televisão. E depois, a minha pesquisa com a ilustração e a minha parte leitora, me tornam uma pessoa mais sensível, aberta e motivada a compartilhar com os alunos um mundo em que tudo é possível e que alimenta os nossos sonhos e desejos, que é a literatura como um todo.

Martina - Tu costumas usar bastante colagem e um mixe de materiais. Como funciona o teu processo de trabalho? Como tu escolhes a técnica, de onde surgem tuas ideias?

Liza - Acredito que minha técnica será sempre mista, pois gosto das texturas, dos relevos, de riscar em cima da tinta, sobrepor figuras e materiais. A colagem também é uma opção que me permite brincar com a composição até chegar ao resultado final.
As minhas ideias vem do universo infantil que faz parte do meu dia a dia e também das artes plásticas. Gosto muito de ilustrações com cores suaves e monocromáticas, mas quando começo a elaborar minhas imagens, as cores gritam. Não consigo fugir do colorido, dos contrastes, o que remete a artistas do cubismo e impressionismo, que me encantam demais.

Martina - Se aparecesse uma fada madrinha ou uma lâmpada mágica e te oferecessem o trabalho dos teus sonhos, como ele seria?

Liza  – As histórias que mais me dão prazer acontecem em cenário medieval, então me realizaria ilustrando uma história com castelos, princesas, reis, dragões, elementos fantásticos que são os meus favoritos até hoje. Venho pensando muito em fazer um livro com texto e imagem criados por mim, esse no momento é o meu maior sonho.


Liza pergunta. Martina responde.


Liza - Em que momento da tua vida tomaste a decisão de ser ilustradora e por quê?

Martina - Pois eu sempre digo que virar ilustradora aconteceu meio por acaso. Eu estava insatisfeita com o meu trabalho como publicitária. Então resolvi resgatar o prazer no desenho, que havia sido o grande motivador da minha escolha profissional, e que parecia perdido no meio de tantos trabalhos publicitários descartáveis.
Numa dessas experiências eu e uma amiga acabamos fazendo um protótipo de um livro infantil. Eu não fazia a menor ideia de como o mercado editorial funcionava, mas resolvemos arriscar. Enviamos o trabalho para várias editoras e, depois de várias experiências frustradas, fui chamada para ilustrar o meu primeiro livro.

Liza - Por que a escolha pela literatura infantil?

Martina - Eu sempre fui uma ávida leitora de literatura infantil, mesmo depois de adulta. Mas talvez o  fato de eu ser designer tenha contribuído nessa escolha, já que os livros para crianças são um espaço onde se pode exercitar com muita liberdade a comunicação e expressão visual.

Liza - De onde vem tua inspiração, tuas referências para ilustrar?

Martina - Eu acho que as ideias estão no ar, nós só precisamos encontrar. Para ter inspiração basta prestar atenção, estar aberto ao que o mundo nos conta e mostra. São infinitas as possibilidades.
A questão das referências é um pouco mais complexa. Eu gosto de deixar a memória estabelecer as regras. Mas sabe como é, não podemos confiar cegamente na memória, ela nos prega peças. Então eu prego peças na memória: busco referências aleatórias, coleto coisas sem nenhuma ligação com a história, pra fundir com o que eu já tenho e quebrar a imagem pré-concebida da qual quero me descolar.
Tem alguns casos em que eu faço uma pesquisa iconográfica de fotos ou objetos. Por exemplo, em “O Rei roncador”, eu usei vários baralhos diferentes como modelos, para, a partir deles, definir os personagens. Mas isso pra mim não é referência, é modelo mesmo.

Liza - Nos teus trabalhos como escritora e ilustradora, o que vem primeiro, a imagem ou o texto?

Martina - O processo criativo é um tanto caótico e nunca funciona de forma linear, pelo menos pra mim. Em “O botão branco” surgiu primeiro uma imagem. Eu tenho a mania de antropomorfizar coisas. Fico procurando bocas, olhos e narizes em maçanetas, torneiras, ferramentas e outros objetos. Numa dessas brincadeiras, transformei um botão em uma carinha sorridente, publiquei a foto no meu blog e considerei a ideia encerrada. A história só foi surgir muito tempo depois. Já no “O rei roncador”, o texto surgiu primeiro, e só depois de tê-lo pronto comecei a desenhar. De qualquer forma, meu processo de criação é muito visual, e, mesmo que o texto surja antes de tudo, inevitavelmente aparecem imagens na minha cabeça enquanto eu escrevo.

Liza - Tu te dedicas integralmente como autora ou desenvolves outras atividades profissionais? Como é a tua organização/rotina de trabalho?

Martina - Eu trabalho em casa. Meu despertador toca todos os dias às 7h30. Levanto, faço café, leio jornal, respondo emails e resolvo todas as pequenas pendências do dia, para poder trabalhar mais tranquila depois.
Tento me disciplinar para ter um final de expediente, parar de trabalhar no final da tarde, mas isso é bem difícil. Com frequência desobedeço “as minhas próprias ordens” e acabo trabalhando até tarde da noite ou em finais de semana.
Além de ilustrar, eu trabalho como designer. Faço projetos gráficos e editoração. Também faço ainda alguns trabalhos de comunicação institucional. Claro, eu sonho em poder me dedicar exclusivamente aos livros em algum momento, mas isso só o futuro poderá responder.


Postado por Jacira Fagundes