quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

SP: Quintas (45)

 A LINHA

A solução é a suspensão do cotidiano, é você se ausentar, permanecer suspenso,  flutuante numa linha horizontal que vaga no ar, acima do nível do cotidiano, como estão com relação ao mar os planaltos.
Nessa fantástica linha estarão a morar a poesia e todas as formas de arte. E elas, certamente o levarão às coisas que o fizeram feliz da forma mais autêntica como isso pode ter ocorrido em sua efêmera e frágil vida.
Somos também o que vaga em nossa alma, e só nos resta como alternativa derradeira a suspensão do cotidiano cortante que nos maltrata, arrancando à forceps nossas pétalas e cores originais.
Sorrisos que nos marcaram profundamente foram aos tropeções sendo substituídos por formas bolorentas de olhares e risos que não atiçaram um fiapo que seja daquilo que mais prezávamos quando o coração cavalgava feliz de saci entre as folhagens e a poeira, na perdição de diapasões nos dias em que gorjear e tritrinar nos embelezava os ouvidos.
Abrir leques e rasgos numa velocidade de menino estonteante entre as folhas lisas de canaviais: só a lembrança já acalma o espírito e promete poesia.
A manutenção da linha horizontal suspensa no ar acima do nível do cotidiano é de natureza poética, e deve ser buscada no único lugar possível, fora da aspereza. Isto é: naturalmente em você, lá, onde nem os ciúmes penetram.

Marciano Vasques

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