terça-feira, 22 de maio de 2012

SP: Mensagem - Vinhedo, um pedaço da Itália

Vinhedo: um pedaço da Itália


Nessas frias manhãs outonais, tenho me recordado muito de Vila Opicina. A semelhança com esse povoado italiano vai além das parreiras nuas e altivas dessa época do ano, que avisto nas plantações vinhedenses logo que o dia acorda. Pessoas vestidas com casacos, luvas e cachecóis marcham rapidamente com suas botas invernais, entrando nos empórios que cheiram a café quente. Carros apressados como formigas atarefadas, que depois do horário do rush matutino, desaparecem das ruas e permitem que a atmosfera de cidade tranquila retorne a esse agradável cantinho do mundo, onde ainda vivemos dias de passado.

Eu escolhi essa cidade pela sua semelhança com a linda paisagem onde vivi minha história durante dois anos. Un piccolo paese,onde o outono é verde e frio como o daqui, salpicado de manacás e outras raras flores que insistem em colorir nossos dias sem calor, destacando-se à leve camada de gelo que a noite cobre sobre a natureza e as coisas, como se fosse um fino lençol de seda, para depois chegar o sol que aquece nossas tardes e esquenta nossas almas.

Opicina fica no alto de uma montanha. Daí começam as dessemelhanças com nosso interior paulista. A descida para a portuária Trieste, com suas cinzas do Império Romano, é feita de carro ou trem, beirando precipícios e com vista para o esplendoroso Castelo de Miramare e suas espécies botânicas colhidas ao redor do mundo pelo austríaco Almirante Maximiliano, que o mandou construir em 1856, e até hoje rasga a paisagem marítima com sua imponência. Trieste sofre o colapso do trânsito, e os sintomas são os famosos estacionamentos em fila dupla, em frente a prédios que não foram projetados para usuários de automóveis. A esses edifícios – sempre de poucos andares – foi adicionado um elevador com o passar dos anos (um modelo de mínimas dimensões, para caber no que antigamente era um suntuoso e espaçoso hall).

Lembro-me do Vento de Bora, misterioso e frio, atravessando o Mar Adriático, invadindo o golfo na época de neve e gelo. Andar nessas épocas é um exercício de resistência. Por vezes, faz-se necessário colocar cordas amarradas nas fachadas para que as pessoas consigam vencer a força do oponente invisível.

Trieste vive a mistura dos povos esloveno, croata e italiano, assim como nós vivemos com tantos povos. Ainda hoje, degustamos a miscigenação com italianos, não somente nas taças de vinho, mas em nossa cultura bordada por esse povo que atravessou mares, superou guerras e veio semear nosso solo com a cor da uva e nossos corações com exemplos cor de ouro. 

Simone Pedersen

Simone é escritora, associada da regional paulista da AEILIJ

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