domingo, 5 de agosto de 2012

SP: Página do Rospo (12)



NA PADARIA RUBI


—Qual a razão do ódio às sapas nos últimos 2000 anos?
—Gore Vidal responde, minha querida.
—Obrigado, Rospo, mas sei que tem algo a ver com...
—Isso mesmo!
—Já aconteceu no passado, no período medieval, por exemplo, de se disfarçar a defesa de um totalitarismo com...?
—Com...?
—Bem, todo poder centralizado resvala no totalitarismo... ou serve de cobertor...
—Sapabela, hoje é domingo, dia de se refletir leve.
—As coisas imensas não sossegam...
—Verdade, mas às vezes você quer pensar pelo mundo...
—Rospo, acredite, não estou sozinha...
—Eu sei, milhões de sapas no mundo também já estão refletindo sobre as razões da opressão e do ódio às sapas nos dois últimos milênios.
—Rospo, você anda esquecido...
—Você que pensa! Quero convidá-la agora para...
—Aceito!
—Vamos até a padaria Rubi.

*
—Rospo, nada como o licor de domingo... Logo ao amanhecer, abrindo o dia...
—Verdade, Sapabela. Estarei aqui sempre, com você...
—Às vezes, ser alienada é uma opção. Você pode ficar parada, com seu barco, na beira do cais, esperando a noite chegar... E depois, adormecer... E então se dar conta da sua dormência durante o dia...
—O entorpecimento seria a vida sem autenticidade, não é?
—Escritores, poetas, filósofos, artistas, sempre alertaram, emitiram seus gritos como feixes de luzes sonoras de besouros celestiais, sempre alertaram, clamaram, pela vida autêntica...
—Por que me disse que ser alienada é uma questão de opção?
—Às vezes, Rospo. Na maioria dos casos é opressão mesmo... Mas tem casos em que a sapa se nega a ver, e a lutar... Prefere viver uma circunstância de acomodamento... Se todas entendessem que o sacolejar da alma é tudo. As aventuras só querem existir... Não podemos bloquear a energia universal que nos perfura, nos atravessa, a cada nova manhã...
—Uma coisa é o medo... do desconhecido...
—Uma vez, faz tempo, uma sapinha perguntou: “Por que devo temer em vez de somente amar?”
—Incrível! Você voltou ao ponto de partida!
—Rospo, certa vez estava lendo um livro e o considerei meio difícil, porém saboroso...
—E então?
—Então, compreendi pela primeira vez que eu era a grande parceira do autor... E compartilhei o livro com a minha alma... Fui em direção ao livro. Estive nele... Descobri que ele estava lá, em minhas mãos, esperando por mim...
—Sapabela, você é a alegria da minha vida.

MV

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