domingo, 6 de janeiro de 2013

SP: A história de Heitor (12)

Capítulo XII
Final

O lobo delimitou seu território, um território vasto e bem afastado, que podia levar um dia inteiro para percorrer. Num dos limites passava um largo braço de rio, onde sempre havia peixes, aves, insetos, moluscos. Por todo lado encontrava fartura de caça e de frutos. Sempre havia novas plantas comestíveis crescendo, pois o lobo em suas andanças, ao eliminar as fezes, espalhava sementes dos frutos que comia.
Várias vezes a lua mudou de tamanho no céu, indicando que o tempo passava e as estações mudavam.
Chegara o tempo em que as folhas caem. No solo, elas apodreceriam para renovar os nutrientes. Logo no começo, enquanto os animais pisavam nelas ou em algum galho seco que caíra, provocavam estalidos. Era preciso cautela na hora de caçar ou toda espera era inútil porque a presa conseguia escapar. Mais fácil era caçar no capinzal, na faixa de terra plana, antes de chegar às margens do rio.
Certo dia, na parte de campo aberto, num ponto afastado de seu território, o lobo avistou uma coisa estranha. Ele estava no alto de uma colina, numa laje de pedra, observando o movimento nos campos, em posição de alerta, à procura de uma refeição. Nos territórios vizinhos, outros lobos faziam a mesma coisa. 
Aquele bicho estranho tinha patas que rodavam e olhos amarelos e brilhantes. Era enorme, além de desconhecido, e foi chegando devagar. O lobo procurou um lugar onde pudesse ficar bem escondido, mas continuou a observar.
De dentro daquela coisa, saíram alguns humanos, com pele esverdeada muito parecida com a dos lagartos.  Eles abriram a barriga daquele bicho que rodava e de dentro dela tiraram algumas coisas que colocaram no chão. Ele não podia entender o que estava acontecendo. Era muito diferente do perigo e muito diferente do que acontecera no lugar onde havia comida pronta. Misturado aos cheiros estranhos, o vento trouxe um odor familiar.
Na planície os humanos conversavam em voz baixa. Estavam preocupados, pois uma decisão definitiva havia sido tomada. Eles cumpriam a missão de soltar naquela parte mais protegida do cerrado os últimos animais que haviam criado em cativeiro, para ajudar a repovoar o cerrado com animais saudáveis...
Depois de alguns dias, ele cruzou novamente com Cacá.
– Soube do que aconteceu, Toró? Temos novos habitantes por aqui. Eles vêm de lugares distantes como sua mãe e têm uns nomes estranhos, como você e sua família, mas alguns deles já estão adotando nomes locais.
O lobo ficou curioso e disse:
– Gostaria de conhecê-los.
– Qualquer dia você encontra um deles por aí. Nunca se sabe...
Cacá estava certo. Pouco tempo depois, já no meio do outono, o lobo estava caçando quando avistou uma jovem loba. Ela era alta, com uma bela pelagem ruiva, um corpo perfeito, rápida e esperta, linda demais. Além disso, ela era muito desembaraçada e quando ele chegou perto, ela se apresentou sem rodeios:
– Olá, estranho, meu nome é Tina! E você, quem é?
– Meu nome é Toró, Heitor Toró, mas estamos no cerrado. Pode me chamar de Toró!

Aqui a história começa

Nilza Azzi


Postado por Regina Sormani às 12:14  
Um comentário:

Regina Sormani7 de janeiro de 2013 04:14
Nilza querida!
Adorei A história de Heitor. Parabéns, minha amiga.
Bjs da Regina Sormani

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