segunda-feira, 7 de novembro de 2011

SP: Quem conta um conto... - Regina Drummond

Olá!
Cá estou, de novo, para compartilhar com você a história deste mês.
Contada pela associada escritora Regina Drummond e enviada diretamente de Munique, Alemanha, garanto que é diversão na certa.
Prepare seu cafezinho e saboreie com a história.


SERÁ QUE O PAPAI ESTÁ GRÁVIDO?

Eu tinha certeza de que o meu pai estava mesmo grávido. Primeiro, porque tudo estava acontecendo do mesmo jeito que as coisas se passaram quando a minha mãe teve a minha irmã nenê. Segundo, porque todo mundo ficava falando nisso. E terceiro, por causa de uma pergunta que eu sempre me fiz. Vou contar só para você, por favor, não espalhe (a minha avó é quem fala assim), mas nunca entendi porque só a mãe carrega o filho dentro da barriga, enquanto o homem, que não faz nada, vira “o pai”.
No começo, meu pai ficou esquisito, meio sonhador, como se vivesse nas nuvens, distraído. Eu falava com ele, ele nem respondia. Quando eu insistia, ele fazia “Ahn?”. E todo mundo parecia preocupado com ele: “O Thomas está bem?”, perguntava um; e logo vinha outro: “Como vai o Thomas?”
Ele, quieto no canto, poucas palavras, muito olhar. Médicos. Exames. Remédios.
Em seguida, a barriga começou a crescer. E não apenas para a frente, para os lados também. O corpo dele pouca diferença fazia, mas a barriga foi indo, foi indo, igual balão soprado de mansinho... Fiquei com medo de que estourasse, já pensou? Estoura e voa tripa pra tudo quanto é lado, voa comida mastigada, coca-cola e hambúrguer, carne, arroz e feijão? Eca, que meleca!
Não estourou, mas cresceu mais um pouquinho. Estufou. Encheu.
Ele parecia entupido. Para andar, precisava apontar o bico dos pés para o lado de fora e jogar o corpo, passo da esquerda, perna da direita, passo da direita, perna da esquerda, quase andando de lado, marinheiro em alto mar. Eu, que já viajei de navio, sei que é assim: mesmo querendo ir para a frente, a gente não consegue, joga o corpo para os lados sem querer, empurrado pelo doce balanço das ondas, ai, ui!
Os amigos riam e diziam:
- O Thomas está grávido!
Ou perguntavam, zombeteiros:
- Quantas semanas já tem esse nenê?
Uns diziam que ele estava na trigésima semana, outros contavam por meses:
- Já deve ter uns sete ou oito!
E nada daquele nenê nascer!
Certo domingo, no almoço, ouvi uma conversa secreta das mulheres, daquelas que elas sempre mudam de assunto quando a gente chega. Minha tia dizia que achava muito estranho que as mulheres tivessem meninos e meninas na barriga.
- Injusto! – exclamou ela, nervosa, falando mais alto do que deveria e provocando um monte de psius. – Dos homens deveriam nascer os meninos! Das mulheres, as meninas! Ou o contrário, tanto faz. Qualquer coisa, menos desse jeito que é! Sobra tudo pra nós e eles ficam aí, em berço esplêndido!
Não entendi direito, mas já ouvi uma voz que parecia ser a da vovó, dizendo:
- Ser mãe é um presente da vida!
Se foi mesmo ela quem disse isso, posso apostar que se benzeu, fazendo o sinal da cruz várias vezes.
- Na opinião da senhora, seria melhor se as mulheres botassem ovos? – quis saber a minha prima mais velha.
Diante da ideia dela, minha tia ficou ainda mais brava e gritou, saindo da sala:
- Mal educada! Vá se meter na conversa de outro!
Bem... concluí, talvez o desejo da minha tia estivesse se realizando agora: dos homens nasceriam os meninos. E, a partir daquele momento, tive certeza de que meu pai estava com o meu irmão na barriga!
Resolvi perguntar:
- Pai, quando é que o meu irmão vai chegar?
Ele riu, surpreso:
- Que irmão? – Depois, piscou um olho para mim e respondeu: - Não sei. Nem sabia que você tinha irmão!
Eu fiquei toda desconsertada, mas minha avó entrou naquele minutinho e mudou o assunto.
O tempo ia passando e a barriga ia crescendo mais e mais. Com vergonha de perguntar, eu ficava imaginando coisas.
Se não fosse um filho, o que poderia ser?
Será que meu pai estava encantado ou tinha sido enfeitiçado por alguma bruxa?
E o que ela faria com ele agora?
Teria um monstro no barrigão?
Nesse caso, como ele tinha ido parar lá dentro?
Vai ver eram sapos. Isso. Meu pai bebeu água do rio, engoliu uns girinos e agora eles estavam crescendo, crescendo...
De que tamanho ficariam?
Fiquei apavorada! Tinha medo de que essas criaturas matassem meu pai!
Eu tinha muitas perguntas, mas nenhuma resposta.
De repente, me lembrei: De que rio meu pai poderia ter bebido água? Nem passava rio nenhum na minha cidade! Ali não havia nem riacho, nem córrego, nem mesmo um lago!
Não. Era uma bola o que ele tinha engolido. Ou melhor, ele tinha engolido o meu irmão. Só podia ser mesmo isso.
E, quando a barriga ficou de um tamanho tão grande que não tinha mais por onde crescer, resolveram operar. Era o nascimento.
Papai foi levado para o hospital. Mamãe preparou tudo, cuidadosamente. Pegou a mala que tinha feito na noite anterior e ajeitou no porta-malas; depois, ajudou-o a entrar no carro, perguntando, a todo momento, se ele estava bem. Eu fiquei com a minha avó, dando tchauzinho da porta. Mamãe dirigia devagar e custou para dobrar a esquina e desaparecer. Parecia que ela tinha dez dedos em cada mão e o carro, pneus de balão.
A notícia chegou logo: tudo correra bem.
Só mais tarde me contaram...
Sabe o que saiu de dentro do barrigão?
Uma melancia.
Foi aí que eu compreendi tudo: papai adorava melancia. Certamente, na pressa de comer, ele tinha engolido alguns caroços. Um deles brotou, e cresceu, e cresceu...
Ele tinha uma barriga de melancia!
E eu, querendo tanto um irmãozinho...


Um comentário:

Tina8 de novembro de 2011 09:04
Oi Eliana!
Saí hoje disposta a visitar os blogs que sigo...minhas amigas...e cheguei em um momento ótimo...cafézinho e história...adooooooro!!!!
Amei a história...
bem vou indo, tenho muito que caminhar ainda, são tantas as amigas!!!
outro dia volto viu?
beijinhos
Tina (SONHAR E REALIZAR) E (meu cantinho na roça)

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