Os equívocos
Há uma tendência de avaliarmos nossa situação educacional/cultural em bases comparativas. Se, sim, é óbvio que estatísticas confiáveis trazem parâmetros a ser almejados, há embutido neste mecanismo uma tendência a generalizar, a reproduzir lugares-comuns não comprováveis e, muitas vezes, equivocados. A boa revista literária portuguesa “Ler” oferece em sua edição de maio alguns números que fazem pensar. Dois deles, sobre o mercado norte-americano, paradigma maior em debates passionais e tantas vezes equivocados.
Os números
O primeiro número se refere à pesquisa do Jenkins Group, que aponta que 80% das famílias norte-americanas não compraram ou leram sequer um livro no ano passado. O dado sinaliza o fato de o hábito de leitura se sobrepor à própria estrutura educacional do país, ou ao grau de instrução de uma determinada população. O deslocamento dessa relação para nosso mercado tende a ser ainda mais dramático. Com a explosão da educação privada de baixa qualidade e o aumento da base de universitários no país, a capacidade de interpretar e compreender textos e a habilidade de escrita serão parâmetros incontornáveis para a ascensão profissional e social. Algo em que contam muito mais os hábitos arraigados do que a presença nos bancos escolares.
Os números II
No mesmo mercado norte-americano, levantamento realizado pelo “The author guild” aponta que um livro de ficção é considerado um sucesso comercial pelas editoras ao atingir vendas em torno de 5.000 exemplares. Muito longe de Dan Brown, James Paterson ou Stephenie Meyer, a realidade do autor de ficção norte-americano não difere muito da grande parte dos autores brasileiros. Não se vive da venda de livros. No máximo, mas mesmo assim em poucos casos, é possível que atividades decorrentes da produção literária complementem o orçamento do autor: palestras, oficinas, artigos. À grande maioria dos autores, quer em São Paulo, quer na Califórnia ou Chicago, resta a dura rotina de conciliar a escrita com outra profissão.
Postado por H
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