terça-feira, 1 de março de 2011

SP: O autor e sua obra - Lino de Albergaria

LINO DE ALBERGARIA
Sintonia Fina com o Leitor

por Angela Leite de Souza

Escrever para ser lido por pessoas de carne e osso e, de certo modo, dialogar com elas – assim Lino de Albergaria define seu papel de escritor. Mas a verdade é que esse autor de quase 90 obras, nos mais diversos gêneros, desempenhou também outros papéis ao longo de seus (quase) 61 anos de vida.
O primeiro passo rumo a uma existência cercada de livros foi dado muito antes que ele soubesse ler. Nessa época, ouvia com enlevo, repetidas vezes, um disquinho de vinil que contava a história de Ali Babá e os quarenta ladrões. E, certo dia, movido pela curiosidade natural de um menino de três anos, encontrou a caverna mítica dos tesouros na biblioteca do pai. Das paredes recobertas de prateleiras, os inúmeros livros como que pediam: “abra-nos...” Lino obedeceu, tirando um deles da estante e utilizando, ao invés de palavra mágica, um lápis bicolor, encontrado sobre a escrivaninha, para iniciar sua conversa com a literatura. Encheu as páginas com desenhos, contando uma história sobre a já impressa ali. Por sorte sua mãe foi clarividente, e não só achou graça na ideia como guardou o volume por trinta anos, só então entregando-o ao filho, como um troféu. 

Àquela altura, Lino já havia começado a caminhada literária. Nascido em Belo Horizonte, onde vive hoje, formou-se em Letras e Comunicação, cursos que fez simultaneamente, na UFMG e na PUC Minas. Depois de trabalhar algum tempo como redator em house organs, partiu para a França, onde cursou editoração, na Universidade de Paris, e fez estágio na biblioteca infantil de Clamart. Nasciam aí as primeiras histórias escritas para crianças, mas ainda como adaptações de contos populares.

De volta ao Brasil, Lino pôs em prática os conhecimentos adquiridos sobre a feitura dos livros e passou a trabalhar como editor de literatura para jovens. Exerceu inicialmente essa função nas editoras FTD, em São Paulo, e Rio Gráfica, no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, ia publicando seus próprios livros em diversas casas do país. E obtinha o reconhecimento para dois romances escritos para o público adulto – Em nome do filho, finalista da Bienal Nestlé de Literatura de 1985, e A estação das chuvas, premiado no Concurso do Estado do Paraná, em 1992.

Aquele período particularmente renovador da literatura infantil (anos 1980) transformou-se no objeto de sua tese de mestrado e, mais tarde, na obra intitulada Do folhetim à literatura infantil: leitor, memória e identidade (Ed. Lê, 1997), em que compara o momento com a época de florescimento dos folhetins do século XIX. 

Em 1991, retomando o trabalho de editor, Lino ficava agora à frente da área infanto-juvenil das editoras Lê e, posteriormente, Dimensão. Paralelamente, continuava seus estudos, concluindo com brilhantismo o doutorado em Literaturas de Língua Portuguesa: sua tese, que teve como tema Ouro Preto e o modernismo, seria recomendada para publicação pela banca examinadora.

A aprovação chegava igualmente para cada novo livro, firmando seu nome entre os maiores de uma literatura infanto-juvenil brasileira também cada vez mais forte e mais rica. “Tem construído uma sólida obra, em que demonstra especial sensibilidade para aprender a difícil passagem do mundo infantil para o mundo adulto”, escreveu Laura Sandroni, a propósito de Nosso muro de Berlim. “Linguagem concisa, coloquial e viva, perfeitamente sintonizada com o interesse e o nível da compreensão dos pequenos leitores”, assim Nelly Novaes Coelho analisou o conjunto de sua obra. “Numa literatura, como a brasileira, carente de textos que reflitam de maneira artística e respeitosa sobre o pré-adolescente, o texto de Lino de Albergaria se destaca”, disse Antônio Hohlfeldt sobre A mão do encantado.

Lino de Albergaria é atualmente redator da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, onde ingressou por concurso público, em 2002. Com seus múltiplos talentos e tantos títulos colecionados, ele não abre mão de uma das atividades que mais o gratifica – ir às escolas que constantemente o convidam para conversar com seus leitores. Afinal de contas, segundo ele, “o leitor constrói o autor”.

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