segunda-feira, 30 de setembro de 2013

SP: Pé de meia literário (24)



SOBRE  MEDIAÇÕES

    No breve espaço de tempo de sua leitura,  tratarei de ocupá-la  com a discussão de alguns aspectos de um conceito muito em trânsito entre nós:  reflexões sobre as questões da leitura e sua fluência e a formação de leitores. A mediação de que aqui  tratarei, de forma rápida, pode ser definida como o ato de se colocar no meio, entre pessoas, abrindo espaço para o entendimento e o diálogo. Embora ultimamente bastante difundida na esfera jurídica, como o espaço para a solução de conflitos, a mediação é muito mais amplo do que esta forma reducionista que vem ganhando espaços e corações em tantas instâncias. A mediação a que nos referimos é abrangente e pressupõe o diálogo como o cerne de sua definição.
   Penso que é possível afirmar que desde sempre a humanidade se “humanizou”  conversando, trocando ideias e experiências, narrando, contando, falando um para os outros, ouvindo. A conhecida dependência que os humanos têm dos seus familiares para sobreviver nas duas primeiras décadas de vida guarda em si uma dualidade contraditória: dependemos dos outros – e talvez não gostemos disso - mas, fazendo dessa dependência uma experiência prazerosa de convivência. Nesse sentido, desde o distante narrador à beira da fogueira até moderno terapeuta, das lições de aprendizagens às transmissões de conhecimento, essa convivência expõe nossa necessidade de mediarmos e sermos mediados, tomando a língua, escrita ou falada, como instrumento fundamental desse processo. A única diferença, dos tempos ancestrais aos dias de hoje, talvez seja a diversidade das mediações. Se antes, o mais velho do grupo era praticamente o único responsável pela ação objetiva e cultural da mediação, hoje, há uma diversidade muito grande de mediações, mediações ocorridas em múltiplas instâncias e em diversas situações. Somos mediados e mediadores em tempo pleno.
    No campo das questões ligadas à leitura, à leitura da literatura e  à formação de leitores, falamos de uma mediação que pressupõe leitores e livros, e uma situação de aprendizagem do gosto pela leitura. Essa situação, à moda vygotskyniana, implica em leitores mais maduros e autônomos que se colocam entre o livro e os leitores em desenvolvimento e os “mediam” para dar o salto qualitativo. Simples assim: quem já caminhou um pouco e passou pelo caminho estende a mão e apoia o menos experiente para o passo de avanço, da qualidade, na busca do que está mais alto, mais à frente. A mediação é a ponte que se constrói entre um e outro; é o meio, que por estar no meio, se apresenta como elo entre uma e outra ponta. Assim, a mediação e os mediadores se apresentam de muitas formas e em várias situações: as mediações familiares, as mediações institucionais, as mediações escolares, as mediações feitas pelos veículos de comunicação social (jornal, televisão, redes sociais, etc), entre outras. Em outra oportunidade, em outro texto, tratarei dessa matéria.
    Uma mediação, de cuja natureza faz parte a aprendizagem, sempre implicará um espaço de relação entre pessoas,  que ensinam,  que ajudam,  que mostram, que oferecem, que abrem e ampliam visões, que sugerem... No entanto, há que se registrar que o limite entre “mediar” e “fazer por” é tênue, delicado, quase sempre tentado a ser rompido. Sem dúvida, na maioria das vezes, é mais fácil e mais rápido e menos aborrecedor, fazer pelo outro, fazer no lugar do outro.
    Tomemos como exemplo de nossa breve investigação, o caso das mediações escolares. E dentro deste recorte atentemos especificamente para a questão do sujeito leitor,  e um dos aspectos do comportamento leitor, que é a seleção de livros. Por razões que todos nós conhecemos, pelo menos a maioria das razões, o espaço escolar é por excelência o espaço do diálogo, o espaço do encontro entre pessoas, o espaço da aprendizagem, o espaço do trânsito do conhecimento, enfim, o espaço das mediações. Pois bem, essa condição elevou o espaço escolar como o espaço onde as mediações entre o leitor e o livro devem acontecer com freqüência, com qualidade, com intensidade e com propriedade. Em decorrência disso, a burocracia estatal, plena de boas intenções, chamou para si a responsabilidade de selecionar, comprar e distribuir acervos para  milhares de escolas públicas brasileiras. (Não vou particularizar agora a discussão sobre este tipo de atuação da esfera pública e os desvios que vêm causando na produção e publicação de livros, pois isso merece uma discussão mais ampla). Ao fazer essa compra (milionária) de livros para montar acervos para as escolas, bem intencionados politicamente, os burocratas da educação cometem um erro fundamental, caro a qualquer processo de mediação da leitura: se colocam no lugar do sujeito e fazem por ele a seleção do acervo.
    Os educadores responsáveis pela mediação da leitura na escola são descartados da primeira etapa do processo de mediação: escolher o seu material de trabalho. Se um dos pressupostos de toda mediação é o salto de qualidade e a autonomia, como pode um educador crescer como sujeito pedagógico dentro de um processo de mediação se é alijado de parte substantiva de sua formação? Essa postura colonialista impede que educadores, errando e acertando, construam sua autonomia como educador/ selecionador de textos para o seu trabalho, e nesta trajetória vivam etapas fundamentais de sua formação como sujeito leitor e formador de leitores. Receber acervos prontos e pré-selecionados significa a mesma coisa que dizer que ele não tem capacidade para escolher o material de trabalho. Como escreveu,  e defendeu o filósofo da educação Paulo Freire, o educador deve ser sujeito do seu projeto pedagógico e esta subjetividade passa certamente pela escolha do seu material de trabalho. Que tipo de mediação ele vivenciará com os seus alunos, futuros leitores autônomos, se não teve o direito de escolher  os livros de acordo com o seu projeto pedagógico, com o seu interesse, com o contexto de sua realidade escolar? Tenderá a reproduzir o mesmo comportamento, confundindo mediação com o processo mais fácil que é o de se colocar no lugar do outro e escolher para ele?
    Inúmeras são as razões que sustentam esse processo centralizado de seleção, compra e distribuição de acervos para escolas públicas, mas certamente são muitas também as razões que nos obrigam a respeitar a construção do processo de mediação de leitura nas escolas, entendendo de uma vez por todas que o educador deve ser respeitado como sujeito “selecionador” do seu material de trabalho. Por mais que isto signifique tirar do processo pessoas gabaritadas e que fazem isso (se colocar no lugar do outro e escolher por ele) há décadas, é necessário e urgente mudar essa relação. Sob pena de falarmos de mediação sob olhares diferentes e criticarmos as produções escolares sem lhes darmos as condições corretas de trabalho.
    Mediação é assunto amplo e multifacetado. Mas precisa ser discutido por todos os que fazem e pensam a literatura, a leitura e a formação de novos leitores.


EDSON GABRIEL GARCIA
Escritor e educador


Postado por Regina Sormani às 11:44
Um comentário:


Regina Gulla7 de outubro de 2013 08:27
Li sua crônica, Edson, esclarecedora, faz refletir, provoca, avança na questão das mediações (na verdade uma ditadura editorial) e deve ser mais divulgado seu ponto de vista. Grata. Abraço da Regina Gulla. Grata à Regina Sormani também e todos os colaboradores.

domingo, 29 de setembro de 2013

SP: Técnicas de Ilustração - 09 - Pintura sobre papelão

Quem participa hoje da página Técnicas de Ilustração é minha querida amiga Heliana Grudzien, associada da AEILIJ do Paraná.
Parabéns e obrigada pela participação.
Um beijo,
Regina Sormani



A primeira ilustração do álbum "No Coração de Cora" de minha autoria ainda não está editada.. Técnica: PINTURA MISTA SOBRE PLACAS DE PAPELÃO CORRUGADO - de caixas de embalagens - com facas de corte.



A segunda, da Coleção Tagarela" que tem o título "A natureza das coisas... é assim, porque é assim" Saiu pela lei Rouanet em 2012. Textos de Adélia Maria Woellner. A técnica è:
PINTURA SOBRE PAPEL MARMORIZADO - este papel é obtido através de tinta óleo diluída em solvente e misturado com água, onde mergulha-se a folha de papel que será usado para a ilustração. o resto é pintura sobre este papel com betume ou qualquer outra tinta que se quiser usar.




segunda-feira, 23 de setembro de 2013

RJ: Lançamento de Cristina Villaça

Numa gostosa parceria, mãe e filha se reúnem em livro. "Minha festa de faz de conta" de Carolina Villaça Parker e Cristina Villaça, lançado pela Escrita Fina Editora, tem lançamento marcado para o sábado 28 de setembro. Clique na imagem para ampliar.


terça-feira, 17 de setembro de 2013

RJ: Nova parceria: FLICEPE

FLICEPE, Festa Literária organizada pela Escola do CEPE (Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais) de Miguel Pereira acontece desde 2011. Este ano, em sua 3ª. edição, a AEILIJ firmou parceria, levando o Discussões AEILIJ e a 5ª. Mostra Cores e Formas com artes de 25 ilustradores associados. Nossa mesa do Discussões AEILIJ promete e ficou assim composta:

Tema de discussão: "Temas polêmicos, apresentar ou não às crianças, de que forma e porquê."

Provocadores: Anna Claudia Ramos e Annielizabeth.
Mediação de Sandra Pina.

A 3ª. Edição da FLICEPE acontece em Paty do Alferes. Clique no folder para ver melhor a programação. A AEILIJ agradece à organização da FLICEPE pela nova parceria!



sexta-feira, 6 de setembro de 2013

RS: Projeto acontece na Casa de Cultura Mário Quintana

Aconteceu ontem, dia 05, o evento programado pela 1ª CRE na Casa de Cultura Mário Quintana.

A AEILIJ teve o lançamento da Exposição de Ilustrações e Minibiblioteca Itinerante, que veio acontecendo nas escolas estaduais desde março deste ano, mais uma vez apresentado pela Patrícia Langlois, coordenadora do projeto “Tecendo Histórias, Traçando Ideias” e pela Jacira Fagundes, da AEILIJ- Regional RS.

Presentes, coordenação da 1ª CRE, diretores e professores das escolas envolvidas no projeto e autores de LIJ – Leila Pereira e Jorge Martins.

O Projeto traz a público, no 5º andar da Casa de Cultura, espaço Sapato Florido, além das ilustrações e exposição dos livros da Biblioteca Itinerante – belíssimos trabalhos das escolas, resultantes do projeto.

As escolas e o público em geral, estão convidados a visitar a exposição, assim como apreciar e ler os livros que se encontram no expositor cedido pela  Biblioteca Lucília Minssen.

O Projeto “Tecendo História, Traçando Ideias” terá encerramento no dia 06 de novembro, na 59ª Feira do Livro.
           

Postado por Jacira Fagundes

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

SP: Canto & Encanto da Poesia

Sobre essa


Caí sobre esta terra, um dia desses,
da abertura que Deus deixou pra mim,
nesse azul, desse céu que não tem fim,
e busquei, desde então, meus interesses.

Este chão que me acolhe fez-me assim,
criatura que a todos entendesse,
mas não sei de outro tipo como esse
que não olha pra baixo; aéreo, enfim.

É que a velha lembrança dos azuis,
a saudade dos tempos em que fui,
para além, desse espaço, na quimera,

poeira de uma estrela – se eu pudera! –
gera em mim essa eterna nostalgia
que não cedo e por nada cederia.

Nilza Azzi


Nilza Azzi é escritora, associada da regional paulista da AEILIJ.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

RJ: Lançamento em Teresópolis e Ipanema

A escritora Andrea Taubman e a ilustradora Sandra Ronca estarão, no fim de semana de 14 e 15 de setembro, conversando sobre o livro "Meu amigo partiu", Ed. Vida & Consciência.

Os lançamentos acontecem em Teresópolis, na Casa das Letras e em Ipanema/RJ, na Livraria da Travessa. O livro fala, de forma delicada, sobre perdas, questionamentos e libertação.