Queridos associados da AEILIJ!
O escritor Alexandre de Castro Gomes, o Alex, e a ilustradora Cris Alhadeff (RJ) estão participando do Vice-Versa de junho.
Quero agradecer a participação e parabenizar a dupla.
Um grande beijo!
Regina Sormani
Cris Alhadeff
Alexandre de Castro Gomes
Perguntas de Alexandre de Castro Gomes para Cris Alhadeff
1) O primeiro livro publicado com suas ilustrações foi lançado em meados do ano passado. De lá para cá já são 12 obras com seu traço, sem contar sua participação na primeira antologia da AEILIJ, o livro "Trem de Histórias". Dá tempo de fazer outras coisas?
Não acho que seja muito, não. Olha só: comecei a ilustrar LIJ em 2009, com Condomínio dos Monstros e Alice Faz Aniversário, que foram publicados em 2010. Logo depois vieram o Baile das Caveiras, Alfinete, o Porco-espinho e o Vou Contar um Segredo, Uma História Cheia de Medo (todos também de 2010). Depois foi a vez de uma antologia de fábulas, do Festa do Calendário, do O que é que não é?, do O Senhor dos Dragões, e do Era Uma Vez, Uns Três (que estou ilustrando). Tenho mais três em produção, aos quais vou me dedicar em seguida, mas que já estão bem adiantados. Cada um com seu estilo, o que me traz a possibilidade de experimentar, que é o que eu mais gosto. Fora isso, continuo como webdesigner, trabalho que faço desde 98, tenho desenvolvido imagens para publicidade e estou me dedicando também ao design de superfície, que é uma delícia de fazer.
2) Você compra livros pela capa? A beleza de um livro está somente nas mãos do ilustrador?
Não posso dizer que compro, mas é claro que é o primeiro fator que me atrai ao livro, como ilustradora e não como consumidora em potencial (mãe) Uma bela capa, instigante, com um título inteligente, engraçado... Uma edição, que surpreenda pelos materiais utilizados é sempre uma delícia. Mas sempre tendo a criança em mente. Ela é o público alvo. É ela quem tem que ser cativada pelo livro. Na minha opinião existem muitos livros por aí que não são produzidos pensando no público infantil. São livros elaborados, caprichados, mas que são para inglês ver. Livros que tanto o texto quanto a ilustração são feitos para arrebatar o adulto, com um conteúdo que se revela morno sob o olhar infantil. Quantas vezes li livros premiadíssimos para meus filhos e os vi demonstrar empolgação zero? Acho que isso deve ser repensado.
3) Como o convívio com seus filhos influencia suas ilustrações?
Posso dizer que foram meus filhos que me fizeram redescobrir o mundo da literatura infanto-juvenil, e que através desse resgate, descobri a minha praia. Adoro ilustrar LIJ. Gosto demais de frequentar livrarias com meus filhos e descobrir com eles novos livros para explorarmos juntos. Tem muita coisa boa sendo produzida. Eles participam muito do meu processo criativo, opinam, sugerem...desenham muito, paralelamente, sempre tentando acrescentar suas ideias. Trazem da escola livros, para lermos juntos, que, imaginam, vão me trazer alguma surpresa, alguma novidade. Muito legal, também, é ver que eles já reconhecem alguns ilustradores pelo traço. Olham e dizem:
- Olha lá um livro da fulana, ou do fulano!
4) Você ilustrou dois dos meus livros: "Condomínio dos Monstros" e "Festa do Calendário", e está atualmente ilustrando o terceiro, "Pinguina vai ao Polo Norte". Qual a melhor parte de morar com o escritor? E a pior? Pode botar a boca no trombone. Mas, pega leve, viu?
Para mim é um privilégio dividir a vida com um escritor : podemos trocar impressões, opiniões e emoções. Por outro lado, é estranho ter o autor do livro, que estou ilustrando, assistindo passo a passo do meu processo de criação e opinando ativamente em cada detalhe. Ainda estou me acostumando com isso. Tudo é um processo: a cada livro, minha produção fica mais rápida e mais elaborada - à medida que vou ficando mais à vontade com tipos diferentes de materiais e suportes. Para experimentar, preciso de textos, e ter você por perto é diversão garantida.
Perguntas da Cris Alhadeff para Alexandre de Castro Gomes
1) Como foi que você se interessou por literatura?
Quando pequeno, estudei na Escola Americana da Gávea, que tinha uma bilbioteca infantil recheada de ótimos livros, nacionais e estrangeiros. Cresci lendo Flicts, Curious George, The Cat in the Hat, A Turma do Pererê, Monteiro Lobato... Tenho até hoje dois livrinhos da Charlotte Becker que eu adorava. Escritos na década de 40 e publicados aqui, no comecinho da década de 70, pela coleção Primavera da Melhoramentos. Eram feitos em capa dura e traziam a história de 2 gêmeos diferentes em tudo, mas muito companheiros. Cresci um pouco e adotei os gibis. Meus pais eram separados e sempre que eu passava fins desemana com o pai, ele me dava revistinhas da Disney, da Turma da Mônica, do Bolinha, do Homem-Aranha. Me lembro também que havia um programa legal na Escola Americana, onde uma vez por ano ganhávamos um catálogo com uma série de livros para escolher, alguns importados e outros nacionais. Comprei um monte. Descobri os livros de bolso de bangue-bangue que meu pai colecionava. Ele devia ter uns 50 títulos. Li todos. Duas ou três vezes cada um. Voltei a ler sem parar. Comprei várias coleções da Ediouro: Clube do Falcão Dourado, A Turma do Posto Quatro, Os Seis, Inspetora, Capitão Lula. Eu era mesmo viciado nesses livrinhos. Até hoje tento completar a coleção dos detetives do posto quatro de Copacabana, escrita pelo talentoso Hélio do Soveral (na minha opinião um gênio brasileiro em textos juvenis). Outra por quem eu tinha uma paixão de leitor era, e ainda é, a Stella Carr, com suas aventuras dos Irmãos Encrenca (O Incrível Roubo da Loteca, O Enigma do Autódromo de Interlagos e outros). Eu também gostava muito do Marcos Rey. O Rapto do Garoto de Ouro, O Mistério do Cinco Estrelas e Um Cadáver Ouve Rádio tinham lugar de destaque na minha biblioteca. Assim como os clássicos O Gênio do Crime, de João Carlos Marinho, Os Meninos da Rua Paulo, de Ferenc Molnár, O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida, O Apanhador no Campo de Centeio, de JD Salinger, A Odisséia de Homero e muitos outros.
2) Como é seu processo criativo?
O meu processo criativo é caótico. Não tem regras. As vezes a ideia vem quando estou escrevendo sobre outra coisa. Pode ser no bar, durante o banho, no restaurante... Nem sempre aparece tudo de uma vez. E o texto quase nunca sai como foi pensado. Muitas vezes me empolgo em uma determinada cena, ou conflito, e mudo tudo de lugar. Claro, isso para os contos curtos.
Quando trabalho o romance, crio um roteiro e busco segui-lo. Tenho liberdade para fazer alterações, mas o ritmo de um romance é diferente do ritmo de um conto. As cenas são mais detalhadas, os personagens têm mais tempo para se desenvolver. Os conflitos são espalhados ao longo da história. Nesse caso busco ser fiel ao script. Algo que me acontece tanto no conto quanto no romance, é que, normalmente, a trama aparece antes do personagem. Penso: "E se monstros morassem em um prédio? O que aconteceria?" Só depois que decido quais os monstros serão os condôminos. Claro, existem excessões. Minha filha Nina me pediu que escrevesse uma história sobre pinguins. Do personagem nasceu Pinguina vai ao Polo Norte. Há outras vezes em que a trama e os personagens surgem por conta de uma frase ouvida por aí. Por exemplo: Alguém disse para alguém na rua que ele estava com uma cara de segunda-feira. As engrenagens na minha cabeça começam a rodar e fico pensando: Como seria a cara da Segunda- feira? E da Terça? Baseado nisso, saiu o Festa do Calendário, que lançarei agora no Salão da FNLIJ.
3) Qual a sua maior alegria como criador literário? Qual o pior momento?
Sem dúvida a maior alegria é ver a reação das crianças ao lerem a história. Um acontecimento que me deixou muito feliz foi quando cheguei em uma festa de um amigo dos meus filhos e fui parado por um menino que me olhou nos olhos e disse, com um sorriso maroto: "È chato ser gostoso!". Na hora não entendi e pensei que ele estivesse me criticando por não ter ido falar com ele assim quecheguei. Depois que fui me tocar que aquela era a frase de desfecho do meu livro O Julgamento do Chocolate. Fiquei bobo. Agora dentro da carreira tive 3 momentos que me marcaram. O primeiro, é claro, foi quando o meu primeiro livro chegou às minhas mãos. Era o sonho realizado. Eu me tornei um escritor! O segundo foi quando a diretora Patrícia Faloppa me pediu para levar o Condomínio dos Monstros para o teatro. Aquilo simbolizou não só o reconhecimento pelo trabalho por alguém de outra vertente artística, mas a possibilidade dele seguir seu caminho pelo mundo. O terceiro momento será agora, com a publicação do Trem de Histórias, a primeira antologia da AEILIJ, que eu tive o privilégio de organizar. Claro que não fiz nada sozinho, somos 37 autores envolvidos no projeto. Mas, acompanhei cada etapa do processo. Muito diferente de quando entrego o texto para a editora e depois, como mágica, ele aparece prontinho na minha mão. O pior momento é esperar pelo resultado das análises dos editores. É angustiante. Sei que não é culpa de ninguém, que o processo é mesmo demorado, mas e daí? Fico ansioso. É como se o filho estivesse pronto para nascer, mas a parteira não se decide se vai ou não vai fazer o parto.
4) Alex, nos conte sobre o “Trem de Histórias”. Como foi cada passo desse projeto?
No final de março, a Thaís Linhares, em conversa com o Tonton e o JP Veiga, na lista de discussão da AEILIJ, lembrou de um projeto de associados para uma antologia de textos sobre trens. O assunto foi ganhando adeptos, mas faltava alguém para gerenciar a coisa. Antes que aideia morresse eu me ofereci. Achei o projeto genial e sonhava em ter tudo pronto para o Salão da FNLIJ. Não seria fácil, mas vi que muitos colegas estavam animados. O tema de discussão na primeira reunião do Salão será o livro digital. Perfeito. Faltavam 2 meses para o evento e se quiséssemos publicar alguma coisa, teria de ser em e-book. Era também a oportunidade de apresentar essa mídia para vários membros da Associação. Eu já tinha contato com a editora Caki Books, por conta do livro da Pinguina, mas não conhecia a Camila direito. Falei com o JP a respeito e ele fez a ponte entre a gente. A Camila adorou a ideia e se comprometeu a ajudar no que fosse possível. Além do e-book, o livro teria impressão por demanda. Comuniquei a todos que havia uma editora de e-books interessada e a turma apoiou. Faltava o aval da Anna Claudia Ramos, afinal queríamos que a AEILIJ fosse a beneficiada com os Direitos Autorais. A Anna estava na Itália, mas assim que se inteirou da história, não só concordou como aceitou o convite para escrever a introdução do livro. A primeira coisa a se fazer era criar prazos para o recebimento dos textos (15 de abril) e das ilustrações (15 de maio), além de definir o tamanho de tudo. Em três dias (!) éramos 19 escritores e 6 ilustradores. As histórias foram chegando aos poucos. Alguns escritores, entre eles o Zé Zuca, o Tonton, e a Nilza Azzi, convidaram ilustradores. A Regina Gulla se ofereceu para ilustrar o dela. Meu maior medo era não conseguir equiparar os dois lados. Se preciso fosse, cada autor de imagem faria duas ilustrações. A Nireuda e a Regina ofereceram ilustrações extras para ajudar. No fim, saí ligando para ilustradores e convidando-os a participar do livro, afinal era a primeira antologia da Associação! Conseguimos fechar o grupo com a chegada da Anielizabeth da Europa. Próximo passo, selecionar quem ilustraria o quê. Achei que fosse haver problemas. Pensei "Ih! E se Fulano não quiser o texto de Beltrano? E se Beltrano não gostar das ilustras de Cicrano?" Mas uma vez tudo deu certo. Criei a seguinte regra: O primeiro texto entregue seria repassado ao primeiro ilustrador que se apresentou para o projeto. O segundo para o segundo e assim por diante. Enquanto os ilustradores desenvolviam suas artes, precisei definir o nome do livro, batizado pela Angela Leite de Souza, e redigir o Termo de Cessão. Pedi ajuda à amiga Henriette Effenberger, que foi presidente da ASES (Associação de Escritores de Bragança Paulista), acostumada a produzir antologias. Fiz a primeira versão do Termo e o colega Tonton me ajudou depois a chegar na forma final. Houve ainda a negociação de prazo e cláusula de não-exclusividade no direito de publicação, que a Caki aceitou numa boa.As ilustrações começaram a chegar. Aliás, a Caki ficou tão encantada com a qualidade dos trabalhos, que resolveu aumentar o tamanho do formato do livro e imprimir com capa dura. Hora de escolher a capa. Depois de conversar com a editora, o JP, a Nireuda, a Cris e a Sandra Ronca, decidimos usar uma linda xilogravura da Nireuda. Faltavam pequenos detalhes da diagramação. Sugeri que a editora usasse um trenzinho na paginação e ela gostou da ideia. Tirei todos os meus antigos trens elétricos do armário, juntei com os dos meus filhos e fotografei tudo. Editei as imagens e consegui as silhuetas dos vagões para entrarem com a numeração das páginas. Pedi para o JP me fazer uma ilustração de um trilho para preencher as páginas em branco e ele o fez na mesma hora. Restava planejar o lançamento do livro, que estará pronto para o primeiro dia do Salão. Sandra Ronca sugeriu os marcadores de livros, ou filipetas. Liguei para a FNLIJ para tentar reservar um espaço para o lançamento. Infelizmente o pedido foi negado, pois a Caki não é mantenedora da Fundação. Conversei com a Anna e resolvemos deixar o livro exposto no stand e marcadores de livros em volta. Quem quiser comprar o "Trem de Histórias" bastará acessar o site da Caki Books
(www.cakibooks.com.br)
4 comentários:
Tonton1 de junho de 2011 13:12
Prezados amigos Alex, Cris e toda turma da AEILIJ-SP,
Simplesmente sensacional o papo, assim como os dois recíproco-entrevistados (esta expressão acaba de ser inventada, se entrar nos dicionários, vou querer os meus DAs - rs!). Aliás, tudo nesta Associação, desde a Antologia às pessoas, é claro, é coisa boa!
Abração, amigos, fiquei muito feliz de conhecer mais um pouco de vocês. Tudo de muito, muito bom, da terra do frevo e do maracatu, Tonton
Ana Cristina Melo2 de junho de 2011 04:38
Amei esse vice & versa.
A antologia Trem de Histórias serviu para unir ainda mais pessoas com a mesma paixão pelos livros.
E conhecer os detalhes da sua organização só me faz admirar mais o trabalho que foi feito com tanto carinho, e num tempo tão curto.
Parabéns aos dois!
Beijão
(Obs: se o comentário entrar várias vezes, me desculpem. Deu vários erros quando tentei publicar.)
Anônimo2 de junho de 2011 09:55
Obrigado, Tonton e Ana. O carinho dos colegas é essencial para o sucesso em qualquer empreitada.
Regina, mais uma vez, obrigado pelo espaço. O blog AEILIJ Paulista é um exemplo para todos.
Beijos!
Alex
Simone Alves Pedersen2 de junho de 2011 14:42
Ei, que super dupla dinâmica! Muito bacana isso! Eu sou fã dos dois. Um dia quero um livro ilustrado pela Cris, de quem adoro a arte.
Os textos do Alex são muito maneiros!