segunda-feira, 1 de março de 2010

SP: Vice-Versa de Março de 2010

Participam do Vice-Versa de Março as escritoras Benita Prieto e Lúcia Fidalgo, da regional RJ. Obrigada e um grande beijo,
Regina


Lúcia Fidalgo

Benita Prieto


Perguntas de Benita Prieto para Lúcia Fidalgo

1- Bibliotecária, contadora de histórias e escritora... Como se deu esse percurso? Esses eram seus sonhos quando entrou na universidade?

Na verdade eu acho que eu sempre quis ser tudo isso e muito mais...Desde pequena eu dizia que queria ser professora. Como era a caçula, só dava para dar aulas para as bonecas. Depois é que nasceu meu irmão, mas, eu não dava aulas para ele.Tinha um desejo imenso de aprender a ler. Minha mãe diz que com 4 anos eu já lia alguma coisa. Acho que fui movida pelo desejo.Quando escolhi fazer biblioteconomia....(hoje eu acho que a biblioteconomia é que me escolheu)escolhi porque a biblioteca da minha escola não era a biblioteca dos meus sonhos e eu queria de verdade que ela fosse diferente....e quero até hoje. Ser contadora de histórias e escritora ( apesar de sempre fazer parte da minha vida essas narrativas) realmente eu não pensava em ser. Mas acho que essa linha de pesquisa já estava traçada na Universidade para mim. Meu olhar cigano me diz sempre que nascemos com uma das mãos construída e outra que vamos construir, e elas trabalham juntas. E juntando tudo isso, eu hoje sou o que sempre morou no meu desejo e no meu sonho. Ser professora. Uma professora bibliotecária, escritora e contadora de histórias.

2- Você tem uma história pessoal muito bonita de promoção de leitura em sua casa, pois sua mãe Dona Neuza é uma exímia narradora. Conte como aconteciam esses saraus com seus irmãos.

Realmente, minha mãe foi responsável por muitas coisas nessa minha escolha. Ela contava e cantava muito pra gente. Cantava músicas que ninguém na minha escola conhecia.Me embalava com as músicas de Lupicínio Rodrigues e Dolores Duran. Que música é essa?...Perguntavam meus amigos quando eu ameaçava cantarolar. Lá em casa todo mundo sempre cantou. Até meu pai, que não tinha lá a voz igual à dela, quando estava bem humorado, cantava fados da terra do pai dele. Cantar e contar para mim é muito parecido. Minha família é portuguesa, por parte de pai e de mãe. Mas vivi sempre com a família do meu pai, pois meu avô construiu um prédio com seis apartamentos e deu um para cada filho....E ali moramos: a família CRUZ FIDALGO....Por ai já começa uma história sem fim. Mas as melhores histórias eram contadas nas minhas férias. Passávamos em Mury, Nova Friburgo. Lá tínhamos uma casa bem pequena,mas grande em amor.Com janela e porta de coração, e quando chagávamos lá era alegria o dia todo . E de noite era só juntar as camas para um corpo aquecer o outro e abríamos bem os nossos ouvidos para escutar a voz doce e suave com que minha mãe costurava os nossos sonhos... Hoje ela não conta nem canta mais. Brigo com ela, mas, ela diz que não tem mais voz. Não é a voz que se cala, é o coração que silencia.

3- Dizem que o contador proclama as palavras do autor. Seria somente isso? O que é essencial para um contador de histórias?

Ah.... Se fosse só isso... Mas não é. Vejo o contador como um personagem que salta da história e veste palavras, se perfuma com os cheiros dos contos e vai seduzindo os ouvidos e olhos dos ouvintes que penetram naquilo que ele conta. Feitiço? Não, é o poder da palavra, palavra que ganha forma e formato e cresce lentamente até que a história termina e o ouvinte fica esperando mais. O contador precisa ter isso...essência, que embriaga, perfuma, encanta, seduz e convida sempre a escutar mais uma, mais outra e outra...Sherazade, todos nós temos um pouco dela.

4- Você acha que a Internet pode ser uma aliada da promoção da leitura?

Na promoção da leitura e em toda a construção de pesquisa que buscamos. Apesar dos caminhos tortos que ela possui, os caminhos verdadeiros são muitos e ótimos para ajudar na promoção do livro e da leitura. Como tudo na vida, para usarmos a internet também temos que saber fazer escolhas.


Perguntas de Lúcia Fidalgo para Benita Prieto

1- Conta um pouco da sua trajetória profissional com leitura, narração oral, produção... Começou como engenheira eletrônica?

Sou uma criatura inquieta e testei todas as áreas. Primeiro me formei Técnica de Laboratório em Análises Clínicas, pois queria ser médica. Depois fiz Engenharia Eletrônica por gostar de matemática e física. No entanto, a arte estava o tempo todo presente na minha vida através do Teatro que faço desde pequena. 
Um dia resolvi "chutar o balde" e assumir minha veia artística. Foi aí que por artes e bruxarias de Maria Lúcia Martins cheguei à FNLIJ - Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e ao projeto Meu Livro, Meu Companheiro, meu passaporte para o fascinante mundo da promoção da leitura. O resto aconteceu naturalmente. A convite de Celso Sisto entrei no Grupo Morandubetá de Contadores de Histórias, foquei meu trabalho como produtora cultural na área da leitura, voltei para a universidade e me especializei em Literatura Infantil e Juvenil e Leitura: Teoria e Práticas, passei a viajar, escrever... e lá se vão 20 anos.

2-Para você, qual o efeito da narração oral na formação do leitor?

Todos os relatos nos mostram que é a porta de entrada para o livro. E não conheço pesquisador respeitado que diga o contrário. Portanto, tenho que me render às evidências. 
Acredito que ninguém fica indiferente à sedução da palavra bem dita. E tem outra coisa que está intimamente ligada à narração e a formação do leitor que é o afeto. Contar uma história é dividir com o outro o que de melhor existe dentro da gente, nossa emoção. O ouvinte terá desejo de buscar onde estão essas palavras que tanto o tocaram. Assim o processo se completa e chegamos ao texto escrito.

3-Como ouvinte de tantos contadores, como você recebe a palavra dita por eles?

Sempre me coloco na posição de aprendiz. As histórias contadas com verdade emocionam e daí pouco importa se a performance do contador é exuberante ou tímida. O que realmente vale é perceber meu imaginário tocado, meus sentidos mexidos, minha alma repleta. Quando ouço uma história bem contada me invade uma felicidade infantil, um desejo de contar para os outros o que ouvi.

4-E os seus projetos hoje como contadora, produtora, especialista em leitura... Fale um pouquinho de cada um deles.

Esse ano promete... Mas aprendi que o melhor é manter em segredo até assinar os contratos. Com certeza faremos o Simpósio Internacional de Contadores de Histórias no Rio de Janeiro e Ouro Preto.
Mas uma ação que depende só de mim já coloquei na internet. É o blog: http://falandodeleitura.blogspot.com/ que pretendo seja um instrumento de ajuda para pais, professores. Acho que é minha obrigação compartilhar esse trabalho que desenvolvo há tantos anos.


Um comentário:

Tânia Alexandre Martinelli2 de março de 2010 12:41
Parabéns pela entrevista!
Que saudades de ouvir você contar história, Benita!
Um beijo grande!
Tânia Alexandre Martinelli

Nenhum comentário:

Postar um comentário