Eu já viajei bastante por aí. Tive a possibilidade de me deparar com diferentes experiências e conhecer situações inusitadas. Com o tempo, fui adquirindo um hábito que, hoje, está totalmente cristalizado. Cheguei a pensar que fosse um problema, mas aprendi a administrá-lo. Não consigo viajar por viajar. Cada vez que isso acontece, preciso mergulhar nos hábitos locais, falar com as pessoas, ouvir a música regional e, graças à tecnologia, tirar centenas de fotos. Faço isso porque sei que vou encontrar alguma história por ali.
Foi assim que nasceu o meu primeiro livro individual: O OURO DO FANTASMA, que se passa na cidade de Tiradentes (MG). Um amigo me recomendou que eu fosse visitar a cidade, que pareceria um presépio. Penso que seja realmente uma das cidades mais bem conservadas, onde os aspectos históricos são percebidos pelos olhos, ouvidos e sentidos com os pés, no velho calçamento ainda preservado.
Então, para mim, Tiradentes é uma referência.
Nunca pensei que fosse encontrar algo tão autêntico em outro lugar, mas... encontrei e também foi a primeira cidade que falou comigo.
Trata-se da cidade de Goiás, antiga Goiás Velho, que fica no estado de mesmo nome e tem o título de patrimônio da humanidade concedido pela UNESCO.
É realmente muito especial. Para quem vive em cidades grandes seria fácil achá-la monótona, paradinha paradinha. Porém, para descobri-la, é necessário fazer tudo o que eu gosto de fazer. Tenho tantas histórias que até me perco!
Mas, por que eu ouvi a voz da cidade? Bem, isso aconteceu porque nela morou a poetisa Cora Coralina. Ao voltar para casa resolvi ler os livros dela e fui conhecendo as histórias das ruas por onde andei, do rio e até das pessoas que já não existem mais. Então, ao tomar contato com isso, foi como se eu estivesse ouvindo a voz mais profunda da alma da cidade, diferentemente de Tiradentes, da qual fui testemunha silenciosa e criei as pessoas e a minha própria história.
É por isso que sinto que Goiás falou comigo!
Manuel Filho
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