terça-feira, 10 de agosto de 2010

SP: Vice-Versa de Agosto de 2010

Olá a todos!

No mês de agosto apresentamos a escritora e ilustradora Carolina Vigna-Maru entrevistando o escritor e ilustrador Aílton Sobral e vice-versa. Ambos são associados da regional SP.
Agradeço pela participação. Estamos contabilizando, neste mês, 98 entrevistas.
Forte abraço,
Regina Sormani 


Carolina Vigna-Maru

Ailton Sobral


Ailton responde:

1- Como é o processo criativo de um livro infanto-juvenil sendo casado com alguém de educação infantil?

É o casamento perfeito! Risos. Acho que essa coincidência é muito bem vinda. Primeiro, abastece o meu caldeirão interno de ideias. Todos os dias a Dani me conta mil histórias sobre o dia-a-dia dos pequenos e muitos desses relatos vão borbulhar no caldeirão criativo e poderão virar histórias ou personagens no futuro. Ter essa ligação com universo infantil, mesmo que de forma indireta, é muito bacana. Outro momento é quando tenho algo pronto e preciso de uma opinião. Ter o olhar crítico dela, com a visão de pedagoga, de alguém que convive com as crianças e que é apaixonada por livros, ajuda muito. É sempre uma avaliação que pesa muito. Além disso, acabo acompanhando como os livros são trabalhados dentro da escola, a preparação que é feita antes de se contar uma história, a produção de materiais e bonecos para a contação, e as atividades pedagógicas posteriores. 

No caso do livro A Boca Mágica, a Dani contou para os seus alunos antes do lançamento. Eles tinham de 4 a 5 anos e receberam muito bem a história. Depois da contação fizeram desenhos. Alguns podem ser vistos no blog do livro. http://a-boca-magica.blogspot.com/2010/02/primeira-aparicao-em-publico.html

2- Você tem um background forte em publicidade. Você acha que os artistas (escritor, ilustrador, artista plástico, ator, etc) se beneficiariam em aprender um pouco de mercado, marketing, etc?

Acho que o processo criativo não deve ser contaminado pelo marketing, a concepção deve atender apenas aos aspectos artísticos. O olhar do artista deve ser totalmente livre. 

Depois da obra acabada, então é preciso encará-la como um produto cultural, que tem mercado, que tem consumidores e que paga contas. Mesmo que seja administrado por um agente, acho que o artista deve conhecer como funciona a sua "cadeia produtiva". Naquela velha história do Picasso, que ao pagar um jantar com um de seus desenhos, é alertado pelo dono do restaurante que o desenho não estava assinado, e responde que queria apenas pagar o jantar, não comprar o restaurante. Por mais folclórica que seja, percebe-se que ele tinha consciência do valor da sua obra e nem por isso o seu trabalho se tornou medíocre. O fato é que o mercado da arte existe, se isso é bom ou ruim, não vou entrar no mérito, mas ele existe e não pode ser ignorado pelos artistas.

É aí que entram as associações como a AEILIJ, que esclarecem, informam e assessoram os escritores e ilustradores.

No caso dos livros, por exemplo, com as novas tecnologias, os autores podem participar mais ativamente da promoção de seus livros, não deixar tudo por conta da editora. Para as elas pode ser mais um livro no portfolio, mas para o autor, principalmente o iniciante, é o livro da sua vida. Acho que é legítimo que ele conheça e use ferramentas que possibilitem que o seu livro tenha pelo menos a chance de ser visto pelos leitores. As redes sociais na internet tem sido um campo bastante interessante e que não exigem grandes investimentos. 

3- O seu livro fala de saúde dentária de uma maneira muito doce, sem cair na armadilha fácil de ser muito técnico e sem tratar o leitor como idiota. Foi difícil chegar nesta medida justa?

Na verdade Carol, isso não não estava entre as minhas preocupações. A ideia, ou melhor, o meu desafio era apenas contar uma história. Até então, escrever uma história, um livro, nem me passava pela cabeça. A literatura era algo distante. Até que participei, por acaso, de um ciclo de palestras com autores da literatura nacional, em Santo André. Estavam lá Ignácio de Loyola, Lygia Fagundes Telles, Tatiana Belink, Rosana Rios, entre outros. O estranho é que apesar de estar ouvindo histórias fascinantes, descrições de processos criativos, o que me capturou não estava não estava nos falantes, mas nos ouvintes. Comecei a observar a minha volta e percebi o encantamento dos "candidatos" a escritor, aquele brilho nos olhos me transformou de alguma forma. Aquilo ficou borbulhando meus pensamentos por muito tempo. Até que meses depois resolvi experimentar e escrever. A história saiu de forma atropelada, com urgência de ir ao papel, e foi registrada ainda com caneta bic. Durante o processo, não houve reflexões se aquilo era didático, se levaria alguma criança a cuidar melhor da saúde. Queria apenas registrar aquela aventura. 

Olhando depois de pronta, acho que a história foi além de um simples passatempo ou de uma apresentação didática sobre saúde bucal. Pois trata também de outros temas importantes como, a superação, a sabedoria, o saber partilhar, o espírito coletivo, etc. E no final do livro, esbarramos no início da minha história, o poder da literatura, pois a personagem descobre que a grande arma contra o vilão não está na força, está no encantamento, no convencimento, e resolve escrever um livro, contando para as crianças que elas só serão felizes se sorrirem com os próprios dentes.

4- Seu livro é pintado, algo que muitíssimo me agrada. Você optou por esta técnica antes ou depois de terminar o livro? Digo, veio um depois de outro ou o processo criativo aconteceu em paralelo?

Na fase de criação vieram alguns esboços, mas apenas para registrar as cenas que imaginava, o primordial naquele momento era o texto. Depois de escrita, a história ficou guardada, ou melhor acho que ficou escondida. Risos. Relembrando os fatos para te responder, percebo outra coincidência, a Lia, a mesma amiga que me chamou para aquele ciclo de palestras sobre literatura, mandou-me um e-mail sobre um concurso de histórias infantis. Isso fez com que eu retomasse a história e pensasse nas ilustrações. A princípio a intenção era criar as cenas a partir de bonecos de sucata construídos pela Dani, depois fotografar e manipular as imagens no photoshop. Quando esbocei algumas cenas com tinta acrílica para ela reproduzir com sucata, o resultado da pintura acabou nos conquistando e então decidi seguir esse caminho. Mas os bonecos, ainda que em outro formato, participarão de algumas contações de história do livro. 


Carolina responde:

1 - Carol, o que levou você a escrever e a ilustrar? O que surgiu primeiro e como foi o primeiro passo profissional?

Primeiro foi a ilustração. Desenho desde que me entendo por gente. Sempre escrevi poesia, nunca nada para crianças. Escrever para crianças é algo que surgiu com a maternidade. Não sei dizer se eu escreveria infantis sem ser mãe, acho mesmo que não. Então é relativamente seguro afirmar que eu escrevo para o meu filho e desenho para mim. Minha primeira ilustração profissional foi para o livro Vicente, de José Mário Tamas, eu era menina. O Tamas foi, até hoje, o melhor editor que eu já conheci. Isso – culpa dele! – acabou me estimulando a continuar.

2 - Você atua em várias frentes criativas, como escritora, editora, ilustradora, animadora, designer, diretora de arte no teatro, entre outras coisas. É uma busca por uma linguagem ideal ou uma necessidade de se expressar através de vários meios?

Eu não animo mais... Ailton, olha, eu não acredito em linguagem ideal, então vou escolher a segunda opção, mas talvez seja, na verdade, uma inquietação. Vontade de experimentar. Eu sou uma eterna aluna. Fico profundamente infeliz quando não estou aprendendo algo novo. O teatro surgiu muito por causa de uma oportunidade para aprender e acabei me apaixonando. Sou uma pessoa de grandes paixões profissionais. E isso é horrível. 

3 - No seu livro, Godô Dança, o seu lado ilustradora deu movimento às linhas de texto e emprestou um traço de design para as ilustrações. Como foi o processo criativo do livro?

O Godô fala de auto-estima infantil. De como talvez não ser o que se espera (jogar futebol, colecionar figurinhas, etc) pode também ser legal. Eu queria falar isso de uma maneira não-paternalista e acabei optando por um personagem cachorro, que por sua vez é uma mistura entre o cachorro da minha infância, o Joaquim e a cachorra do meu filho, a Fiona. O traço do Godô é inteirinho a Fiona, mas o “streetwise” é do Joaquim. A Fiona é burra feito uma porta. O texto ser em linhas de movimento, foi para mostrar ao leitor iniciante de que existe uma relação entre o que ele está lendo e a imagem. 

4 - Gostaria de saber como é a sua participação na vida do livro após o lançamento e se isso interfere na criação de novos projetos. 

Ai, Ailton, é bem menor do que eu gostaria. O bom de sair por uma editora grande é que a gente sabe o que isso representa, mas por outro lado eu quase não acompanho nada. Os contatos que tenho feito são todos a partir de um network pessoal. Com isso, é mais o livro que participa da minha vida do que eu da dele. E sim, interfere muito, porque eu gosto de acompanhar, gosto de ir em escolas, gosto do contato com as crianças e com os professores. E então faço todo um planejamento futuro em que isso possa se fortalecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário