terça-feira, 31 de agosto de 2010

SP: Vice-Versa de setembro de 2010

Olá pessoal!

O Vice-Versa de Setembro comemora 50 meses e 100 entrevistas.
PARABÉNS à escritora Simone Pedersen e ao ilustrador Paulo Branco, associados da regional SP.
Agradeço a participação.

Grande abraço,
Regina Sormani


Simone Pedersen

Paulo Branco


Perguntas de Simone

1. Qual o seu processo criativo e qual técnica dá maior realização?

Eu faço arte por uma questão de sanidade mental. Meu processo criativo é melancólico, caótico e libertador. E é na aquarela que mais me realizo, o que me fascina nela é que um defeito, se bem avaliado, se torna um efeito, dando maior liberdade criativa.

2. Paulo, nesses trinta anos de carreira, quais foram os trabalhos que mais marcaram sua trajetória?

Eu já tive oportunidade de experimentar um pouco de tudo: leciono desde os vinte anos (desenho, técnicas de pintura, desenho de humor, etc.). Mas o que mais marcou foram as exposições com materiais alternativos. Em um salão usei cabelos humanos, em um hospital coloquei as tintas em seringas e para o Dia Internacional da Mulher fiz aquarelas em absorventes. Também gostei de dar aulas na TV , passando técnicas de desenho.

3. Você já foi premiado várias vezes por trabalhos de humor. O interesse por aulas nesse segmento aumentaram em função disso? Quais foram seus prêmios?

Quatro ex-alunos foram primeiro lugar no Salão de Humor de Piracicaba, o que me deixou muito orgulhoso.Eu já fui premiado em salões de arte moderna e humor, fui juiz em alguns, fui considerado o melhor desenhista de humor no Mapa Cultural Paulista. Tudo isso serve de estímulo para os alunos que estão começando. 

4. Você tem feito muitos trabalhos como ilustrador ultimamente: de literatura infantil e livros pedagógicos. Acha mais fácil que desenhos de humor? Qual seu parâmetro de qualidade?

O meu foco é sempre o mesmo, seja para criança ou para adulto procuro fazer o melhor possível. Cada trabalho tem um período de maturação e cada público tem uma adequação de técnica. Mas eu mesmo sou o filtro, se não gosto de um trabalho, eu o refaço.


Perguntas de Paulo

1. Simone, você começou escrevendo para adultos ou crianças?

Eu comecei escrevendo crônicas para um concurso literário e entrei numa comunidade que posta todos os concursos no Brasil e Portugal. Experimentei contos, poesias, minicontos e terror. Ainda falta aprender trovas... O infantil surgiu de uma forma muito natural. Comecei uma crônica sobre bullying, por exemplo, e quando terminei havia escrito o Sara e os óculos mágicos... O Vila Encantada deveria ser um texto para uma escola para pessoas especiais... Enfim, não escolho a forma, apenas escrevo e vejo depois em que se enquadra.

2. Como você vê a literatura infanto-juvenil no Brasil?

Com muita tristeza. O Brasil é um país de muitas realidades e não podemos nos basear pela classe média alta. Nossas crianças carentes não adormecem ouvindo os pais lerem um bom livros. Os pais não sabem ler muito bem, e elas próprias crescem sem saber ler muito bem. Morei muitos anos na Europa onde os bebês adormecem com os pais contando histórias, brincam com livros desde poucos meses e desenvolvem a linguagem através de várias ferramentas. Precisamos considerar a realidade das crianças brasileiras quando escolhemos os livros que a elas serão oferecidos. É utopia acreditar que a criança de 8 anos no Brasil – de classe sócio-econômica inferior - está pronta para ler o que uma criança de 8 anos lê na Inglaterra ou Dinamarca onde existe uma padronização no ensino. Conciliar essa necessidade de simplicidade sem perder a qualidade literária é muito difícil. 

3. No Brasil, a maioria dos livros infanto-juvenis traz um ensinamento ou uma moral, em detrimento da literatura pura. Você concorda com isso?

A literatura pura é em si só um elixir para que as crianças possam expandir seus horizontes. Contudo, infelizmente, quando pensamos em crianças que não tem nem o que comer , que não tem um livro sequer em casa, cujos pais são analfabetos, crianças que vivem à beira da marginalidade sem pais que tenham condições de educá-las, frequentando escolas que não conseguem ensiná-las sequer a ler ou respeitar as regras básicas de cidadania, eu acredito que não temos condições ainda de abrir mão da oportunidade de conciliar boa literatura com ensinamentos básicos de ética, cidadania e respeito ao próximo, quando não ensinamentos técnicos. O que não significa que a literatura pura não deva ser oferecida concomitantemente. O amor pela leitura deve nascer por aí. Quem não gosta de ler não lê livros que ensinam. 

4. Se tivesse que escolher entre escrever para adultos ou crianças, qual seria sua opção?

Se tivesse que escolher entre publicar um livro para adultos ou crianças, escolheria o infantil, pela capacidade de multiplicação da mensagem, mesmo que fosse um livro de poesias infantis, sem nenhum ensinamento embutido. Uma criança sempre tem um irmão ou amigo que acaba manuseando seu livro também. A criança comenta com os pais o que lê. Mas, seria impossível não escrever mais para adultos, mesmo que ninguém lesse, eu não teria essa capacidade de parar de escrever.

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