sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

SP: Vice-Versa de Janeiro 2010

Queridos Aeilijianos,

Feliz 2010!!
O Vice-Versa, nesta 18ª edição, apresenta as entrevistas das escritoras da RegionalSP:
Fabia Terni e Maria Amália Camargo. 

Reunimos até agora 36 autores que por aqui passaram deixando seus depoimentos, que enriqueceram ainda mais o nosso blog. Que venham mais escritores e ilustradores! Esperamos por todos.

Muitos beijos,
Regina Sormani

Fabia Terni

Maria Amália Camargo


MARIA AMÁLIA CAMARGO entrevista FABIA TERNI 


1) Fábia, você é bibliotecária por formação. Tornou-se inevitável viver em meio aos livros e começar a escrever? E por que escrever para crianças? 

Tornei-me bibliotecária porque sempre gostei de livros, do acesso à informação, e de poder ajudar terceiros a encontrá-la quando necessitavam dela. Este gosto pelos livros era estranho pois organizava-os desde menina mas... não os lia propriamente. Fui uma criança em constante movimento. Não possuía a calma necessária para ler. Na adolescência comecei a sentir o gosto por algumas poesias da literatura inglesa e americana, pois estudei sempre nesta língua. No meio do caminho rascunhei umas histórias e poemas, os quais guardava a sete chaves. Usava a escrita, para acalmar a grande ansiedade que brotava das injustiças que via por todo lado, e para aceitar as mágoas e as frustrações que todos sentem mais cedo ou mais tarde, mas jamais pensei em ser escritora. 
Apesar de conviver com leitores, o gosto pela leitura surgiu na maturidade, e o contato com a nossa literatura brasileira, veio durante o aperfeiçoamento em literatura infanto-juvenil graças à grande mestra, Dra. Nelly Novaes Coelho. 
Porque escrever para crianças? Boa pergunta Maria Amália. Por um feliz revés do destino, fui parar numa biblioteca infanto-juvenil americana. Apavorei-me como uma criança, pois além de não conhecer esta literatura nem em português e nem em inglês, o motivo porque os macaquinhos não gostavam de escovar dentes, ou as taturanas não queriam ir à escola, não fazia parte do meu repertório de dúvidas existenciais. Então aos 40 e tantos anos, comecei a ler de verdade todos aqueles livros que catalogava quando criança. E qual na foi o meu espanto ao perceber que longe de ser apenas graciosas historinhas infantis, autores como Lobato, St, Exupéry, Dr. Seuss, Lygia Bojunga e tantos outros, tinham algo a dizer além do que estava no título de seus livros!! Então senti a necessidade de começar a escrever para crianças, pensando que seria muito fácil. 
Ouço já as risadinhas dos mais experientes... Ledo engano. Batalhei por 10 anos totalmente no escuro, pois não conhecia editores, nem autores e não tinha ainda o hábito de freqüentar Bienais e outras Feiras de livros. Apanhei muito, verti muitas lágrimas, mas hoje, com 7 livros publicados (3 dos quais no catálogo da Feira de Bolonha), um no prelo, 2 em análise, um em fase final de polimento, e outros dois iniciados, sinto que estou realmente no caminho para tornar-me uma boa escritora. E sem dúvida a aquisição de alguns títulos pela FDE e pelo PNBE são um grande incentivo para continuar tentando.

2) Bicharada em Perigo (publicado em 2007 pela Girafinha) é um livro que apresenta ilustrações de diversos artistas. Fale um pouco sobre essa relação com os ilustradores das suas obras. Tem algum ilustrador (brasileiro ou estrangeiro) com quem gostaria muito de trabalhar? 

Para ser sincera, só conheci alguns dos excelentes ilustradores da Girafinha no dia do lançamento do livro. E mesmo aí, só compareceram alguns. Gostaria muito que houvesse um diálogo com o (a) ilustrador (a) enquanto o livro está sendo diagramado, mas este não me parece ser o hábito, pelo menos entre autores iniciantes. 
Conheci apenas virtualmente, uma fabulosa poeta, ilustradora, artista plástica, escritora e revisora mineira que aceitou a idéia de ilustrar meu próximo livro. Uma de suas técnicas, a de trabalhar com retalhos, fez do seu livro premiado sobre a Estrada Real um primor. Tenho grandes esperanças que nossa parceria se torne realidade. 

3) Livro infanto-juvenil é literatura? Existem muitos títulos de má qualidade no mercado, mas, que recado você daria àqueles que comparam TODA a produção literária infantil à bula de remédio ou a um livro de receitas? 

Certamente o gênero infanto-juvenil faz parte da literatura. Dá mesma forma como há péssimos exemplares na literatura adulta, eles acontecem também na literatura infanto-juvenil. Não tive a oportunidade de conhecer ninguém que fizesse isso, mas se encontrasse convidaria esta pessoa a ler um livro infanto-juvenil junto comigo para mostrar-lhe o que existe nesta literatura que não consegue captar sozinho. 

4) Com que freqüência você escreve? E, do que precisa pra botar a mão na massa? Já ouviu aquela pergunta “ah, você é escritor, mas, trabalha com o quê?”

Tento escrever todos os dias, mesmo que ainda não tenha adquirido a disciplina necessária para fazê-lo. Mas nos dias em que não escrevo propriamente, pesquiso para novos assuntos ou corrijo trechos já escritos. Dialogar com escritores também faz parte de “escrever”, assim como inteirar-se do que outros escrevem. Freqüentar livrarias, bibliotecas, feiras de livros e palestras literárias também é nosso feijão com arroz.
Para botar a mão na massa preciso de calma e tranqüilidade interna, o que consigo após ter-me livrado dos problemas corriqueiros domésticos, não atendendo o telefone, nem o interfone (celular nem pensar, não dou meu # pra ninguém) e deixando os emails, mesmo os profissionais, para o final do dia. Estabeleci um dia no qual “só escrevo” e neste dia os porteiros sabem que só devem me chamar se o prédio estiver pegando fogo!. 
Mas, Maria Amália você ainda não me perguntou “o que faz com que eu queira botar a mão na massa”? E aqui vem aquelas sensações maravilhosas que os escritores e poetas sentem através de uma palavra dita por alguém especial, um gesto de uma criança num parque, umas notas longínquas que ecoam uma linda ou terrível lembrança, uma passagem de um livro que nos chama a querer dialogar com o que está escrito, uma poesia, uma flor, enfim todas as manifestações que nos causam espanto, maravilha, dor, angústia, felicidade, etc. etc. etc. 


FABIA TERNI entrevista MARIA AMÁLIA CAMARGO 

1) O que você faz numa escola onde encontra crianças que não gostam de ler?

Nunca encontrei alguma criança que falasse abertamente “detesto ler”. Costumo trabalhar com um público mais novo nas escolas ou em outros eventos. Creio que, para os alunos de primeira, segunda série, não existe tanta resistência em abrir um livro como com as crianças mais velhas. Para os pequenos, o livro ainda é uma novidade. Vejo que o problema está na obrigação. Eu, por exemplo, adorava ler por conta própria, mas detestava aquilo que me era imposto. E essa imposição começou na quarta série com livros muito mal trabalhados em sala de aula. Até podiam não ser tão chatos assim, mas acabaram se tornando difíceis de engolir porque contavam como parte da avaliação. Não havia bate-papo sobre o enredo, sobre as personagens, era tudo a seco. 
Acho que a leitura deve ser mostrada como uma atividade prazerosa, enriquecedora, sem cobranças. À partir do momento em que relacionamos à literatura com outras disciplinas - música, geografia, teatro, história, artes plásticas, etc – a curiosidade vem à tona. Basta boa vontade e um pouco de criatividade para que a leitura se transforme num passatempo, numa fonte de conhecimento e não numa atividade maçante. 

2) Qual foi o maior cheque já recebido com a venda de livros? E qual é o livro? Que mensagem quis passar com ele?

O Laranja pêra, couve manteiga foi um livro que me rendeu bons frutos. Não lembro exatamente o valor do cheque, mas foram mais de cinco mil exemplares vendidos para o “Minha Biblioteca” da Prefeitura de São Paulo. Ele também foi vendido para o governo do Espírito Santo, para o “Ler e Escrever” - do governo de São Paulo, entre outros programas de incentivo à leitura. 
Quando pequena, eu era uma criança “insuportável” - como diz meu irmão - pra comer; ficava horas à mesa pra terminar de comer meio prato. Ao elaborar o livro, o fiz pensando nas crianças que torturam os pais na hora das refeições. Quis fazer uma brincadeira com o nome das comidas, tentando mostrar o lado, não só saudável, mas também lúdico de uma refeição. O que dizer de uma “ervilha torta”, de um “macarrão cabelo de anjo” ou de um “queijo cavalo”? Dá pra montar cada cardápio...
Sempre achei essa mensagem muito clara, até o dia em que, um passarinho me contou haver encontrado o trabalho duma aluna do curso de Literatura Infantil da USP na internet (uma publicação num blog de dois professores dessa mesma disciplina). Nossa, fiquei lisonjeada; afinal, ainda sou uma iniciante e esse é o meu primeiro livro. O texto da aluna ía muito bem até a hora da análise. Descobri que eu estava incentivando o consumismo! Que o Laranja-pêra era uma ode ao capitalismo. Céus! Não sabia que ir à feira é um estímulo ao consumo! Pena que tiraram o site do ar, contando assim, parece surreal... 

3. Conte alguma experiência notável com crianças, seja numa escola quando vai como autora, seja numa Feira Literária, etc.

Uma vez, realizei uma oficina para trinta crianças duma escola pública, com idades entre oito e dez anos. Pela faixa etária, achei que todas fossem alfabetizadas e então pedi dez voluntários pra participarem duma brincadeira de “tangolomango” no palco do teatro. Cada uma deveria ler, lá na frente, uma frase. Para minha surpresa, mais da metade que se ofereceu para brincar, não era alfabetizada. Foi uma situação bem embaraçosa porque as professoras começaram a ficar bastante agitadas, assustadas. Eu não estava entendendo nada até começar a ouvir um murmurinho: “eles não sabem ler, eles não sabem ler...” Mas as crianças não estavam nem aí: as que liam com muita dificuldade tentaram, tentaram, sem nenhuma vergonha de errar. E as que já tinham alguma noção de leitura, em vez de darem risada, ajudavam os colegas soprando as sílabas, uma a uma, pacientemente. 

4) Qual um novo assunto que você deseja explorar talvez sim, talvez não, para um próximo livro? O que te atrai deste assunto? 

Xi, tem tanta coisa... Tenho várias histórias engavetadas, outras tantas começadas, assuntos diversos, sem meio e sem previsão de fim. Não consigo terminá-las, sempre surge um novo tema. Mas um assunto que me dá comichões para trabalhar, e ao mesmo tempo um pouco de medo, é falar sobre viajantes e grandes exploradores. O que me atrai neste assunto é saber que, infelizmente, nunca terei coragem para ser assim, destemida - rs. Quer coisa melhor do que criar uma boa história pra matar a frustração de não ser aquilo que gostaria?


Um comentário:

manuel marques1 de janeiro de 2010 13:23
Um ano novo cheio de felecidade paz e amor.
Abraço.

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