sexta-feira, 3 de maio de 2013

RS: Vice-Versa de maio de 2013

Neste vice-versa, apresentamos dois novos integrantes do quadro de associados da AEILIJ - a escritora Rosane Castro e o ilustrador Vladi Araújo.

Rosane é escritora, arte-educadora e contadora de histórias. Coordenou o espaço "QG dos Pitocos" na Feira do Livro de POA, por quatro anos. É a idealizadora do Seminário de Contadores de Histórias “Ao Pé do Ouvido”, na cidade de Cachoeirinha.

 O infantil “Umas Formigas” é sua estreia na literatura.

Vladi é publicitário e ilustrador. Começou atuando no ramo publicitário e, em 2010, adicionou a suas atividades uma nova paixão – ilustrar livros infantis. Em “Umas Formigas”, divide com Rosane a autoria desta bonita obra.

Vejamos o que esta dupla de profissionais do livro tem a nos contar.



Rosane pergunta. Vladi responde


Rosane - Vladi,  quantos livros você já ilustrou? Como iniciou sua carreira de ilustrador?

Vladi - Ao todo são 13 livros, além de outras publicações para o mercado publicitário.
Minha carreira surgiu aos 5 anos de idade, quando eu tinha um incentivo diário dos meus pais para o desenho, aquilo que até então era a contra-mão de um futuro de qualquer criança; aos 12 anos eu tinha convicção que iria trabalhar com arte. Aos 14 anos trabalhei com ilustração de mapas de cidade em uma editora na qual houve uma realização, uma vez que o trabalho digital com computadores e tecnologia era fascinante para qualquer adolescente. 

Aos 16 anos, comecei a trabalhar em agências de publicidade, aonde por 13 anos tive uma participação direta na criação e construção de obras conhecidas no mercado publicitário. Durante esse período, em paralelo, criei, aos meus 21 anos um Bureau de Ilustração aonde comecei a trabalhar como fornecedor de ilustração e não só como criativo. Esse Bureau foi crescendo até se tornar um divisor de águas e eu montar meu primeiro estúdio de ilustração que levou meu nome até o final de 2012- Vladiaraujo Studio. Em 2010 surge a primeira oportunidade de trabalhar com obras literárias através da editora Nova Castelo, com a ilustração da coleção de livros Cantigas Contadas, uma séria inesquecível para mim e com certeza um dos trabalhos no qual entendi o real significado do meu trabalho naquela época.

Após essa série, surgiram outros trabalhos para outras editoras no qual pude exercer essa nova descoberta do mundo literário, até chegar em 2012 com o convite  da editora Nova Castelo de ilustrar um livro muito especial para mim com uma jóia chamada Rosane Castro, uma parceira incansável na produção desse material, junto da nossa editora-chefe Leila Pereira.  

Rosane - Você utiliza alguma técnica específica para criar suas ilustrações? Fale um pouquinho sobre ela.

Vladi - Sim, o começo é sempre no papel e na concepção desses personagens não em forma e sim em emoção: Que emoção esse personagem terá? Que outras situações esse personagem viveria através do roteiro que me foi passado? O que ele come? Que música ele gostaria? Essas e outras perguntas eu trabalho para montar a personalidade dos meus personagens.

Após isso vem a discussão com a autora sobre esses personagens e sobre esse mundo (contexto) criado para ele: Qual o real significado que  queremos passar com o livro em sua ilustração?
Com isso, busco referências em diversos livros e internet e parto para a confecção dos personagens e cenários, tudo ainda no lápis e no papel.  

Na etapa final, após a aprovação, eu parto para o Digital através do Programa de ilustração Photoshop e Illustrator.  

Rosane - Quais foram os livros que marcaram a sua infância, e como você se relacionava com eles? Lembra das ilustrações? 

Vladi - Me criei em um mundo onde não havia incentivo à leitura. Principalmente na fase infantil, me criei lendo notícias em jornais velhos e lendo livros didáticos da escola. Na adolescência, cultivei o gosto pela leitura de HQs clássicos, como Batman, Superman, entre outros, ainda na adolescência quis adquirir um conhecimento espiritual precoce com leituras de Paulo Coelho e as aventuras de Diário de Mago, O Alquimista, Brida entre outros.

Rosane - A nossa literatura infantil e juvenil é riquíssima. O que você pensa sobre a produção das ilustrações no Brasil?          

Vladi - O Brasil é reconhecido mundialmente como a 3ª maior produção de ilustração no mundo, ficando apenas atrás do Japão e USA, porém isso se dá a uma cultura POP que a menos de 20 anos é cultivada no País e que a cada dia o cenário artístico da ilustração brasileira tem alcançado seu espaço no mundo. O Brasil é moda, o Brasil é tendência, então tudo que é produzido aqui reflete isso com muita personalidade. 

Rosane  - Você está sempre produzindo muitas imagens, para livros ou para publicidade, onde você busca inspiração para as criações?  

Vladi - Minha maior inspiração é sempre a vida, parece um papo default, mas tem uma verdade muito grande nisso, uma vez que o dia-a-dia das pessoas é tão rico e cheio de referências. Como exemplo, uso uma vez em que tinha que criar um personagem para o Livro Tereza. E no meio da discussão dos personagens, eu tinha elaborado uma personagem, loira, bonitinha, toda Europeia, Eis que minha esposa, na época disse: - Eu sempre imaginei que a Terezinha de Jesus era negra, e não branca.

Aquilo foi um divisor de águas no sucesso do livro, gerou um grande re-trabalho, uma vez que tínhamos pré-aprovado algumas páginas e teria que ser refeita, porém essa interpretação de um simples comentário fez com que eu arranjasse um novo grande significado para essa personagem.

Por fim, todo fato gera um significado maior ou menor, todo significado gera uma experiência e toda experiência gera uma emoção. No meu trabalho eu não vendo ilustrações, eu vendo emoções para as pessoas. 


Vladi  pergunta. Rosane responde.

Vladi  -  Rosane, qual a sua inspiração para criar os contextos e ambientes dos seus livros?

Rosane - Minha inspiração vem das observações que pratico no cotidiano. Sou muito observadora e sensível às pessoas, ambientes, objetos, músicas, etc... Tudo pode servir de motivo para que eu escreva uma história. 

Vladi - Fazendo uma análise pedagógica, como você vê o incentivo à leitura de livros impressos, dos pais e da escola diante do surgimento de grandes tecnologias literárias (E-books, tablets app, widgets, etc)? 

Rosane - Acredito que uma não deva isentar a outra. Ambas podem contribuir para a formação do leitor. Tanto o livro impresso, quanto o livro digital, devem ser acessados. Os pais e a escola são fundamentais no acompanhamento e incentivo ao hábito da leitura pelas crianças e jovens. Ler para e com os filhos, propor atividades dinâmicas e criativas sobre o livro literário na escola, pode fazer com que as crianças se interessem pela leitura e sintam prazer ao fazê-la. 

Vladi - Qual o impacto social que você enxerga sobre o fato de nas escolas haver um maior incentivo à leitura e escrita digital do que no padrão impresso e escrito? Isso seria uma evolução natural ou existem perdas e ganhos? 

Rosane - Não tenho certeza se há maior incentivo à escrita e à leitura digital. Visito muitas escolas durante o ano, e na maioria das escolas públicas ainda não é uma realidade a inclusão digital. Mas eu acredito que é um processo natural os alunos utilizarem mais a escrita digital para os trabalhos escolares. A era digital trouxe muitos benefícios para todos os campos profissionais e educativos, mas deve ser utilizada com cautela e com orientação de pais e professores. O que eu tenho observado é que com o uso da internet, a digitação (exigida nos trabalhos) acompanha o pensamento rápido, em contraponto, a escrita é mais demorada. Lembro que quando eu cursava a 4º série do ensino fundamental, eu escrevia no caderno de caligrafia e minha letra era mais bonitinha do que hoje. Acho que fui perdendo essa habilidade em função da digitação. Quanto à leitura, eu ainda prefiro os livros impressos. Adoro segurar nas mãos as histórias. É como se eu as carregasse no colo (risos). O impacto social é um processo que temos que acompanhar, visto que somos parte desse processo.

Vladi - Durante a adaptação da literatura para a contação de histórias, você utiliza outras referências externas para a criação e concepção de personagens e roteiro? 

Rosane - A literatura escrita difere da literatura na oralidade. Na maioria das vezes, eu conto utilizando apenas o recurso da voz. Se o conto é literário autoral, procuro ser fiel ao texto. Quando necessário, mudo uma ou outra palavra para tornar o texto mais audível. Mas se o texto for poético, por exemplo, não tenho como modificar nada, nenhuma vírgula.  Eu prefiro contos populares, recolhidos da literatura oral. Esses contos nos possibilitam uma maior interatividade com a história. De acordo com o contexto da história, o período histórico, os personagens, eu mudo para trazê-lo para uma realidade mais atual. Mas tudo depende da história e do que ela possibilita. Não dá para sair mudando tudo, colocar ou retirar personagens de um texto. O ideal é termos bom senso e responsabilidade com o texto.

Vladi - Para os projetos futuros, tu prevês uma adaptação da tua obra para os meios digitais ou para o meio teatral com uma significância maior?

Rosane - Estou iniciando a minha trajetória como escritora (ainda é tudo muito novo). Um dos motivos que me motivou a enviar meus textos para algumas editoras foi que um deles já estava sendo narrado por uma contadora de histórias em BH. Eu o havia publicado  no meu blog e ainda não tinha pensado em publicá-lo em papel. Foi uma bela surpresa quando ouvi pela primeira vez a minha história e a pessoa ainda não me conhecia. Foi emocionante! Essa mesma história será adaptada para o teatro por um grupo de bonequeiros no Paraná. Espero ver meus textos publicados, lidos, contados, interpretados e porque não em e-books.  Quem sabe, publicamos juntos, Vladi? (É um convite)


Postado por Jacira Fagundes

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