Reflexão sobre o Jabuti e outros prêmios literários.
Os livros atualmente editados no Brasil, em particular aqueles ilustrados, têm colhido elogios. O segmento editorial brasileiro tem oferecido aos leitores um montante considerável de obras bem cuidadas, projetadas e caprichosamente ilustradas. A força da literatura brasileira tem sido reconhecida em todas as praças, inclusive nos eventos literários internacionais – Bogotá, Frankfurt, Bolonha, Caracas – e ainda mais destaque adiante terá – em Paris, Gotemburgo, Londres e Nova York, segundo se diz – já a partir de 2015. Um desempenho notável, em boa parte justificável pela qualidade editorial e pela excelência das ilustrações pelas capas e no miolo de livros para públicos diversos.A despeito disso, persiste um certo desconforto entre ilustradores e escritores com relação aos critérios seletivos aplicados (ou não aplicados) à ilustração por alguns dos mais consagrados concursos literários do país. Focamos aqui o tradicional Prêmio Jabuti, promovido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), o Prêmio Literário Fundação Biblioteca Nacional, da respectiva instituição (FBN) e o Prêmios Literários da Academia Brasileira de Letras. E realçamos, como um contraponto positivo, a perspectiva da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, que há anos certifica obras em categorias bem estruturadas e a partir de critérios mais assertivos e mais justos. Que fique claro: antes deste dossiê, muitos colegas já enviaram seus questionamentos aos organizadores dos primeiros dois concursos citados. Procuramos apurar as respostas, no entanto, não logramos obtê-las.
Já há algum tempo, na lista fechada da Sociedade dos Ilustradores do Brasil, temos discutido contudo sobre alguns pontos controversos. Muito embora haja consenso em torno do mérito, na prática, detectamos a necessidade de ajustes finos nos contratos que assinamos com as editoras e nos critérios de análise crítica destinados ao objeto livro ilustrado. A maioria concorda que uma obra literária contemporânea, quando ilustrada com generosidade, é fruto do enlace autoral entre duas expressões: a palavra e a imagem. Muitas vezes ousando alternar distanciamentos e aproximações furtivas. Recursos que se cruzam, por vezes se bicam, e também se afagam. Tanto faz o tom dessa relação íntima. A condição de autor é também hoje – tanto para o escritor quanto para o ilustrador – um pressuposto burocrático obrigatório nas inscrições de obras ilustradas em editais e vendas especiais.
Decidimos enviar esta carta aberta aos representantes da CBL, da FBN e da ABL, bem como tornar público o debate, com o intuito de obter respostas e esclarecimentos sobre os pontos relevantes logo abaixo discriminados, que foram levantados por diversos colegas ilustradores:
Prêmio Jabuti
Entre as categorias, registramos as seguintes questões (vide categorias):
categoria_Melhor Capa
Esta categoria deve assegurar que todos os colaboradores criativos sejam citados. Embora o prêmio seja conferido ao designer responsável, que assina o projeto gráfico, a participação autoral do colaborador – muitas vezes bastante significativa – precisa ser registrada.
categoria_Melhor Livro Infantil
Aqui há mais um problema substancial. O livro ilustrado remete à sinergia da canção popular. O texto está para a letra, assim como a ilustração está para a música. Nos melhores momentos, uma dimensão é indissociável da outra. Ou seja, o “Melhor Livro Infantil” resulta da combinação entre as duas abordagens narrativas. Ambas precisam ser reconhecidas nos livros mencionados. Fosse para julgar apenas o conteúdo de texto, o regulamento deveria solicitar aos concorrentes que submetessem ao júri tão somente o conteúdo de texto original.
categoria_Melhor Livro Juvenil
Nesta categoria, em geral, a contribuição autoral do ilustrador tende a ser menos significativa. Se sua participação for excepcional, mais relevante que de hábito, adequado nos parece premiá-lo também. Assim como na categoria supracitada, o conteúdo de texto é que deveria ser avaliado, desacompanhado de projeto gráfico e ilustrações.
NOSSAS SUGESTÕES:
> Para contornar os aspectos acima mencionados, em vez das quatro atuais sugerimos sete categorias:
Melhor Texto de Literatura Infantil (a contemplar somente o texto)
Melhor Texto de Literatura Juvenil (a contemplar somente o texto)
Melhor Livro Infantil (a contemplar texto e ilustração)
Melhor Livro Juvenil (a contemplar texto e ilustração, quando devido)
Melhor Ilustração (a contemplar somente a ilustração nos livros adultos)
Melhor Ilustração de Livro Infantil (a contemplar somente a ilustração infantil)
Melhor Ilustração de Livro Juvenil (a contemplar somente a ilustração juvenil)
> Além disso, também recomendamos que especialistas em texto e imagem na literatura infantil e juvenil sejam sempre convidados a integrar a comissão julgadora.
Prêmio Literário Fundação Biblioteca Nacional
Neste concurso promovido pela FBN muitos estranham a ausência de pelo menos uma categoria relacionada à ilustração, pelos motivos já mencionados. Premia-se o projeto gráfico, por um lado. Mas a produção autoral de ilustração, que nos parece também significativa do ponto de vista da contribuição literária, não é contemplada. É no âmbito da literatura infantil e juvenil, sublinhamos, que ocorrem as mais ousadas experimentações de linguagens, as mais criativas arquiteturas poéticas e sintaxes cruzadas. O público leitor, de todas as idades, é mais amplo, permeável e entusiasmado. Os livros ilustrados também são mais expressivos estatisticamente, tanto na produção, quanto no reconhecimento crítico e nas vendagens. Daí o nosso questionamento.
Ilustríssimos representantes da Câmara Brasileira do Livro, da Fundação Biblioteca Nacional, da Academia Brasileira de Letra e de outras instituições organizadores de prêmios e concursos, o debate está aberto. As suas considerações podem ser enviadas para o email contatosib@sib.org.br aos cuidados do Conselho da SIB. Estamos ansiosos por recebê-las. Participem.
Prêmios Literários da Academia Brasileira de Letras
A Academia Brasileira de Letras também contempla escritores de diferentes gêneros literários, inclusive os de Literatura “Infantojuvenil”, mas ignora a coautoria narrativa dos ilustradores. Tanto o escritor quanto o ilustrador merecem receber, quando devido, o Prêmio ABL de Literatura “Infantojuvenil”. Questionamos também a expressão, grafada aqui entre aspas, porque há um problema de critério. É preciso discriminar a Literatura Infantil da Literatura Juvenil, como há tempos recomendam inúmeros autores e especialistas brasileiros e estrangeiros. Lembramos que muitos eventos, fóruns e festivais pelo mundo têm evidenciado a sinergia autoral cada vez maior entre textos e imagens na produção de obras literárias contemporâneas.
Sociedade dos Ilustradores do Brasil (SIB)
Associação dos Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil (AEILIJ)
Postado há 5th August 2014 por Marilza Conceição
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