Relembrando o querido Bartolomeu Campos de Queirós, sempre é bom destacar que somos signtários do Movimento por um Brasil Literário, que foi lançado em 2009 com o seguinte manifesto:
O Movimento por um Brasil Literário manifesta sua intenção de concorrer para fazer
do País uma sociedade leitora. Reconhecemos como princípio o direito de todos de
participarem da produção também literária. No mundo atual, considera-se a
alfabetização como um bem e um direito. Isto se deve ao fato de que com a
industrialização as profissões exigem que o trabalhador saiba ler. No passado, os
ofícios e ocupações eram transmitidos de pai para filho, sem interferência da escola.
Alfabetizar-se, saber ler e escrever tornaram-se hoje condições imprescindíveis à
profissionalização e ao emprego. A escola é um espaço necessário para
instrumentalizar o sujeito e facilitar seu ingresso no trabalho. Mas pelo avanço das
ciências humanas compreende-se como inerente aos homens e mulheres a necessidade
de manifestar e dar corpo às suas capacidades inventivas. Por outro lado, existe um
uso não tão pragmático de escrita e leitura. Numa época em que a oralidade perdeu,
em parte, sua força, já não nos postamos diante de narrativas que falavam através da
ficção de conteúdos sapienciais, éticos, imaginativos.
É no mundo possível da ficção que o homem se encontra realmente livre para pensar,
configurar alternativas, deixar agir a fantasia. Na literatura que, liberto do agir prático
e da necessidade, o sujeito viaja por outro mundo possível. Sem preconceitos em sua
construção, daí sua possibilidade intrínseca de inclusão, a literatura nos acolhe sem
ignorar nossa incompletude.
É o que a literatura oferece e abre a todo aquele que deseja entregar-se à fantasia.
Democratiza-se assim o poder de criar, imaginar, recriar, romper o limite do provável.
Sua fundação reflexiva possibilita ao leitor dobrar-se sobre si mesmo e estabelecer
uma prosa entre o real e o idealizado.
A leitura literária é um direito de todos e que ainda não está escrito. O sujeito anseia
por conhecimentos e possui a necessidade de estender suas intuições criadoras aos
espaços em que convive. Compreendendo a literatura como capaz de abrir um diálogo
subjetivo entre o leitor e a obra, entre o vivido e o sonhado, entre o conhecido e o
ainda por conhecer; considerando que este diálogo das diferenças, inerente à
literatura, nos confirma como redes de relações; reconhecendo que a maleabilidade do
pensamento concorre para a construção de novos desafios para a sociedade;
afirmando que a literatura, pela sua configuração, acolhe a todos e concorre para o
exercício de um pensamento crítico, ágil e inventivo; compreendendo que a metáfora
literária abriga as experiências do leitor e não ignora suas singularidades.
Outorgando a si mesmo o privilégio de idealizar outro cotidiano em liberdade, e
movido pela intimidade maior de sua fantasia, um conhecimento mais amplo e
diverso do mundo ganha corpo, e se instala no desejo dos homens e mulheres
promovendo os indivíduos a sujeitos e responsáveis pela sua própria humanidade. De
consumidores passa-se a investidores na artesania do mundo. Por ser assim, perseguese uma sociedade em que a qualidade da existência humana é buscada como um bem
inalienável.
Liberdade, espontaneidade, afetividade e fantasia são elementos que fundam a
infância. Tais substâncias são também pertinentes à construção literária. Daí, a
literatura ser próxima da criança. Possibilitar aos mais jovens acesso ao texto literário
é garantir a presença de tais elementos, que inauguram a vida, como essenciais para o
seu crescimento. Nesse sentido é indispensável a presença da literatura em todos os
espaços por onde circula a infância. Todas as atividades que têm a literatura como
objeto central serão promovidas para fazer do País uma sociedade leitora. O apoio de
todos que assim compreendem a função literária, a proposição é indispensável. Se é
um projeto literário é também uma ação política por sonhar um País mais digno.
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