quarta-feira, 9 de setembro de 2009

SP: Vice-Versa de maio de 2009

Sexta-feira, 1 de Maio de 2009

Danilo Marques

Laura Bergallo


Danilo Marques entrevista Laura Bergallo.


1 - Em que momento da vida, por que, e como foi a estreia da Laura Bergallo escritora?

A Laura Bergallo escritora nasceu na época em que aprendi a escrever. Aliás, só não nasceu no mesmo dia em que nasci porque (do mesmo jeito que a mãe do Lula) eu nasci analfabeta (risos).
Então, mais ou menos aos 6 anos de idade (quando me alfabetizei) comecei a escrever histórias. Na época, eram histórias ilustradas. Isso mesmo: eu “cometia” umas ilustrações que acompanhavam os textos. Mas, graças a uma autocrítica bem conveniente que desenvolvi com o passar dos anos, as ilustrações se limitaram àquelas primeiras histórias, que guardo até hoje: tenho uma pilha de cadernos com textos e desenhos cuidadosamente escondidos no fundo de uma gaveta.
Já a estreia das publicações, foi anos mais tarde. Em 1980 tive um conto premiado num concurso de contos eróticos e publicado numa revista de circulação nacional. Um tempo depois, mudando de um pólo ao outro (ou não, dependendo do ponto de vista), publiquei meu primeiro livro infantil, “Os quatro cantos do mundo”.
De lá para cá, depois de um bom tempo parada por problemas pessoais, foram mais oito (inclusive dois livros espíritas), a maioria voltada para o leitor adolescente. E, neste ano de 2009, terei o prazer de ver mais três “filhos” nascendo: serão lançados “Carioquinha” (infantil, pela editora Rocco), “O Evangelho segundo o Espiritismo para o jovem leitor” (juvenil, pela editora Lachatre), e “A bruxa e o supernerd” (juvenil, pela editora DCL).

2 – Qual a importância, qual a sensação, que peso tem, que portas foram abertas ao ganhar o prêmio Jabuti, e o que esse prêmio mudou na sua vida?

O Jabuti foi uma coisa que – sem nenhuma falsa modéstia – nunca esperei. Mas foi o acontecimento mais emocionante e fantástico da minha curta carreira literária (“Alice no espelho” foi meu terceiro livro juvenil não espírita). Demorou para cair a ficha (eu era tão “novata” que, a princípio, nem entendi direito a dimensão da coisa incrível que tinha me acontecido). Mas, quando caiu, foi um desbunde. A alegria e a emoção que senti são impossíveis de descrever em palavras (uma escritora que não encontra palavras; essa é uma imagem que descreve bem a sensação de se ganhar um Jabuti).
O Jabuti abre muitas portas. A gente passa a ser olhada com um respeito que antes, enquanto escritora iniciante, nunca tinha experimentado. Passa a ser vista por todos – editores, colegas, professores, especialistas em LIJ – como uma Escritora com “E” maiúsculo. É uma revigorante massagem no ego, principalmente para alguém que nunca se considerou especialmente talentosa, como eu.

3 - Fale sobre "Carioquinha", "A bruxa e o supernerd" e "O Evangelho segundo o Espiritismo para o Jovem leitor", seus livros que estão "no prelo".

“Carioquinha” é um retrato da cidade em que nasci, e com a qual mantenho uma relação de amor e ódio: o Rio de Janeiro, tão lindo por sua natureza translumbrante e por seus dias radiosos, e tão hostil pela violência desenfreada que nos ameaça a cada esquina, fruto da miséria, da impunidade e do absoluto desprezo dos governantes municipais, estaduais e federais pelo povo desassistido que os sustenta com escorchantes impostos. A história é contada, ainda dentro da barriga da mãe, por um carioquinha que ainda não nasceu, e mostra de forma lúdica e não agressiva a beleza e o caos dessa cidade que tinha tudo para ser maravilhosa, mas que não é mais.
“O Evangelho segundo o Espiritismo para o jovem leitor” é um livro espírita. Na mesma linha de outro livro meu, “O livrinho dos espíritos” – há anos na lista dos mais vendidos livros infanto-juvenis espíritas, com direitos autorais doados a obras sociais –, que é uma adaptação para o jovem leitor da mais importante obra de Kardec (“O livro dos espíritos”), esse livro é uma adaptação de outra obra básica da codificação espírita kardecista, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Finalmente, “A bruxa e o supernerd” é uma história de opostos que se atraem e se harmonizam, é uma exaltação da beleza e da importância das diferenças, tendo como pano de fundo uma aventura movimentada e com toques de ficção científica. Grande parte da aventura se passa dentro de um videogame inspirado no “Inferno”, da “Divina Comédia”, de Dante Alighieri.

4- Alguma outra observação?

Uma curiosidade: quando o livro já estava escrito há muito tempo, inclusive já na editora com contrato assinado, a multinacional de games Electronic Arts anunciou ao mundo o próximo lançamento de seu videogame “Dante’s Inferno”. Ou seja: a vida imita a arte, né?


Laura Bergallo entrevista Danilo Marques.


1. Como e quando foi sua estreia como ilustrador profissional? Ser ilustrador foi uma vocação de infância, ou só mais tarde você teve vontade de seguir essa profissão?

Desde os três anos desenho, mas essa é uma informação redundante na vida do ilustrador, não? (risos) Bom, nutri o desejo pela profissão por toda a infância, desenhando os colegas da escola, fazendo quadrinhos da turma, vendendo gibis que eu mesmo desenhava (até então tudo era quadrinho).Comecei a tomar gosto pela literatura e desenhar livros que se perderam pelo tempo. Fui batendo na porta de muitas editoras, mas hoje sei que o traço era pobre e cru ainda, embora na época me ofendesse muito ouvir tal coisa... E eu ouvia. Não tenho curso e o paradoxo é que fui professor da arte por mais de dez anos. Em 1993 consegui meus primeiros cinco livros, da escritora Yone Quartim, pela Edicon, de São Paulo: "O Canhoto", "Carlinhos e a nuvem brincalhona", "Luciana e a pedrinha do amor", "Deu a louca no verde" e "Minha avó é um colosso". Mas foi só. Não consegui mais trabalhos por muito tempo.
Parti para outras coisas para me manter: fui professor de artes em escolinhas de recreação, em creches, em escolas de portadores de necessidades especiais e escolas de arte. Desenhei para empresas de decoração de festas, vendi picolé no carrinho, trabalhei em linha de produção, fui radialista e vendedor de consórcio, enquanto tentava e tentava entrar de vez no mercado. Minha vontade de entrar na profissão sempre foi intensa e forte. Pra falar a verdade, destrambelhada, desesperada, muitas vezes frustrante, por não conseguir meu lugar e pelo fato de que o que eu ganhava com a profissão não dava nem para cobrir as despesas mais simples. Passei por maus momentos e até por situações de miséria (literalmente).
Em 1998 ilustrei um livro de um autor independente, Waldo Geny, "Infância de lágrimas". Trabalhei para uma empresa de bonecos para a TV, onde eu fazia roteiros e até ajudava na confecção, manipulação e dublagem dos bonecos e fiz alguns passatempos para uma revista da Editora Escala. Enquanto novas oportunidades não apareciam, eu continuava fazendo de tudo um pouco.

2. Você não somente ilustra, mas também escreve, tanto livros infanto-juvenis quanto livros destinados a adultos. Fale um pouco sobre sua atividade como escritor: que tipos de livros já escreveu, por quais editoras foram publicados, como podem ser encontrados?

Em 2003 li um anúncio no jornal que dizia "precisa-se de escritor". Esse foi meu primeiro trabalho literário Era uma empresa que fazia CDs e aparelhos para as pessoas trabalharem em casa com telemensagens; nada pirata como é hoje, tudo direitinho, legal e original. Eu escrevia mensagens para mães, pais, namorados e namoradas. Ou seja, tinha que escrever da mulher para o homem e do homem para a mulher; para maridos, esposas, sobre o time que perdeu, dia de qualquer comemoração, etc. Os textos eram publicados num livro que encartava o Cd com a mensagem narrada por um locutor.
Eu escrevo desde criança: poesia, contos, crônicas,... Sempre escrevi e gosto de poesia romântica, nos moldes da segunda geração, a byroniana.
Bom, aquela empresa, que se chamava Telemensat, virou Bonton e virou editora. Com a pirataria de telemensagens em fitas K7, ela faliu e ressuscitou anos mais tarde com o mesmo nome de Bonton, então fazendo minibooks para vendas por reembolso postal. Eram catálogos cheios de produtos de todos os gêneros que as sacoleiras vendiam por todo o território nacional: panelas, lingerie, brinquedos, bijuterias. Havia livros lá também, e a pessoa comprava pela capa. Fui chamado de volta, desta vez como funcionário registrado e lá permaneci por três anos, até janeiro deste ano. Publiquei mais de duzentos trabalhos: escritos, ilustrados ou diagramados (sou diagramador também) e trabalhos que fiz desde a capa, texto, ilustrações, projeto gráfico e diagramação até o fechamento do arquivo. São publicações em formato de bolso e formato revista americana, ambos com 16 ou 32 páginas. Poesia, romance, crônicas, frases, mensagens, recadinhos, saúde, religião, medicina, artesanato, contos, teen, infantil, autoajuda, licenciamentos Disney, etc. Hoje, esses trabalhos só podem ser encontrados diretamente na editora, que encerrou suas atividades com os catálogos por causa de erros administrativos. Isso fez com que não conseguisse mais se manter, atrasando salários de funcionários. Foi aí que eu saí, (ainda não conseguiram fazer minha homologação) mas, creio que semeei muita coisa através dos meus textos, pois os relatórios de reembolso mostravam uma quantidade grande de vendas, 40% delas concentradas no Norte e Nordeste. Para se ter uma ideia, a empresa recebia apenas 55 centavos líquidos por cada exemplar desses livros e mantinha 25 funcionários distribuídos em gráfica, estúdio, administração e estoque. Isso tudo me faz imaginar que muita gente neste país possui um livro meu.

3. Você se associou recentemente à AEILIJ. Como conheceu a Associação e o que está achando de ser associado? Você recomendaria a AEILIJ para outros colegas? Por quê?

Conheço a AEILIJ desde 2005, mas não havia me associado antes por falta de condições. Depois, tive condições, mas, como estava empregado, andava alienado do mercado, achando que aquele mundinho em que eu trabalhava era tudo. Então, me vi na necessidade de mergulhar de vez nesse mundo da literatura e no mercado freelancer. Aí, comecei a contatar editoras e escritores em todas as listas e sites possíveis. Foi assim que encontrei você... Seus incentivos me fizeram entrar de vez na AEILIJ.
Entrar na AEILIJ foi muito bom. Conheci gente fantástica que hoje é amiga de verdade. Além da alegria de encontrar tanta gente legal, algumas portas foram abertas através dessas amizades. Também aprendi formas de trabalhar, de batalhar o espaço, preços, contratos. Recomendo sempre para os colegas, pois, o que é bom para mim eu desejo também para os outros.

4. Bote a boca no trombone: o que mais detesta na profissão de ilustrador e escritor?

A boca no trombone é para aqueles que, como já estão consolidados no mercado e podem se dar ao luxo de recusar contratos, acham que todo mundo poderia e deveria agir como eles. Eles precisam ter mais tolerância com aqueles que como eu, ainda não podem se dar ao luxo de dizer não por causa de preço. Eu já fui, desde que comecei batalhar meu lugar no mercado (desde janeiro) como freela, aprovado nas principais editoras do país. Já recebi confirmações de que gostaram de meu trabalho, mas, então, vem a etapa do "espere", pois só quando chega um novo livro aprovado é que vão ver quem é o ilustrador que tem a cara daquele livro. E até agora não pintou nada para mim. Por isso, continuo prospectando, batendo nas portas, etc.
Não estou afirmando que eu vou ilustrar um livro por cinquenta reais, mas já ouvi pessoas dizendo: “ Vá fazer retrato na praça se quer dinheiro!”. Não tive a sorte de poder freqüentar boas escolas de arte e não posso recusar trabalho. Sou, sim, favorável à luta pela valorização do trabalho e da categoria. Infelizmente, as editoras, embora digam: "você está em nosso banco de ilustradores", não dão serviço para os que estão começando.
Gostaria também de pedir às editoras que permitam que os escritores escolham seus ilustradores. Tenho certeza de que haveria mais trabalho para todos. Assim, os escritores ficariam mais satisfeitos ao constatarem que seus livros saíram do jeito que eles imaginaram.

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