quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

SP: Quem conta um conto... - Regina Sormani

Todo mundo já ouviu dizer que: quem conta um conto, aumenta um ponto.

Por isso, juro que o que vou contar agora é a mais pura expressão da verdade, mas, se vocês quiserem passar adiante, aumentando um ou dois pontos, tudo bem. Combinado?

Acho que eu já disse, algumas vezes, que minha mãe era uma grande contadora de histórias. E que, sentada à beira do fogão de lenha, menina ainda, ouvi histórias e relatos incríveis que minha mãe contava, enquanto preparava o café da manhã para a família. Mas, a história, ou melhor, o conto de hoje, ouvi do meu pai, Hercules Sormani, carinhosamente chamado pelos amigos de "seu" Lano.

"Seu Lano", morador da pequenina cidade de Agudos, no interior do estado de São Paulo, já era casado, tinha filhos, já dirigia, quando resolveu tirar carteira de motorista. Em Agudos, naquela época, muitas décadas atrás, a carteira de habilitação era fornecida pelo delegado, importante autoridade da cidade. E lá foi meu pai, certa manhã, para a delegacia solicitar um exame para se habilitar a dirigir.

Lá chegando, havia uma multidão se acotovelando na pequena sala. Ladrões de galinha, vizinhos briguentos, jovens que haviam quebrado vidraças jogando bola, enfim, ocorrências típicas de uma cidadezinha do interior. Empurrando aqui e ali, "seu" Lano conseguiu chegar até o delegado e explicar o que queria. O delegado, muito atrapalhado em meio a tantos problemas, chamou um ajudante e ordenou:

— Sampaio! O "seu" Lano, cidadão aqui presente veio tirar carteira de motorista. Hoje, a coisa "tá" complicada por aqui. Então, você vai no meu lugar. Acompanhe este homem e observe como ele vai se comportar no teste. Quero a volta completa no quarteirão. Não deixe escapar nenhum detalhe, "tá" entendendo?

E lá foram, meu pai e o Sampaio para o temível teste do quarteirão. Na volta, o Sampaio se apresentou ao delegado, sorridente, missão cumprida.

— E então—perguntou a autoridade — "seu" Lano fez tudo certo? Como estava o trânsito?
Ele atropelou alguém?
— Tudo certo, sim senhor! O trânsito "tava" andando bem. Ninguém foi atropelado não senhor.
— Isso quer dizer que ele foi aprovado? 
— Por mim, "tá" aprovado — assegurou o Sampaio.

Instantes depois, já com a autorização para dirigir em mãos, "seu" Lano entrou em casa soltando boas risadas. Minha mãe e meus irmão estavam ansiosos para saber das coisas. O teste tinha sido difícil? Qual o percurso? O delegado era muto bravo?

Meu pai, rindo sem parar, contou o que havia se passado, enfatizando que fora o Sampaio quem o acompanhara no teste do quarteirão.

— E foi tudo bem?— minha mãe perguntou.
Meu pai respondeu:
— Melhor não poderia ter sido. Nunca ninguém tirou a carteira assim, tenho certeza.
— Ora, não entendi...
— É que eu e o Sampaio demos a volta completa no quarteirão. É verdade! Só que demos a volta...a pé.


Um forte abraço,
Regina Sormani

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