A maravilhosa aventura de Paulinho
(Para Paulo Costa e sua música)
Nem mais, nem menos de dez anos. Faces rosadas, cabelos castanhos e ondeados, caindo sobre a tez clara. Tinha um ar severo e, ao mesmo tempo, uma expressão sonhadora. Estava sentado num banco de madeira, sob a sombra de uma grande e frondosa árvore que havia no quintal de sua casa. O lugar era cercado por um grande bosque, que ficava numa região banhada pelo rio Tietê, a umas vinte léguas de Porto Feliz ― uma cidadezinha muito tranquila.
O livro, que antes ele lia, estava quase a cair-lhe das mãos e, pelo seu semblante, o menino parecia não estar mais ali naquele lugar, mas sim num outro de maior beleza ainda: num país de sonhos. Ah! Ele sempre desejara conhecer aquele lugar; segundo as histórias que sua mãe lhe contava, esse país era o mais belo do mundo, onde só havia felicidade!
Começava a raiar o dia e os passarinhos entoavam suas belas e harmoniosas melodias. Pareciam verdadeiros tenores, sopranos, contraltos... Ele não sabia que direção tomar ― tudo lhe parecia tão belo!
Decidiu então que tomaria o caminho pela direita. Desejava conhecer tudo aquilo; guardaria cada pedrinha, cada flor, cada acontecimento na lembrança. Que maravilha seria depois, quando fosse contar tudo aquilo a sua mãe ou, talvez, a algum amiguinho. Eram poucos os que podiam visitar aquele país. Paulinho ― era esse o nome do menino ― sentiu-se feliz por ter esse privilégio.
Andou, andou, até cansar-se. Ao meio-dia, sentou-se na relva fresca e, à sombra das grandes árvores da floresta, saboreou deliciosos morangos, que colhera durante o passeio, repartindo-os com as avezinhas e outros animais.. Caminhou durante a tarde toda, colhendo flores e frutinhas silvestres em abundância. Depois, quando começou a anoitecer, Paulinho sentiu-se exausto. Havia caminhado muito! Fez uma cama macia com algumas folhas secas, sobre a úmida grama rasteira, e adormeceu.
Durante o seu passeio, Paulinho havia encontrado muitas aves diferentes e, como naquele mundo estranho ele não vira nenhuma pessoa, passou muito tempo observando os pássaros e ouvindo atentamente o seu canto. Percebeu que adiante dele havia uma clareira onde os raios de sol passavam pela folhagem e iluminavam um riacho de águas límpidas. As águas eram rasas e os pássaros da floresta ciscavam, bebiam e tomavam banho. Os sons que ele ouvia eram tão harmoniosos que ele não resistiu àquele chamado!
Começou a sentir a música em seu pensamento; a imaginar-se como um maestro. Recolheu do chão uma vareta a qual apontava para a corruíra, o curió, o sabiá, o rouxinol, o pintassilgo, o canário, o pica-pau, um de cada vez... Sob seu comando, a melodia vibrante era executada, ora pondo em destaque alguns trinados do uirapuru, ora na doçura de um coral, iluminando ainda mais a clareira. Naquele momento, encantado com tanta perfeição, decidiu que seria um músico e iria descrever o canto das aves e os sons da natureza.
Piuí! Piuííí! ― o que é isto? ― pensou... Era o som de um trem que vinha de longe e se aproximava, ficando cada vez mais forte, mais forte, mais forte e ― com aquele apito insistente ― acordou! Paulinho morava perto de uma ferrovia, mas essa já é outra história...
Nilza Azzi é escritora associada da regional paulista da AEILIJ
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