quinta-feira, 3 de novembro de 2011

SP: Vice-Versa de novembro de 2011

Amigos, 
O Vice-Versa de novembro apresenta os ilustradores da SIB: Pedro Lucente e Gilberto Marchi.
Um forte abraço a todos,
Regina Sormani


Pedro Lucente

Gilberto Marchi


Respostas de Pedro

1) Pedro, por quanto tempo você manteve estúdio em Portugal? Foi difícil para sobreviver lá trabalhando com publicidade?

R: O Estúdio "Universo 87" iniciou sua atividade após minha ida para Portugal,  em novembro de 1986. Foi uma idéia conjunta de brasileiros e portugueses para atender a uma demanda crescente de trabalhos terceirizados, por parte das agências de publicidade portuguesas.  No início, fornecíamos maquetes (layouts), story boards e artes finais (execução e, muitas vezes, criação).  Na década de 90 começamos a produzir slides shows comandado por computador. Participei da Universo até novembro de 1992, quando retornei ao Brasil. Enfim, foram 6 anos muito bem vividos com direito a prêmio dos Correios de Portugal pela melhor mala direta realizada para Citroen.
Foi tranqüilo para mim trabalhar em Portugal, naquela época.  Havia uma defasagem muito grande entre o mercado publicitário português e o brasileiro. Talvez umas duas décadas de diferença e esse fator foi determinante para a minha adaptação e para o sucesso da Universo 87 como estúdio de designer gráfico.

2) Seu pai fundou um jornal em Brotas e você continua a  publicá-lo. Fale um pouco sobre seus projetos.

R: Na verdade meu pai comprou o jornal O Progresso aos 26 anos de idade e lá esteve como diretor até 66 anos. Durante o período em que esteve enfermo e após seu falecimento, o jornal ficou por um tempo, arrendado para os antigos funcionários da gráfica e do jornal.
Quando retornei de Portugal minha irmã já tinha assumido o jornal como jornalista responsável. Já estabelecido em São Paulo, fiz um projeto gráfico para O Progresso que, até então era impresso em tipografia, ia entrar para era da informática. Fazia parte deste projeto uma página inteira dedicada ao humor:  cartuns, tiras e história em quadrinhos. Logo no início, esta página de humor batizada como¨Abobrinhas.com¨ fez sucesso e alavancou um aumento nas vendas de assinaturas e publicidade. Publicamos inclusive, tiras com o seu traço e argumentos da Regina Sormani, sua esposa: o fantástico Pecezinho, o pequeno corrupto.
Minha intenção é transformar esta página de humor num veículo de divulgação para o que há  de melhor no humor gráfico brasileiro. Um espaço aberto para ilustradores, cartunistas, caricaturistas, etc... Para  viabilizar isso, estou desenvolvendo um trabalho de prospecção para aumentar o número de anunciantes e com isso conseguir recursos financeiros para contratar os melhores profissionais da área. 

3) Sei que você gosta muito de aquarela e tem realizado bons trabalhos. Como foi sua 1ª exposição?

R: Sim, a aquarela sempre me atraiu pela leveza das cores, pela transparência, apesar de ser uma técnica de difícil execução.
O resultado da exposição foi bem satisfatório, consegui até vender alguns exemplares (rsrs)! Os trabalhos expostos foram executados nas aulas de aquarela ministradas por você, Gilberto Marchi.

4) Você tem alguma queixa com relação ao mercado  de trabalho do ilustrador? Se tiver, bote a boca no trombone!

R: Acho  que a ilustração está muito mal avaliada pelos atuais editores e diretores de arte.  A ilustração, seja ela editorial ou publicitária, deveria ser parte integrante de qualquer projeto gráfico, assim como é a fotografia. Acho que a ilustração no Brasil já teve dias melhores. Penso que: como é  um trabalho autoral, deveria ser mais valorizada e melhor remunerada. A história está aí para provar que ilustradores do mundo todo foram responsáveis por transformar cartazes, revistas, em verdadeiras obras de arte. O cartaz tem uma dívida impagável para com Toulouse Lautrec, assim como a revista New Yorker para com seus cartunistas.


Respostas de Marchi

1) Marchi, em que época você considera que a ilustração teve o seu melhor período no nosso país?

R: Nos anos 60 até meados de 80. Creio que esse foi realmente o período onde Jaime Cortez, Benicio, Getulio Delfin, Flavio Colin, Noguchi, Manuel Victor e Nico Rosso, entre outros, trabalharam muito. Eu, nos anos sessenta estava começando minha vida como pintor. Somente comecei a ilustrar em 1974.

2) Pergunta:  -  conte o milagre, mas não diga qual foi o santo:   Qual foi a ilustração que lhe deu maior trabalho devido a um "briefing" mal feito e que foi obrigado a refazer? 

R: Foi uma arte “meio besta” rsrs. Consistia em fazer  bolas de natal vermelhas. Inicialmente, me pediram para fazer  desenhos bem realistas. Passei o dia, varei a noite, só olhando para aquilo tudo em vermelho, tentando fazer os reflexos de uma bola na outra e assim por diante. Uma loucura!! Eram reflexos que não acabavam mais. Na manhã seguinte, olhei para fora e quando vi uma árvore, a cor verde parecia ser  luminosa. Fui tomar café e o café estava esverdeado. Em tudo que eu focava as cores ficavam alteradas. Minha visão estava sensibilizada de tanto olhar para o vermelho. Para encurtar, não terminei o trabalho no prazo e aí o diretor de arte me pediu:  - Faça bem solto! Não precisa ter reflexos. Aí ficou fácil. Em duas horas o trabalho ficou pronto.

3) Para um jovem ilustrador iniciante, qual seria sua orientação para que tenha sucesso em sua empreitada?

R: Estudar muito. Desenhar tudo que vê e imagina. Estudar o trabalho de mestres do passado e de hoje. Quando digo estudar é saber o período no qual a arte foi feita, o porquê e tentar descobrir como foi executada. Não sou afeito a cópias. Acho melhor analisar e depois tentar fazer um trabalho pessoal.

4) Neste momento de sua carreira, valeu a pena ser ilustrador no nosso país?

R: Valeu. Pela quantidade de trabalhos que fiz, mais de 5.000 artes editadas, os prêmios que ganhei e apesar da computação, ainda continuo a trabalhar com papel, tintas, telas, lápis, etc...Acho que foi bom, sim. Se estivesse em outro país, talvez minha carreira tivesse tomado outro rumo, quem sabe estaria rico, mas, não me arrependo de nada. Espero apenas que a ilustração volte a ser mais valorizada na publicidade, porque realmente no cenário atual esse setor está muito fraco e acho que os ilustradores poderiam dar uma contribuição valiosa, tanto na criação como na imagem.

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