domingo, 29 de janeiro de 2012

SP: Mensagem - A mentira

A MENTIRA

Simone Pedersen

Você nunca mentiu? Nunca, mesmo?

Conhecidas como mentiras brancas, os seres humanos criaram a estratégia para conviver em sociedade sem criar conflitos desnecessários. Não é fácil dizer a verdade sempre. Algumas vezes, não é viável. Somos tomados por um sentimento de dó, respeito, consideração e até medo. Eu fui assaltada à mão armada três vezes. Jamais diria ao ladrão o que eu realmente pensava sobre ele, naqueles instantes de forte emoção. E assim caminhamos. “Mas, é apenas uma criança”, “Coitado, é um idoso”, “Ela nem sabe o que está dizendo”. Criamos seres humanos cada vez piores.

Quem nunca observou uma criança e culpou os pais pelo seu comportamento mal-educado, egoísta ou soberbo? Alguns educam os filhos, outros criam monstros que acreditam ser melhores que os outros, mais íntegros, mais inteligentes e merecedores de aplausos a vida toda. Nem sempre a culpa é exclusiva dos pais. Cada um nasce com sua índole. O maior problema é que crianças crescem. O que era perdoável passa a ser inaceitável. Adultos acometidos pela fome do mal, se transformam em pessoas tristes e insatisfeitas; ao mesmo tempo em que se alimentam dos infortúnios de alguns, vivem famintos e nunca cessam a busca. Tornam-se pessoas decepcionadas com o mundo que não lhes proporciona o que acreditam ser seu por merecimento. Elas acreditam em uma auto-imagem criada e não percebem o quanto se denunciam a cada comentário.

Os mais espertos consideram que mentir é arriscado e criam uma meia verdade. São artistas da manipulação com palavras. Usam um fato real para criar uma farsa. Uma simples participação em um evento e já o citam como de sua iniciativa. Inflam a importância do que fazem de bom, como em um emprego que de fato existe, mas cujas responsabilidades são exageradas. São os mentores do que um grupo produz com qualidade. Comentam elogios recebidos. Algo deu errado? Ele não foi ouvido, claro! Se criticados têm a resposta na ponta da língua: inveja! Quando demitidos, a culpa é de alguém que puxou o tapete para derrubá-los - não para limpar a sujeira que escondiam embaixo dele-. Pessoas assim existem em todos os lugares, mas, na política e nas artes é onde mais as encontramos. Um operário que aperta parafusos não tem contato direto com o produto final. Preocupa-se mais com o preço do leite do que com a sua imagem pública.

Como Deus criou o mundo, alguns acreditam que, criando, são um pouco de Deus também. Culpa de todos nós. Criticamos pelas costas e permitimos que só elogios cheguem aos ouvidos, como se toda obra fosse divina. Na literatura, área que conheço mais, é comum vermos pessoas que confundem o escritor com sua obra. Como se palavras escritas fossem verdades.

Ninguém melhor que um político ou escritor para criar meias verdades. As palavras são nossas ferramentas. É muito fácil escrever ou falar sobre comportamentos éticos e honrados. Já li poemas lindos de detentos que se declaram inocentes e cometeram crimes hediondos, comprovadamente.
Ah! Provas, como gosto delas. São irmãs dos Fatos. Palavras? Bem...

A única verdade que existe nessa crônica é a seguinte: todo mundo mente, menos eu!


Simone Pedersen é escritora associada da AEILIJ paulista

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