quarta-feira, 27 de outubro de 2010

SP: Quintas (32)

SÃO PAULO DE TODOS OS DESTINOS

Mereces um brinde, campeã. Difícil andar nas tuas calçadas, quase não há mais espaços. É a economia informal.

Nunca se sabe ao certo quantos discos um cantor vendeu, pois a indústria não contabiliza a venda em camelôs. Os sulcos nos rostos dos que fazem a tua história são as marcas dos teus caminhos de carvão, diesel e néon. 

O Anhangabaú das tuas lavadeiras de outrora está lindo. As águas das tuas chuvas transbordam e as águas de março são os tons do Tom que partiu. 

Adoniran seria a palavra da tua saudade, quando os demônios cantavam na tua garoa. Mas, como a chuva renova a vida, a garoa se foi. E veio a poluição, e os teus poetas em silêncio. Alguns projetam sobre o concreto o laser azul da poesia que salpicas na insensatez da tua correria. Tua Light virou shopping, teu Municipal é lindo, tuas ferrovias, e vias teu carnaval deixando os salões... 

Hoje os jovens das tuas galerias partem para o Rio. O Festival chamado Rock in Rio foi a atração do teu primeiro janeiro do século. 

A periferia festeja noivados e batizados. Nos varais, o colorido do teu povo pobre e nas ruas a alegria se dissolve na poeira. Nas favelas os templos surgem e a fé se alastra em rezas e súplicas. Moços e velhos choram seus mortos e buscam esperanças nas nuvens, enquanto teus internautas procuram amigos virtuais. 

Neste janeiro não vi o teu índio Chiquinho dançando com as castanholas no calçadão da Piratininga, mas numa livraria folheei Mário de Andrade. São Paulo de tantos poetas, onde estás nas tardes que se fecham diante da Tv? 

Gosto de passear em ti quando é sábado de manhã, descobrir pouco a pouco um detalhe que não havia reparado, um restaurante, um sebo, uma ladeira, um edifício... 

Feliz aniversário, querida. Teus paralelepípedos têm a alma de cronista; tua catedral, teus namorados na Paulista, teus universitários, tua violência assustadora... 

Queria ser assim tão baiano que só quando cruza a Ipiranga com a São João e Santo Antonio e São Pedro e todos os santos ausentes nas tuas raras fogueiras, nas tuas juninas que se refugiam e sobrevivem nas quermesses... 

Eu te amo, mesmo que não tenhas a calma de uma Pindamonhangaba. São, São Paulo de Tom Zé, Parabéns! 

Você é o mundo inteiro. Basta se andar na tua Liberdade, na tua Bexiga, na tua São Miguel, pra se encontrar os teus japoneses, os teus italianos e os teus nordestinos. E saber que em Sampa, em Sampália, em São Paulo, se tecem todos os destinos.

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MARCIANO VASQUES 


Um comentário:

VELOSO29 de outubro de 2010 07:09
Adoro caminhar por seus escritos meu amigo!

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