ROSPO E O CORAÇÃO
—Estão os três amigos numa festa, quando o Rospo faz uma inesperada declaração.
—Sapabela, eu a amo do fundo do meu coração!
—Rospo, que surpresa!
—Está errado, Rospo.
—O que está errado, Doutor Aparecido Palestra ?
—Dizer que ama alguém do fundo do coração, pois amamos com o cérebro. O coração é apenas um músculo. É com o cérebro que sentimos...
Como a Sapabela demonstra estar impressionada com a intervenção do amigo cientista, Rospo decide enfrentar a argumentação.
—Errado nada, meu caro Doutor! As palavras nascem em universos específicos. Nascido no trovadorismo, o “amor que vem do coração”, tornou-se um símbolo universal aceito por todos os povos e épocas.
—Que interessante, Rospo...
—Tem a ver com o pulsar da vida, Sapa.
—Fale mais.
—O coração, para a ciência, é apenas um órgão, mas no universo literário & poético é o símbolo universal do amor. Seria esquisito se o romantismo tivesse escolhido outro órgão. Creio que não soaria bem alguém dizer que ama alguém do fundo dos seus rins ou do fundo do seu fígado.
—Ou do fundo do seu cérebro!- arremata a Sapabela.
- E então, meu caro doutor Aparecido Palestra, satisfeito?
—Você tem razão, meu jovem amigo, eu sou especialista no universo cientifico, mas desconheço os motivos do universo poético.
—Mas eu fiquei curiosa com uma coisa, Rospo...
—O que foi, Sapabela?
—Que história é essa de “Amo você do fundo do meu coração!”?
—É...bem...er..hã...
— Explique, meu amigo, a palavra é toda sua.
—O coração está pulsando muito rápido, Doutor...
—Eis aí um momento em que os dois universos se cruzam.
MARCIANO VASQUES
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