A hora de dizer “adeus”
Simone Pedersen
Há momentos na vida em que é hora de ir embora. Quando visitamos alguém que começa a bocejar; quando, no hospital, a enfermeira entra para dar banho no paciente; quando o vizinho começa a gritar palavrões... Momentos em que, se não sairmos, seremos inoportunos e criaremos um desgaste desnecessário.
Há momentos na vida em que é hora de ir embora, porque não estamos mais presentes fisicamente, mesmo que sentados no mesmo sofá. Em uma casa, há momentos em que temos que ir embora do cômodo e deixar a pessoa discutindo sozinha. No trabalho, pode chegar a hora de procurar outro emprego e deixar a carta de adeusmissão. Na escola, chega a hora, talvez, de dizer adeus a um curso e seguir outro. Na vida, há momentos de despedir-se de um caminho e reiniciar outro, sem olhar para trás.
Às vezes, temos que dizer adeus ao dia cinzento para reencontrarmos esperanças no amanhã. Temos que dizer adeus à noite de pesadelos para reencontrarmos os sonhos no amanhã. Nos relacionamentos, há momentos de dizermos adeus porque fazemos mais mal que bem. Nas ilusões, há momentos de nos afastarmos para enxergar a realidade. Na dor, há momentos de sofrê-la calado, para que o outro sofra um pouco menos.
Há também momentos na vida de dizermos não, de recusarmos convites, pois sabemos que são ocos. Há momentos na vida em que temos que preencher nossos vazios somente com nossos vazios, temos que permitir que o outro diga olá para alguém que possa oferecer mais que ausências e presenças vazias.
Há momentos na vida em que temos que dizer adeus como o sol se despede do dia, enfraquecendo as cores até sobrar apenas a escuridão. Há momentos na vida em que palavras não precisam ser ditas, nem mesmo “adeus”, pois já a escutamos em nossos corações. Há momentos na vida em que temos que dar a outra face, ouvir adeus duas vezes. Há momentos na vida em que é hora de dizer amém.
Simone Pedersen é escritora associada da regional paulista da AEILIJ
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