Caros leitores!
Na continuação de A HISTÓRIA DE HEITOR, da escritora Nilza Azzi, segue o segundo capítulo.
Um abraço da Regina Sormani
A história de Heitor
Capítulo II
Mais uma lua se passou. Os filhotes já se aventuravam até a entrada da gruta, curiosos por novas descobertas.
Lorena, porém os disciplinava, agarrava-os com os dentes pelo cangote e os trazia para perto dela. Havia alguns nacos de caça para os filhotes, que Mercúrio havia deixado no chão, no meio da gruta.
Foi coisa de uma pequena distração; enquanto Hiran e Horácio comiam sossegados, do outro lado, Lorena viu Heitor e um filhote de javali cobiçando o mesmo pedaço de carne. O filhote desgarrado estava com o bando que viera até o rio para refrescar-se. Heitor estava zangado e prestes a brigar, mas a loba não queria confusão na gruta, com seus três filhotes.
Então, apenas foi chegando perto, pata ante pata, até que o intruso, amedrontado saiu correndo.
– Ufa! Essa foi por um triz! – pensou Lorena.
Depois de duas luas, os filhotes começaram a sair e acompanhar as excursões pelas redondezas. Eles eram muito brincalhões; corriam, rolavam no capim, provocavam os irmãos, distraíam-se com tudo que havia pelo caminho.
Por essa época, Samantha, a sucuri, estava com fome e da árvore onde estava, espreitava qualquer movimento. Os lobinhos eram presas fáceis, distraídos enquanto brincavam ainda indefesos.
Apesar de acompanharem os pais, procuravam esconder-se, não saíam para o descampado.
Naquela manhã, Samantha achou que podia conseguir alguma caça e deslizou vagarosamente para o chão. Todos estavam bem perto do rio, pois o tempo estava seco e quente.
Heitor viu uma carreira de formigas cortadeiras e começou a acompanhar seu movimento.
Elas carregavam pedacinhos de capim; paravam, trocavam cheiros, sinais, e continuavam seu caminho para o cupim, ali perto. Com isso, pela primeira vez, ele distanciou-se perigosamente da proteção de Lorena. E foi indo... foi indo... foi indo cada vez mais para perto do rio – e de Samantha.
Ocupada em procurar frutas para comer e ensinar aos filhotes como reconhecê-las, a loba não notou a peraltice de Heitor.
A sucuri estava cada vez mais perto de Heitor. As formigas começaram a entrar pelo oco de um tronco e Heitor subiu nele para observá-las melhor. O tronco rolou um pouco, mas ele não ligou
equilibrou-se e continuou ali apoiando as patinhas com esforço.
De longe, Lorena viu o que ia acontecer. Samantha estava pronta para o ataque. Lorena correu, mas não deu tempo.
Heitor perdeu o equilíbrio e antes que Samantha pudesse enlaçá-lo, o tronco rolou, junto com Heitor que cravara as unhas para agarrar-se, e caiu no rio, foi descendo com a correnteza, rio abaixo, levando o filhote assustado. Com a aproximação de Lorena, a sucuri esgueirou-se, sinuosamente pelo capim...
Por sorte, o rio ali era raso. Logo adiante havia uma curva e Heitor conseguiu pular para a margem.
Lorena logo chegou, para colocar ordem e mandar o filhote com as orelhas baixas e o rabo entre as pernas, de volta para o lugar onde estavam os outros lobinhos
– Que dia! – disse Lorena quando encontrou Mercúrio.
Nilza Azzi
Apoio teórico:
Fernando Magnani - Biólogo
Diretor do Parque Ecológico de São Carlos / SP
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