Os mistérios do universo
Simone Pedersen
Certas manhãs, acordamos e o dia não amanhece para nós. Vemos pessoas passando, ouvimos cães latindo, mas não nos enxergamos refletidos no espelho. Nossa alma está em outro lugar, conversando com filósofos na Grécia, interpelando anjos, buscando respostas que não existem. Essa sensação de viver sem o pulsar do coração é causada por alguma dor que nos arrebata subitamente, ou que vem pouco a pouco se instalando em nosso peito até que chega um momento que não conseguimos mais sorrir. Seguimos adiante, sem certeza de que o caminho escolhido foi o correto. Nessas horas, despedaçados, tentamos encontrar um ponto de equilíbrio para que o vento não leve pouco a pouco todos os fragmentos do que fomos um dia. Muitos procuram o equilíbrio na família, outros no trabalho, religião ou amigos. E tantos outros se perdem mais ainda buscando respostas nas drogas que os fazem voar mais alto que as nuvens e cair mais rápido que um raio. Seja qual for o caso, o futuro parece cada vez mais distante, as realizações impossíveis e os projetos nada mais que tolas ilusões. É a vida. A vida forte, surpreendente, devastadora. A vida de cada um de nós, com suas celebrações felizes e histórias tristes. A vida que, esquecida sob as cinzas, decide levantar-se. Nada consegue domá-la, por mais que tentemos. A força da vida é tão poderosa que destrói todos os sonhos de uma pessoa em um único momento. Pode ser a notícia de uma doença incurável, de um vício incontrolável ou da passagem de uma pessoa amada. Mas nada nos afeta mais do que o fato de sermos nós os responsáveis pelo sofrimento de alguém. Sentimos que os anjos olham em outra direção, que diminuímos de tamanho, que até nossa alma se recusa a nos visitar. Pois, se a vida não é controlável, nossos atos e suas consequências são. Pedir perdão é necessário, mas não apaga as marcas que deixamos. Temos que encontrar uma forma de continuar o nosso caminho. Mesmo que surja uma cicatriz que lateja cada vez que nos olhamos no espelho. Somos limitados pela nossa própria humanidade. E nossa humanidade é mais assustadora do que a própria vida e sua imprevisibilidade. Contudo, o passado necessita de repouso. Não podemos carregá-lo pelo resto da vida. Imperfeitos que somos, só nos resta enterrar os erros e focar nos acertos, cada vez mais atentos para não esquecer o que com ambos aprendemos. Nada na vida acontece por acaso. Somos testados o tempo todo. Pessoas e situações cruzam nossas estradas constantemente. Enxergamos a vida e as pessoas como gostaríamos que fossem. Enxergamos a nossa vida e nós mesmos como gostaríamos que fôssemos. Humanidade, vida e realidade: eis os grandes mistérios do universo.
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