quinta-feira, 7 de junho de 2012

SP: Quintas (62)

A NECESSIDADE IMPERDÍVEL


A revolta dos guarda-chuvas? O trem chegou atrasado? Meninos, o trem! Se não há encanto nos olhos de encharcar é porque a época tem um toque de tristeza que não pode ser desprezado. Comecei esta “Quinta”, com livros de Sidonio Muralha, um dos mais fecundos poetas para crianças. Dedicou sua vida apaixonante à literatura infantil. Nasceu em Lisboa e viveu aqui no Brasil.
Recentemente perguntei a uma menina de nove anos, se ela conhecia um poema de Cecília Meireles. “Quem é essa?”, perguntou a pequena, que aprende com uma velocidade estonteante tudo no celular. Jamais irei alcançar em destreza tecnológica essa nova geração. E lá vem Orkut, (quem ainda não se lembra?) e lá vai algo que no horizonte nos aponta um pedido de pausa.
Cecília? Nasceu no Rio de Janeiro, e foi criada por uma avó que cantarolava tudo que era cantiga, e recitava ditados populares, e parlendava o dia inteiro. Foi com ela que a menina aprendeu que “a vida é um conto que acontece”.
Crianças, não se sabe direito ainda se a vida é “Ou isto ou aquilo”.
Bartolomeu Campos de Queirós, é tanta felicidade, menina, que só caberia mesmo num poema.
Num circo! Onde mais? Onde mais? Vá buscar seu coração na poeira da tarde, vá nos capinzais, nas teias orvalhadas refletindo gotículas de arco-íris, vá nas páginas de um livro. Um livro? É, nos sonetos e versos de Carlos Drummond de Andrade. “Só fala de gente que não conheço!”.
Veja, no caminho da escola tem um mundo, tem um mundo.
Acredito, e só acredito, eu, que aqui escrevo, numa educação poética, de encantar meninas e meninos. Não tem mais espaço para tal coisa? A realidade agora é sinônimo de velocidade, será que não percebo?
Fast Food. O cinema não diz, não traduz. Os professores poderiam causar a revolução essencial. Mais isso não acontece, então, precisamos repensar tudo. Isso não acontece, mas é bom saber que tem muitos professores com a alma repleta de poesia, minha pequena.
Tem gente escrevendo em Portugal para crianças, tem na América Latina, tem em todos os lugares do mundo, e aqui também, naturalmente. Temos poetas, e dos bons, aos montes, menina, temos sim, meninos. A vida é uma doce caminhada na calçada, criança, a vida é Quintana, é mesmo, é um doce de Cora Coralina. Quando a poesia infantil adentrar de vez na sala de aula, o coração de giz irá se expandir de tal forma, que só quem for criança ou tiver o olhar repleto de espantos, irá sorrir um sorriso de pedrinhas de brilhantes.
Se alguém não souber por onde anda a poesia infantil, é só procurar, e ela se abrirá em mil girassóis. Poesia infantil não brinca de esconde-esconde. Ela está sempre onde uma criança estiver.

Marciano Vasques


Um comentário:

Regina Sormani9 de junho de 2012 12:58
Marciano, aquilo que vc falou a respeito da poesia infantil, foi, realmente, muito oportuno e feliz. Adorei!!

Bj da Regina

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