FELIZ TRANSLAÇÃO
Que o mundo e o universo são feitos de maravilhas não há dúvidas, mas assim como não há dúvidas por ter o tempo de duvidar já passado, parece que também não há perplexidades. Talvez elas estejam engatilhadas para os efeitos especiais do cinema, por exemplo, o mais notável entre os criados pela inteligência e "sensibilidade técnica" do homem, se posso assim dizer.
Tudo ou quase tudo que era e foi novidade mereceu de cada ser um instante que fosse de perplexidades, de encanto, e de espanto. Hoje isso não cabe na alma, diria. Então, voltar os olhos para o universo com suas maravilhas é perda de tempo, num mais afoito e generalizado arrisco. Mas tudo está aí e lá, como sempre esteve. E uma delas merece um pouco de atenção, pelo menos aqui. A translação.
Se pudéssemos cada um fazer uma retirada do cotidiano, uma suspensão dos nossos estares e fazeres, como se atendêssemos ao badalo do alto de uma torre ou ao audacioso convite de um vendaval, se pudéssemos estar suspenso além e fora do conteúdo vulgar e rasteiro de vidas sem autenticidade ou envolvidas com cartões e excesso de "Não", a tal ponto de supor, como deveríamos, que coisas tão preciosas como o próprio tempo ainda haverão de ser parceladas no crédito, se pudéssemos nos ausentar por instantes que sejam das mentiras oficiais, poderíamos então nos encantar de forma autêntica com uma das maravilhas que nos rodeiam e estão a nos piscar, e atenderíamos ao seu chamamento.
A translação, já pronunciada um pouco acima. Todos no cotidiano, uns, claro, envolvidos com lutas imensas e sonhares intensos, e outros desperdiçando o tempo e seus tesouros... Muitos emaranhados em suas próprias intrigas e desperdiçando gargalhadas e o riso autêntico com deboches e piadas vulgares.
Alguns, a maioria eu diria, menosprezando a grandeza interior e escorrendo num labirinto insensato que carrega ladeira abaixo o melhor do melhor de cada ser.
Mas a translação está aí, diante de nós, em nós. O planeta, o mundo girando ao redor do astro-rei, e completando a sua translação num dia convencional, o dia 31 de Dezembro, quando novo ano surge, e o ciclo se renova.
O que é um novo ano? Alguns dizem: é apenas a mudança de calendários. Não é. É bem mais do que isso. É o fechamento de um ciclo, de uma translação, e o início de outra, e assim como a vida há de se renovar, pois teremos as estações novamente a nos guiar, também em nós ela estará a se renovar, e isso não pode nem deveria jamais ser menosprezada. Estamos vivos. E teremos em nossos corações, em nosso ser, a oportunidade única e rara de uma nova translação.
E como somos seres dotados de inteligência, capacidade de razão humanista e de sentimentos, deveremos sim acreditar e apostar que um novo outono virá com todo o seu esplendor e suas flores, as flores de outono que são únicas; que o manto do Natal irá sim descer sobre a Terra e instalar no coração do homem a Poesia e a sua extraordinária força.
Deveremos sim naturalmente viver a nova translação, com força, com coragem, com audácia e com riso, mas não um raso riso, porém uma risada que há de se espalhar como roseiral sincero pelos deselegantes concretos da cidade e cismar e fuçar nos corações agrestes e rústicos, secos e vazios, descrentes e apáticos.
Um novo ano aporta nos portos de cada vida. E no vento flui, veleja o afago sincero, a sussurrar confiante: "Feliz nova translação!". Devemos apurar os ouvidos da alma, e ativar o olhar do encanto.
Estaremos a clamar por conversas com versos e sorriso de criança guiando as nossas esperanças. Sim, florescerá em nós a translação autêntica organizada pelos girassóis da sinceridade e dos mais genuínos quereres.
MARCIANO VASQUES
2 comentários:
rafael25 de dezembro de 2010 03:20
Marciano meu amigo que que texto maravilhoso para abrir um novo ciclo que se inicia uma nova translação um novo começo! Parabens um Feliz Natal e um 2011 Dez!
VELOSO25 de dezembro de 2010 03:24
Desculpe nossa falha o comentário saiu com o nome do meu filho! Fica com Deus e obrigado pelo carinho em 2011 vamos caminhar juntos de novo!
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